De Volta À Terra. Danilo Clementoni

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De Volta À Terra - Danilo Clementoni


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pouco preocupado.

      — Por quê? — Petri perguntou ingenuamente.

      — Não sei. Tenho a sensação de que vamos ter uma grande surpresa desagradável.

      A ferramenta que Petri tinha na mão começou a emitir uma série de sons em diferentes frequências. Ele olhava o aparelho sem ter ideia do que estava indicando. Olhou em direção ao amigo à procura de algum sinal, mas não viu nenhum. Azakis, movendo-se com muito cuidado, apontou o sensor no outro conector. Uma nova série de sons ininteligíveis saiu do analisador. Depois, silêncio. Azakis pegou o instrumento da mão do seu companheiro, olhou atentamente para os resultados, e em seguida sorriu.

      — Tudo bem. Podemos prosseguir.

      Só então Petri percebeu que prendia a respiração. Expirou todo o ar e imediatamente sentiu uma sensação de relaxamento. Uma falha de um desses conectores, por menor que fosse, poderia acabar com a missão, obrigando-os a voltar o mais rápido possível. Seria a última coisa que desejariam. Estavam tão perto.

      — Vou tomar um banho — disse Petri, tentando sacudir um pouco da poeira. — a visita aos tubos de exaustão é sempre assim… — e acrescentou, franzindo o lábio superior: — instrutiva!

      Azakis sorriu: — Vejo você na ponte de comando.

      Petri chamou o módulo e um segundo depois, se foi.

      O sistema central anunciou que a órbita de Júpiter fora superada sem problemas e que eles estavam indo sem impedimento em direção à Terra. Com um leve mas rápido movimento dos olhos para a direita, Azakis pediu ao seu O^OCM mostrar a rota novamente. O ponto azul que se movia na linha vermelha agora tinha se movido um pouco mais para perto da órbita de Marte. A contagem regressiva indicava o tempo estimado de chegada em 58 horas exatas e a velocidade da nave em 3.000 km/s. Estava cada vez mais nervoso. Por outro lado, aquela em que estava viajando era a primeira astronave equipada com os novos motores Bousen, completamente diferente de designs anteriores. Os projetistas afirmavam que seriam capazes de impulsionar a aeronave a uma velocidade perto de um décimo daquela da luz. Ele ainda não se atrevia a ir tão longe. Para o momento, 3.000 km/s pareciam mais do que suficientes para uma viagem inaugural.

      Dos cinquenta e seis membros da tripulação que normalmente teriam de ser acomodados a bordo da Theos nessa primeira missão, haviam sido selecionados somente oito, incluindo Petri e Azakis. As razões dadas pelos Anciãos não foram muito exaustivas. Limitaram-se a explicações como, diante da natureza da viagem e do destino, poderiam encontrar muitas dificuldades e que, portanto, seria melhor não colocar mais vidas em risco desnecessário.

      Então nós seríamos descartáveis? Que tipo de conversa era essa? Era sempre assim. Quando tinham que arriscar a pele, quem ia na frente? Azakis e Petri.

      Afinal de contas, a propensão deles por aventura e também a notável capacidade de resolver situações complicadas resultaram em uma série de vantagens.

      Azakis vivia em uma casa enorme, na linda cidade de Saaran, localizada ao sul do continente, que tinha sido usada até recentemente como um depósito pelos artesãos da cidade. Ele, graças às "vantagens", tinha conseguido a posse e a permissão para alterá-la à vontade.

      A parede sul havia sido totalmente substituída por um campo de força semelhante ao utilizado na sua nave espacial, de modo a permiti-lhe ver, diretamente da sua inseparável poltrona auto moldável, a maravilhosa baía. Em caso de necessidade, toda a parede podia ser transformada num sistema tridimensional gigante, onde podiam ser exibidas simultaneamente até doze transmissões da Rede. Mais de uma vez, esse sofisticado sistema de controle e gestão lhe tinham permitido obter informações decisivas antecipadas, possibilitando-o assim resolver com sucesso até crises de grande importância. Ele não saberia renunciar.

      Uma parte do ex-depósito era reservada para a sua coleção de souvenirs recuperados em todas as suas missões espaciais realizadas durante os anos. Cada um deles lhe lembrava de algo especial e cada vez que ele estava no meio daquela confusão absurda de objetos estranhos, não podia deixar de agradecer a sua boa sorte, e acima de tudo, seu fiel amigo que, mais de uma vez, tinha salvado a sua vida.

