A Deusa Do Oriente. Barbara Cartland
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A Deusa do Oriente
Barbara Cartland
Barbara Cartland Ebooks Ltd
Esta Edição © 2014
Título Original: “Terror in the Sun”
Direitos Reservados - Cartland Promotions 2014
Capa & Design Gráfico M-Y Books
Nota da Autora
No primeiro dia do ano de 1833, William Sleeman, um dos grandes nomes da história da colonização inglesa na Índia, empreendeu uma inspeção oficial dos territórios por ele administrados, carregado em um palanquim precedido por elefantes ricamente enfeitados e escoltado, como sempre, por inúmeros criados e pela cavalaria garbosamente uniformizada. Em sua companhia, encontrava-se sua esposa Amelie, grávida de nove meses. Seis dias depois de partirem da cidade de Sagar, ela começou a sentir as dores do parto. Acamparam em um lugar cheio de limoeiros e pimenteiras e que há várias gerações era conhecido como um bele, isto é, um esconderijo dos Thugs , praticantes de uma seita de fanáticos adoradores da deusa Kali. Era neste local que os fanáticos costumavam estrangular, com um lenço de seda amarelo, viajantes incautos e depois enterrar seus corpos, em honra de Kali, a deusa assassina.
Foi nesse lugar, de tão sombria tradição, que o filho de William Sleeman nasceu.
A nossa história situa-se nesses perigosos tempos da Índia e muitos de seus personagens existiram realmente, como sir William Sleeman, sua mulher e filho.
CAPÍTULO I
1832
–Apraz ao sahib Major conceder sua permissão para que o trem parta?
O indiano, chefe da estação, exprimia-se com respeito. Ao mesmo tempo em que falava, olhava por cima dos ombros para a confusão que se desenrolava naquele momento na plataforma.
Momentos de enorme excitação haviam precedido a chegada do trem, o qual, recém-introduzido na Índia, era tido como um dragão terrível, que expelia fogo pelas ventas.
Indianos revestidos de dholis, saris, trapos e panos que caíam cintura abaixo encontravam-se em um estado muito próximo da histeria coletiva. Vendedores que apregoavam seus produtos com vozes superagudas espiavam através das janelas dos vagões superlotados e, com uma expressão de súplica no olhar, ofereciam chipattis, doces coloridos, laranjas e bebidas avermelhadas.
Monges, ostentando trajes amarelos, soldados em uniformes escarlates, carregadores com pesadas bagagens acotovelavam-se em meio à confusão geral.
Havia os inevitáveis adeuses apaixonados e recomendações feitas, quase aos berros, àqueles que viajavam, por parte de quem ficava e acreditava que os passageiros iriam arriscar suas vidas no bojo daquele monstro perigoso.
O Major Iain Huntley contemplava vários homens reunidos em torno de uma pilha de bagagem, possuído da firme convicção de que eles se encontravam ali com o único propósito de armar alguma confusão.
No momento em que o chefe da estação afastou-se dele, desdobrando sua bandeirola vermelha, o pandemônio explodiu.
Os indianos começaram todos a correr, aos gritos e aos berros, abanando os braços e sacudindo seus bastões. Quase como em um passe de mágica, numerosos soldados apareceram empunhando seus mosqueteiros, deslocando-se rapidamente a fim de conter a multidão ameaçadora.
Eles eram poucos, em comparação com os baderneiros que, dispostos a armar a maior confusão, perturbavam e empurravam as famílias que não iriam viajar naquele trem e estavam sentadas ou dormindo na plataforma, ao lado de seus bens, os quais, na maior parte, consistiam em frágeis pacotes amarrados com corda. Cada família possuía numerosas crianças, além das inevitáveis cabras.
Toda aquela confusão tomou-os de surpresa e puseram-se a gritar, em meio ao choro generalizado das crianças e aos balidos dos animais, o que aumentou consideravelmente o tumulto.
Os chipatti, voavam em todas as direções, os recipientes de vidro que continham as bebidas coloridas estilhaçavam-se no chão e um bode livrou-se do laço que o prendia e saiu em carreira desabalada plataforma afora, perseguido de perto por seu desesperado dono.
Possuído de uma sensação de alívio, o Major Huntley achou que os soldados seriam perfeitamente capazes de controlar a situação assim que o trem partisse e andou sem pressa em direção á sua cabine, onde se encontrava seu criado ao lado da porta aberta, esperando por ele.
As rodas começavam a girar e o vapor e o resfolegar da máquina, superavam qualquer outro barulho.
A enorme locomotiva, fabricada na Inglaterra, parecia sobrepor-se a tudo e a todos.
Quando estava para chegar á cabine, notou, para sua grande surpresa, que a porta do vagão se abria e uma mulher vestida de branco descia para a plataforma.
Certificou-se imediatamente, com a rapidez de um homem habituado ao inesperado, que ela pretendia socorrer uma criança que, empurrada por aqueles que haviam armado toda aquela confusão, estava caída na plataforma, sem ninguém que a socorresse e na iminência de ser pisoteada pela pequena multidão. Apesar de muito pequena, chorava a plenos pulmões.
Um segundo antes que os braços da desconhecida pudessem pegá-la, o Major Huntley agarrou a mulher pela cintura e colocou-a à força no vagão.
O trem começava a deslocar-se com velocidade cada vez maior e como ele não tinha tempo de entrar em seu próprio vagão, seguiu a desconhecida, trancando imediatamente a porta.
Olhou para a plataforma que ficava para trás e viu dezenas de punhos levantados e gritos irados dos baderneiros, que pareciam um bando de chacais a quem a presa acabava de ser roubada.
A velocidade aumentava cada vez mais e a estação já se perdia de vista. O Major Huntley, voltou-se para contemplar a mulher que ele tinha empurrado para dentro do vagão sem a menor cerimônia.
Para sua grande surpresa ela era jovem e excecionalmente bela.
Havia retirado o chapéu e seus cabelos negros emolduravam um rosto muito alvo. Seus olhos, grandes, escuros, porém pontilhados de dourado, olhavam-no carregados de cólera.
–Graças á sua interferência– comentou com rispidez–, aquela criança, sem a menor duvida, será morta!
–Quem é a senhora e o que está fazendo aqui?– perguntou sem maiores rodeios.
Sentou-se e olhou à sua volta, com uma expressão incrédula no olhar, como se esperasse descobrir alguém na cabine, fazendo-lhe companhia.
Notou, porém, que ela estava vazia. Voltou-se para a desconhecida e antes que ela pudesse responder sua primeira pergunta, indagou:
–Quem foi que a colocou neste trem? Não tinham o menor direito de fazer uma coisa destas!
–Parece-me que qualquer pessoa tem o direito de viajar de trem, contanto que disponha de meios para comprar a passagem!
–Mas não especificamente neste trem, que se dirige para Sagar .
–Sim, eu sei e é para lá que quero ir.
–Para Sagar ?
Ela, que era pouco mais do que uma garota, levantou-se.
–Será que o senhor tem alguma autoridade para me interrogar?
–Autoridade plena– retrucou o Major Huntley com firmeza–, dei ordens no sentido de que nenhum europeu viajasse para Sagar que, no momento, é área proibida.
–Por quê?
A pergunta exigia resposta, mas ele retrucou um tanto evasivamente:
–Por razões oficiais. A senhorita ainda não respondeu minha pergunta.
Enquanto falava, adivinhou que ela não tinha a menor