Dance, Meu Anjo. Virginie T.

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Dance, Meu Anjo - Virginie T.


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de se tornar uma prostituta. Agora, sou eu quem está no comando. Você só vai dançar para mim. Vou buscá-la.”

      Minha respiração está ofegante e entrecortada, e minhas mãos estão tremendo tanto que a folha cai no chão. É a primeira vez que o homem escreve sobre a intenção de vir me ver, porque é um homem, sem dúvida. As primeiras cartas que chegaram me lembravam um fã um pouco possessivo demais. Ele havia relatado, em suas cartas, a vida de casal que imaginou para nós, com muitos comentários lascivos. Com o tempo, as descrições se tornaram mais ríspidas e as palavras, mais ameaçadoras. Ele foi de “você será minha de todas as maneiras” para “vou empalar você com meu pau e fodê-la até que grite de dor”. Ele também me culpa por minha falta de reação e envolvimento em nosso relacionamento. Que vida de casal? Não conheço ninguém estranho o suficiente para inventar algo tórrido comigo. A maneira como ele me imagina deixa claro que não nos conhecemos. Aparentemente, ele decidiu remediar esse detalhe. Tiro meu celular da bolsa, tentando recuperar o controle sobre mim mesma. Como as cartas se tornaram uma fonte de ansiedade, eu as encaminho ao diretor do balé, que entrou em contato com a polícia. Infelizmente, até aquele momento os inspetores não têm pistas e, segundo eles, não há motivo para preocupação. Parece que a maioria dos perseguidores anônimos nunca age. E quanto aos outros? Não recebi nenhuma resposta. Parece que estou paranoica. Tudo bem, estou um pouco. Digamos que tenho uma tendência natural para extrapolar tudo. Mas é hora de acabar com essas cartas.

      — Caitlyn! Você foi fabulosa. A reação dos espectadores é muito boa.

      — Obrigada, senhor, mas não estou ligando para isso.

      Eu o ouço suspirar no aparelho. Ele também não gosta muito de mim. Ele me apoia porque sou útil para ele. Rendo-lhe muito dinheiro e ele se sente compelido a se esforçar comigo.

      — O que posso fazer por você?

      — Recebi uma nova carta.

      — Já conversamos sobre isso. Você precisa esquecer isso e jogá-las fora sem abri-los. Este homem nunca entrará em ação.

      — Na verdade, recebi uma na minha casa e alguém colocou outra no meu camarim.

      O silêncio que se segue me tranquiliza. Finalmente, talvez eu possa ser levada a sério.

      — Deixe-as na segurança quando sair do teatro. Vou mandá-las para a polícia.

      — Obrigada, senhor.

      — De nada, Caitlyn. Aproveite a sua noite. Você merece. A gente se vê amanhã para falar sobre a investigação.

      — De acordo. Até logo.

      Estou aliviada com esta ligação. Só espero que essas novas cartas possam fazer a investigação avançar. Já estou com medo suficiente do mundo ao meu redor sem precisar acrescentar o medo de um psicopata.

      Eu me arrumo rapidamente. Não que eu esteja com pressa para encontrar meus pais, mas mal posso esperar para me livrar dessas cartas malditas que não suporto ver na minha penteadeira. Deixo o teatro após uma última olhada no espelho, entregando as mensagens na segurança.

       Capítulo 3

      Caitlyn

      Meus pais não mudaram nem um pouquinho. Meu pai ainda tem seu cabelo grisalho despenteado e olhos azuis penetrantes, os mesmos que os meus, e minha mãe está impecavelmente vestida em seu conjunto austero e com um coque sem um fio fora do lugar. A maneira como me olham não é diferente de quando eu era pequena. Como se eu fosse um alienígena impossível de decifrar.

      — Obrigada por nos honrar com sua presença, Caitlyn. Você demorou tanto para nos encontrar! Você sabe, porém, que sua mãe não pode ficar em pé muito tempo.

      Minha mãe tem, de fato, alguns problemas nos joelhos por causa de disfunções nas articulações, mas só dói no frio e na chuva, e o céu está incrivelmente claro esta noite.