      Petri ao contrário, embora sempre se destacasse brilhantemente nos estudos, não era um amante da tecnologia de ponta. Embora fosse capaz de dirigir com facilidade praticamente todos os tipos de veículos em circulação, conhecer perfeitamente cada modelo de arma e todos os sistemas de comunicação locais e interplanetários, preferia, muitas vezes, confiar nos seus instintos e nas suas habilidades manuais para resolver os problemas que se apresentavam. Mais de uma vez, diante de seus olhos, o vira transformar em pouquíssimo tempo, um amontoado disforme de sucata de metal em um meio de transporte ou uma incrível arma de defesa. Poderia construir qualquer coisa que precisasse. Certamente em parte era devido à hereditariedade transmitida pelo seu pai, um hábil artesão, mas acima de tudo, à sua grande paixão pelas artes. Desde jovem, na verdade, se encantava com as habilidades manuais dos artesãos que conseguiam transformar matéria incapacitada em algo de muito útil e tecnológico, deixando intacta dentro deles a beleza.

      Um som desagradável, intermitente e alto, o surpreendeu, trazendo-o imediatamente de volta à realidade. O alarme automático de proximidade soou de repente.

      Certamente o hotel não era “cinco estrelas”, mas para alguém como ela, que estava acostumada a passar semanas em uma tenda no deserto, até mesmo um banho de chuveiro podia ser considerado um luxo. Elisa deixou a água quente e reanimadora caindo massagear o pescoço e os ombros. Seu corpo parecia apreciar muito, porque uma série de arrepios agradáveis passou várias vezes por suas costas.

      Só percebemos a importâncias de certas coisas quando não as temos mais.

      Ela decidiu sair do chuveiro somente dez minutos depois. O vapor tinha embaçado o espelho que estava visivelmente torto. Tentou endireitá-lo, mas assim que soltava, voltava à sua posição original. Preferiu ignorá-lo. Com um pedaço da toalha secou uma gota de água que permanecia sobre ele e se admirou. Quando mais jovem, havia sido repetidamente contatada para trabalhar como modelo e até mesmo como atriz. Talvez agora poderia ser uma estrela de cinema ou a esposa de um rico jogador de futebol, mas o dinheiro nunca a atraíra muito. Preferia suar, comer poeira, estudar textos antigos e visitar lugares remotos. A aventura sempre esteve no seu sangue e a emoção que sentia ao descobrir um artefato antigo, o desenterrar dos restos de milhares de anos, não podia ser comparado a nenhuma outra coisa.

      Ela se aproximou do espelho, demais, e viu aquelas malditas rugas finas nas laterais dos olhos. A mão foi automaticamente dentro da necessaire, da qual tirou um desses cremes que “rejuvenescem dez anos em uma semana”. Com cuidado passou por todo o rosto e se olhou atentamente. O que queria, um milagre? Além disso, o efeito seria visível somente após “sete dias”. Ela sorriu para si mesma e para todas as mulheres que foram facilmente enganadas pela publicidade.

      O relógio na parede acima da cama marcava 19:40. Nunca conseguiria se preparar em apenas vinte minutos.

      Secou-se o mais rápido possível, deixando o cabelo loiro ligeiramente molhado, e ficou na frente do guarda-roupa de madeira escura, onde guardava as poucas roupas elegantes que tinha conseguido levar consigo. Em outros momentos, ela poderia passar horas decidindo o vestido para a ocasião, mas, naquela noite, a escolha era muito limitada. Optou, sem pensar muito, pelo vestido preto curto. Muito bonito, muito sexy, sem ser vulgar, com um decote generoso que certamente valorizaria os generosos seios. Pegou-o e, com um elegante movimento, jogou o vestido na cama.

      19:50. Apesar de ser mulher, detestava se atrasar.

      Ela olhou pela janela e viu um carro escuro, incrivelmente brilhante, exatamente em frente à porta do hotel. Aquele que deveria ser o motorista, um rapaz vestido com roupas militares, estava encostado no capô, aproveitando a espera para calmamente fumar um cigarro.

      Usou lápis e rímel para salientar os olhos, passou um batom rapidamente, e enquanto tentava distribui-lo uniformemente com uma série de beijos no ar, colocou seus brincos favoritos,


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