Duelo De Corações. Barbara Cartland

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Duelo De Corações - Barbara Cartland


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O cômodo seguinte, bem iluminado, era a grande cozinha da estalagem. Viu a proprietária, atarefada, e duas mocinhas de rosto corado, usando touca e avental. Um homem careca, também de avental, com certeza o garçom do estabelecimento, apareceu à porta carregando uma bandeja. Chegou até Caroline o cheiro agradável de carne assada.

      Sem esperar nem mais um segundo ela saiu correndo, atravessou o jardim, procurando manter-se protegida pela sombra dos arbustos, e chegou ao bosque que, felizmente, não era muito cerrado. Continuando a correr seguiu por um caminho trilhado entre as árvores sem pensar aonde ele iria levá-la. Sua única preocupação era distanciar-se da estalagem.

      Tinha uma vaga ideia de estar indo na direção da estrada principal para Sevenoaks. Uma vez ali, poderia chegar a alguma hospedaria e conseguir uma carruagem de aluguel que a levasse a Londres. Na corrida tropeçou algumas vezes em pedras e galhos. Também era obrigada a parar ocasionalmente para desprender o vestido enroscado em espinhos.

      Cansada, Caroline passou a ir mais devagar. De repente, ouviu vozes e parou, certa de que já a procuravam. Logo achou que isso era impossível. Não havia dado tempo de alguém ter notado sua fuga. Além disso, só entrariam no quarto se arrombassem a porta que ela deixara trancada a chave e com os trincos.

      Atenta, percebeu que as vozes eram masculinas e vinham de um ponto à sua frente, portanto, aqueles homens não eram seus perseguidores. Então um grito ecoou pelo bosque. Apenas um grito. Terrível. O silêncio voltou a reinar.

      Por um segundo o coração de Caroline pareceu ter parado de bater. Voltou a pulsar tão violentamente como se quisesse saltar do peito. Ela encostou-se ao tronco de uma árvore e ficou por alguns minutos com as mãos sobre o peito, esperando passar o susto. O barulho de alguém andando depressa, quase correndo, vindo na sua direção, sobressaltou-a.

      Aguardou mais um instante, trêmula, bem colada à árvore esperando não ser vista. Os passos tomaram-se mais audíveis e um homem passou a pouca distância do lugar onde ela se achava.

      Mal se arriscando a respirar, Caroline continuou atenta. O homem afastou-se e pouco depois ela não ouviu mais nada. O bosque lhe pareceu assustadoramente quieto. Não se ouvia nem o barulho característico de animaizinhos em suas tocas, do agitar das asas de um pássaro, cujo sossego fora perturbado ou de folhas farfa- lhando com o vento.

      Por fim, Caroline arriscou-se a sair de perto da árvore. Afastou alguns galhos que ajudavam a ocultá-la e continuou a caminhar. Chegou a uma clareira, parou e olhou ao redor. Várias árvores haviam sido cortadas formando um círculo. Ao luar ela viu uma casa quase em ruínas, com uma parte do telhado caído. Deu alguns passos e uma exclamação de horror saiu de seus lábios. Perto da casa havia o corpo de um homem estendido no chão. Sua cabeça pendia para trás, revelando à luz da lua o contorno do queixo proeminente.

      Aterrorizada, ela ficou ali como se tudo fosse um pesadelo, seus olhos indo das fivelas dos sapatos lustrosos, aos botões do sobretudo preto até chegar ao cabo lustroso da faca enterrada no pescoço do homem que, a seu ver, estava morto.

      O sangue escuro manchava a pureza da camisa branca com babados.

      Por um momento Caroline julgou que ia perder os sentidos. Felizmente isso não aconteceu. Ficou paralisada olhando com horror para as mãos brancas e imóveis, caídas sobre a grama. Estava sem saber se devia seguir adiante ou voltar para o caminho do bosque quando o som de passos firmes, decididos e rápidos tirou-a de seu torpor.

      Alguém se aproximava caminhando depressa. Ela ouviu também o ruído de gravetos sendo pisados e de galhos se movendo. Virando-se na direção dos passos, viu um homem chegando à clareira. Caroline só não saiu correndo porque sentiu que lhe faltavam forças para isso. Recuou alguns passos e encostou-se na parede da casa.

