Fantasmas, Garotas E Outras Aparições. Stephen Goldin
Читать онлайн книгу.depois de um tempo, Jeff. Mas aqui não. A cidade me quer, ela precisa de mim. Foi construída para servir às pessoas, para dar a elas o que elas desejam. Ela só quer ajudar. É assim tão ruim?
— Sim, é - se ela pode fazer o que fez com você.
Bael estava lutando para recuperar seu autocontrole. — Não resista, Jeff. Esse é só um aviso amigável. A cidade pode se proteger contra você com bastante facilidade. Pode te dar seus sonhos, claro; mas pesadelos são sonhos também. Não acho que você possa lutar contra todos os seus pesadelos de uma só vez. — Bael se virou e foi embora.
Ryan ficou lá parado e viu-o indo. Mesmo depois do desertor desaparecer atrás de um dos edifícios, Ryan ficou parado, imóvel. Bael estava só ameaçando, ou a cidade podia desenterrar pesadelos também assim como sonhos? Ele estava inclinado a acreditar na última opção. Novamente, ele pensou em quão real que Dorothy tinha sido e estremeceu. Ele não tinha quaisquer pesadelos por um longo tempo, mas mesmo assim... mesmo assim.
Ele pegou o comunicador do bolso e fez outra chamada para Java-10. — Por que você não respondeu a última chamada?— Foi a resposta imediata da nave.
Vagamente, Ryan recordou o zumbido que tinha vindo da unidade durante seu interlúdio com Dorothy. — Me... Me desculpe — ele gaguejou. Então, como uma criança culpada enfrentando um pai severo e que sabia da verdade, ele se percebeu deixando escapar detalhes sobre tudo que aconteceu desde a última vez que falou com a nave.
Java-10 ouviu desapaixonadamente todas as suas revelações. — Você abandonou seus deveres durante aquele flerte — a máquina o repreendeu depois que ele terminou.
— Eu sei. Não deixarei isso acontecer de novo.
— Muito bem. Mas isso não exclui o fato de ter acontecido pela primeira vez. — Então a máquina mudou para outro assunto inteiramente. — Um quadro coerente do funcionamento desta cidade está começando a emergir. Aparentemente há um poder automático ou poderes atuando nos bastidores e consciente do que está acontecendo. Parece razoável assumir que esse poder controlador possui algum tipo de habilidades telepáticas, o que o capacita descobrir seus desejos e projetar ilusões na sua mente.
— Deve haver algo a mais, mais além. A cadeira que eu sentei era real. Ela apoiou meu peso. A garota também era real. Definitivamente não eram ilusões.
Java-10 hesitou. Então: — Pode também ser apropriado postular que há um sistema de transformação de matéria-energia, permitindo assim o poder operando a cidade ser capaz de criar matéria na forma que bem entende. Todas estas conclusões provisórias pressupõem uma quantidade incrível de sofisticação técnica por parte dos construtores da cidade. Agora me parece imperativo que descobrimos o segredo da cidade.
— Deve haver uma área central de controle, um lugar onde residem as funções superiores do cérebro da cidade. Você deve procurar esta área e incapacitá-la sem destruí-la, para que assim possa ser estudado em segurança.
— Mas como posso fazer isso?— Ryan protestou.
— Não há dados suficientes neste momento para responder a essa pergunta — respondeu Java-10. — Você deve primeiramente descobrir mais sobre este sistema.
— Pode ser perigoso. — Ryan repetiu a ameaça de Bael sobre os pesadelos. — Você não poderia mandar mais alguns homens aqui embaixo para me ajudar?
A resposta foi imediata e cruel em sua franqueza. — Não. Se um homem não pode fazer isso, então, as probabilidades estão contra qualquer grupo de poder. Se a cidade te tomar, ela vai tomar qualquer outra pessoa que mandarmos para baixo. Arriscar outras vidas é algo que não podemos. Se você falhar, a cidade deve ser destruída, não importa o quão valiosa. — E, sem mesmo desejá-lo boa sorte, Java-10 desligou.
