A Dama de Negro. Barbara Cartland
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Barbara Cartland
Barbara Cartland Ebooks Ltd
Esta Edição © 2016
Título Original: “Fire in the Blood”
Direitos Reservados - Cartland Promotions 2016
Capa & Design Gráfico M-Y Books
CAPÍTULO I ~ 1898
Sibele colocou um bouquet sobre a sepultura de seu pai e reparou que o frio de dezembro já estragara as flores do dia anterior.
Não que houvessem muitas, apenas pequenos ramalhetes de rosas silvestres postos ali pelas pessoas da aldeia, uma coroa de crisântemos brancos, homenagem do pastor, e outra de crisântemos amarelos do médico que cuidara de seu pai até a morte.
Aquele não era um reconhecimento à altura de um homem que fora a própria fonte de inspiração e criatividade.
«É, ninguém mais parece se interessar pelas palavras de um sábio com dotes intelectuais acima da média», pensou ela ceticamente.
Sibele amara muito seu pai e o achara bonito até mesmo depois de ter sido levado pela morte.
Entendia perfeitamente a coragem de sua mãe ao fugir com ele, arcando não só com a indignação da família inteira, como também com o completo esquecimento a que foram submetidos pelo resto da vida.
Seus pais tinham sido muito felizes e o único consolo de Sibele era acreditar fervorosamente que agora os dois estavam juntos de novo e que nada mais os separaria.
Mesmo assim, só conseguia sentir um terrível vazio no coração, quando saiu do cemitério e caminhou lentamente para a casa nos arredores da aldeia, onde morava desde que nascera.
Os sentimentos e as recordações que a envolviam naquele momento eram tão intensos que, ao abrir a porta da frente, teve a impressão de ouvir o riso de seus pais vindo do escritório e de ver uma garota idêntica a ela saindo da sala de estar.
Só de pensar em Selene, o que raramente fazia, Sibele ficava infeliz e magoada.
Chegara a acreditar que sua irmã gêmea viesse ao enterro do pai, mas condmu que tinha realmente alimentado uma esperança ridícula.
Sibele tirou dos ombros a capa pesada e foi direto para o escritório, o menor cômodo do andar térreo da casa, e o mais aquecido também. Como esperava, Beth acendera a lareira, enquanto estava no cemitério.
Beth era a pessoa que cuidara das gêmeas desde que tinham nascido e todos na casa a chamavam de “Bá”.
As sombras e as luzes das chamas da lareira dançavam sobre a velha poltrona de couro onde seu pai costumava sentar. Por um momento, Sibele pensou tê-lo visto ali. Mas, em seguida, concluiu que quando alguém está desolado pela perda de um ente querido sempre tem visões, e ela era uma pessoa muito sensível.
Tão logo se esquentasse um pouco, começaria a copiar, com sua letra impecável e elegante, as últimas traduções do grego que seu pai tinha feito antes de adoecer.
Estava torcendo para que o editor, que já aceitara dois outros manuscritos de seu pai, também gostasse daquele.
Mesmo assim, sabia que renderia pouco dinheiro. Porém, Sibele achava que seu pai ficaria satisfeito em saber que havia mais um pequeno volume do seu trabalho pronto para o público, se é que este se interessava o suficiente a ponto de comprá-lo.
«Por que será que o trabalho de papai, que é tão emocionante e envolvente, não é comerciável, enquanto outras obras de valor duvidoso têm grande saída?», pensou.
Como conhecia a resposta muito bem, Sibele começou a rir.
—Pelo menos, papai sempre teve a certeza de que mamãe e eu apreciávamos tudo o que ele escrevia— disse em voz alta—, talvez um dia seja reconhecido como um grande escritor.
Durante toda a sua vida Sibele sempre alimentara essa fantasia, imaginando que, de repente, seu pai ficaria famoso da noite para o dia, como lord Byron.
Então, as pessoas correriam para a aldeia onde morava para dizer da profunda admiração que sentiam pelo seu pai e quem sabe lhe oferecessem um cargo em uma universidade.
Mas, essa fantasia nunca se tornara realidade, e seu pai continuava desconhecido. Os livros que escrevia não despertavam entusiasmo e da parte do editor havia tanta indiferença, que seria menos doloroso se elé lhe dissesse de uma vez que não queria mais nenhuma obra.
A quantia de dinheiro que os livros rendiam era mínima e Sibele pensava que talvez tivessem morrido de fome, se não fosse a pequena herança de sua mãe, deixada para as filhas gêmeas antes de morrer.
De certa forma, era uma sorte Selene ter desprezado sua parte, indo embora de casa dois dias depois da morte de sua mãe.
Ainda agora, depois de três anos de absoluto silêncio de Selene, Sibele ficava espantada ao pensar que sua irmã gêmea tinha partido, sem nem sequer se despedir, deixando apenas um bilhete.
A expressão de tristeza e desgosto do rosto de seu pai ainda continuava tão viva em sua lembrança, como se tivesse sido marcada a fogo.
Ainda sentia também o terrível vazio que a dominara ao ler o que Selene havia escrito:
“Vou procurar os parentes de mamãe e pedir para morar com eles.
Não suporto mais esta aldeia horrorosa e a pobreza em que vivemos.
Não me procurem, por favor. Minha decisão está tomada e não desistirei dela
por nada neste mundo.
Selene.”
Só isso! Nenhuma palavra de afeto, nenhum vestígio de tristeza pelo pai que sempre a amara ou pela irmã que, até aquele momento, acreditava serem inseparáveis.
Na verdade, Selene, nunca em sua vida gostara da família, foi o que Sibele veio a compreender com o tempo, amargurada.
Pensava que Selene e ela fossem tão unidas que ficariam desesperadas uma sem a outra, e sempre acreditara que os gêmeos eram diferentes das outras pessoas.
Como as duas eram mesmo idênticas, a ponto de ninguém conseguir identificá-las, foi duro Sibele encarar a realidade e aceitar que a semelhança entre elas era apenas física.
Ela sabia que a irmã era ambiciosa, e que se aborrecia com a vida pacata que levavam por não terem dinheiro.
Quando ficavam sozinhas, Selene sempre se queixava:
—Como mamãe pôde ter sido tão ingênua a ponto de fugir de casa e abandonar a vida de luxo e riqueza que tinha, para viver nessa miséria?
—Ela se apaixonou por papai.
—Mas ele não passava de um simples professor, recebendo verdadeiras esmolas para dar aula aos irmãos dela!
—Papai vem de uma família nobre da Hungria— argumentava Sibele—, a família dele pode não ser rica, mas seu sangue é azul, se é isso o que a interessa.
—Como poderia me interessar? Não é nenhum consolo pensar que mamãe jogou fora toda sua riqueza por sangue azul húngaro muito inferior ao dela!
—Não fale assim, Selene!— Sibele sempre ficava chocada com as opiniões da irmã—. Ê muita injustiça com papai, que é tão inteligente. Seus textos e traduções do grego são brilhantes!
—Quem pensa assim, além de você e mamãe?— Selene encolhia os ombros e a discussão terminava.
Selene falava com a voz cheia de sarcasmo e Sibele pensava que ela desprezava sua mãe, pois aos olhos dela, a mãe tomara uma atitude errada que afetara a vida de todos.
Quando o pai não estava presente, costumavam pedir para a mãe falar sobre a época em que morava numa imensa e luxuosa