      «Tenho de fugir quanto antes», pensou, mas não conseguiu mover-se.

      O homem que se aproximava era alto, usava chapéu de feltro, de copa alta, casaco azul-marinho e botas pretas. Seu modo de andar e sua elegância revelavam uma pessoa de importância.

      —Meu Deus! O que é isto?— ele falou em voz alta ao ver o corpo caído no chão. O som dessa voz fez Caroline recuperar um pouco de suas forças e tentar fugir. Mas o recém-chegado a viu movimentar-se, tirou uma pistola do bolso e gritou:

      —Pare! Quem é você? Chegue mais perto!

      Caroline obedeceu. Bem devagar saiu das sombras.

      —Uma mulher!— exclamou o homem guardando a pistola e tirando o chapéu.

      —Desculpe-me, milady. Eu não esperava encontrar uma lady por aqui, muito menos em tais circunstâncias.

      A voz calma e segura afastou todos os temores de Caroline. Pôde ver à luz do luar que o estranho que lhe falava era o homem mais belo que já tivera ocasião de encontrar. Tinha os cabelos castanhos e penetrantes olhos cinzentos.

      —Posso saber o que faz aqui, milady? E, por acaso tem conhecimento do que seja... isto?

      Com o chapéu ele indicou o corpo caído no chão.

      —Eu… estava no bosque, sir, quando ouvi vozes e em seguida… um grito e depois ouvi um barulho… como se alguém fosse correndo por ali.

      Ela fez um gesto indicando a direção.

      O cavalheiro colocou novamente o chapéu na sua cabeça, ajoelhou-se e debruçou-se sobre o corpo do homem caído para ouvir-lhe o coração.

      —Está mesmo… morto?— Caroline perguntou com voz trêmula.

      —Sem a menor dúvida! Foi um golpe mortal— respondeu o homem, levantando-se—. isto parece-me estranho... muito estranho. Ele marcou um encontro comigo neste local.

      —Então… o senhor conhecia este homem?

      —Sim. Este é Isaac Rosenberg, advogado. Muito velhaco, devo acrescentar. Porém, nunca imaginei que ele acabaria tendo uma morte horrível como esta.

      —O senhor disse que veio até aqui... para encontrar-se com ele?

      —Exatamente. Foi Rosenberg quem marcou este lugar. A propósito…

      O cavalheiro interrompeu o que estava dizendo, ajoelhou-se de novo do lado do morto e procurou alguma coisa dentro do bolso do seu sobretudo.

      —Ah, encontrei-as!— exclamou satisfeito, olhando para um maço de cartas amarradas com uma fita—, será que todas estão mesmo aqui?

      «Ali devem haver cerca de seis envelopes», pensou Caroline.

      O cavalheiro continuou de joelhos e revistou mais uma vez os bolsos do advogado. Encontrou uma folha de papel e ficou tenso.

      Sempre observando-o, Caroline notou que sua expressão se transformara ao olhar o papel amassado que tinha na mão. De repente ele inclinou a cabeça para trás e deu uma risada destituída de humor.

      —O que foi, sir?

      Ele fitou-a como se tivesse esquecido de sua presença e respondeu com sarcasmo:

      —Foi uma brincadeira de mau gosto. Uma brincadeira monstruosa. Alguém quis divertir-se e esse alguém não sou eu.

      —Não estou entendendo, sir.

      —Por que deveria entender, milady? Mas vou explicar-lhe. Alguém assassinou este pobre velhaco para pôr uma corda ao redor do meu pescoço. E sabe para quê? Para incriminar-me, compreende? Rosenberg marcou um encontro comigo, aqui. E esse foi um modo de eu ser atraído para este lugar. Agora ele está morto aos meus pés e eu posso ser preso por assassinato.

      —Mas o senhor não matou este homem! Posso jurar que não foi o senhor!— Caroline exclamou.

      —Ah, pode? Esta brincadeira começa a ficar interessante! Quem mais sabe que a senhorita está neste bosque?

      —Na verdade… ninguém, sir! Eu não tinha a intenção de vir até aqui.

      O cavalheiro riu outra vez.

      —Além


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