***
Agora já era final de tarde. A estrela vermelha que servia como sol para este mundo estava se pondo, tornando-se em uma bola inchada de sangue enquanto se aproximava do horizonte. Sua luz mudou a coloração de toda a cidade e os edifícios refletiram os tons macabros com uma sensação de estranho prazer juntamente com maus pressentimentos. A brisa constante agora tinha um pouco de frio, e Ryan, em pé a céu aberto, estremeceu involuntariamente.
Ele não tinha comido nada desde o café da manhã, e estava ficando com bastante fome após as atividades incomuns do dia. Ele foi em busca de uma ração no seu kit de sobrevivência
e notou, em um lado, uma grande mesa aparentemente posta para um homem rico. Os aromas mistos e agradáveis de presunto cozido, frango frito, lagosta grelhada e bife assado assaltaram suas narinas. Além desses pratos, ele podia ver purê de batata com manteiga, ervilhas e
— Não! — Ele disse em voz alta. — Não, você não vai fazer isso comigo de novo. Você me pegou uma vez, mas não vou ser enganado mais. — Ele começou a se afastar da mesa.
A mesa, de rodinhas, o seguiu.
— Desta vez não — reiterou. Ele pegou uma lata de ração fechada e a balançou no ar. — Eu tenho minha própria comida, desta vez. Pode não ser tão apetitosa quanto a sua, mas pelo menos não tem qualquer compromisso.
Ryan puxou a tampa para abrir a lata. Rastejando lá dentro, em cima da carne, havia vários insetos pretos, grandes e feios. Instintivamente, ele jogou a lata para longe. A mesa carregada com alimentos se aproximou.
— Tudo bem, — Ryan disse que teimosamente — então eu vou ficar com fome por mais algumas horas. Não vou ceder a você tão facilmente. Deixe Bael e os outros serem seus escravos, mas não conte comigo. — Esse discurso o fez se sentir muito orgulhoso de sua própria integridade. Infelizmente, não adiantou em nada para aliviar o rosnar no estômago.
Encontre o cérebro central da cidade, Java-10 tinha dito a ele. Mais fácil dizer do que fazer. Onde ele deveria procurar? O centro geográfico pode ser o local lógico, mas onde ele o encontraria? Ele não tinha nem ideia de onde estava no momento, e mesmo que tivesse, não tinham nenhuma direção. Não poderia haver nenhum ponto de referência em uma cidade que se mudava constantemente, onde edifícios alteravam suas formas, bem como suas cores de minuto a minuto.
Decidindo, depois de um tempo, que qualquer direção era melhor do que nenhuma, Ryan começou a andar. A mesa de banquete o seguia como um filhote ansioso. Ele a ignorou, e focou seu olhar à frente.
Enquanto o crepúsculo se tornava escuridão, as luzes da cidade se acenderam. Não as luzes brancas, estéreis, e normais das metrópoles da Terra, mas umas com um brilho fantasmagórico, como se a cidade tivesse se tornado uma daquelas imensas queimas de fogos. Luzes de todos os tons piscavam e brilhavam em padrões regulares e aleatórios. Turbilhões e combinações hipnóticas estriavam em um lado de um prédio e desciam em outro em uma ordem interminável. Não havia nenhum canto para a escuridão se esconder, e então ela fugiu, deixando a cidade tão brilhante como o dia.
Ryan ignorou as luzes e seguiu em frente.
Eventualmente, a mesa atrás dele desistiu e desapareceu. Um dos exploradores anteriores emergiu de um edifício com uma garrafa na mão. Ao ver Ryan, ele acenou com naturalidade e o convidou para participar.
Ryan passou ao lado dele.
— Jeffrey!
Ele não pôde se segurar e virou em direção ao grito. Ali, na porta de um dos edifícios, estava sua mãe, que estava morta nos últimos quatro anos. Ela tinha seu cabelo longo, como tinha sido a moda quando Ryan tinha três anos de idade, mas o rosto era o de sua velhice. Ela estendeu a mão para ele. — Venha até mim, filho — ela implorou em silêncio.
Ela não é real. Minha mãe está morta. Isso é de mentira. Falsificação. Ilusão. Fraude.
Ele se virou lentamente para seguir em frente.
— Jeffrey! Jeffrey, meu filho, você não reconhece nem sua própria mãe?
Ryan parou e mordeu