      — Olá, papai. O tempo está incrivelmente ameno para a estação, não acha? Até conseguimos distinguir as estrelas.

      — Não seja atrevida, Caitlyn.

      Oh, sim. Meus pais estão sempre unidos, especialmente contra mim. Minha avó intervém antes que o jantar acabe. Acabe antes do tempo, com certeza, já que nem chegamos ainda ao restaurante.

      — Vamos comer. Estou faminta.

      Vovó põe o braço sob o meu e caminhamos pela calçada, em silêncio, à frente de nosso pequeno cortejo. Tenho a desagradável sensação de estar sendo observada. Como se um olhar queimasse minhas costas, causando suores frios na minha espinha. Poderia achar que era por causa da presença dos meus pais; no entanto, eles nunca me causaram uma reação tão epidérmica. Estremeço ao examinar os arredores, mas o luar fraco e os poucos postes de luz dispersos não me permitem distinguir bem a vizinhança, no máximo criando sombras perturbadoras à meia-luz.

      — Está com frio, querida?

      — Não, vovó. Estou bem. Mal posso esperar para chegar em casa. Estou cansada.

      Não contei à minha avó sobre as cartas. Não queria que ela se preocupasse comigo. Ela leva uma vida tranquila e está fora de questão que isso venha a mudar.

      — Quando você vai me visitar na Virgínia? O ar puro e o campo lhe fariam muito bem.

      — Não tenho dúvidas, vovó, mas a temporada está apenas começando e as apresentações da Bela Adormecida continuarão por várias semanas.

      — E, depois, haverá as seleções para um novo balé, que você vai ter sucesso em ganhar, é claro, depois os ensaios para o novo espetáculo e as apresentações mais uma vez. Isso nunca cessa, Cat.

      Curvo a cabeça, com vergonha de ser uma neta tão má. Essas observações são totalmente justificadas.

      — Lamento desapontá-la, vovó.

      Ela se detém tão abruptamente para me encarar que meus pais nos atropelam.

      — Você nunca irá me decepcionar, Caitlyn Cat. Você me escutou? Sou extremamente orgulhosa de você, e seus pais também.

      Ela lhes dá um olhar carregado ao qual eles só podem responder afirmativamente.

      — Claro, Caitlyn. Estamos felizes por você.

      Não é o mesmo que ter orgulho, mas contento-me com isso. Sei que não obteria nada melhor da parte deles. Retomamos nossa caminhada lentamente.

      — Só queria lhe mostrar algo que não fosse a dança. E, além disso, gostaria de apresentá-la a Baraqiel.

      — Seu vizinho?

      Ela aquiesce, balançando a cabeça.

      — A senhora nunca me disse o nome dele. É muito estranho.

      — Não o julgue sem conhecê-lo. É um anjo, minha querida.

      Mas é claro! Minha avó ama a todos, sem qualquer distinção. A conversa bem humorada poderia ter terminado aqui, mas foi evidentemente necessário que minha mãe interviesse assim que se sentou à mesa.

      — De qualquer forma, você sabe que Caitlyn não tem tempo para o amor, minha sogra. Ela teria que estar interessada em alguém que não fosse ela mesma, e isso não vai acontecer logo.

      Minha mãe está cada vez mais ácida. Pergunto-me por que ela se força a vir me ver quando é evidente que não deseja fazê-lo. Provavelmente, minha avó tem a ver com isso. Ela sabe ser muito persuasiva. Gostaria de poder dizer à minha família que a amo, mas tal exigiria que meus pais me aceitassem como sou, e eles nunca aceitaram. Agora, já é tarde demais e meu silêncio é sempre visto como uma rejeição. Na verdade, é mais uma aceitação da situação. Como sempre, minha avó serve de amortecedor em nossos relacionamentos conflituosos. Acredito que, sem ela, não haveria nenhuma interação entre meus pais e eu.

      — Vamos pedir. Está ficando tarde para uma velha como eu.


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