Casamento por conveniência. Emma Darcy

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Casamento por conveniência - Emma Darcy


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levantou-se, um sinal de que todos deveriam fazer o mesmo. Gina removeu o copo das mãos de Marco e colocou-o em pé.

      – Agora vamos ver o salão das bolas com espelhos, mamã?

      – Sim, querido.

      – Anda, Marco – Isabella chamou o garoto, estendendo a mão para que ele a segurasse. – Quero mostrar-te tudo enquanto a tua mãe se prepara para cantar para nós.

      O menino aceitou o convite sem nenhuma hesitação, os olhos iluminados pelo entusiasmo. O que o tornava tão acessível àquela mulher, se normalmente era desconfiado e arisco com estranhos em geral? Era como se Marco se sentisse atraído pelo poder que emanava daquele corpo envelhecido, um poder conferido pelos anos vividos como matriarca de uma grande família.

      Nem mesmo Michelle Banks ousaria desafiá-la, embora Gina pudesse sentir a hostilidade da jovem enquanto o grupo se dirigia ao salão de baile. De repente, teve a sensação de estar a ser usada como arma por Isabella. Seria apenas um instrumento numa batalha subtil travada contra a noiva do seu neto?

      Esperava que não.

      Precisava daquela oportunidade. Queria um contrato duradouro, uma fonte de rendimento estável através da qual pudesse construir um futuro melhor e mais sólido para ela e para Marco. Para isso, teria de ser aprovada. E as condições não eram as melhores, dadas as correntes eléctricas que a atingiam vindas de todos os lados. De alguma forma, tinha de ignorá-las e concentrar-se em cantar.

      Além de tudo o que estava em jogo, odiaria fracassar diante de Alex King. Detestaria ser alvo da sua piedade e dar à sua noiva bons motivos para criticar a sua apresentação.

      Tinha de cantar bem.

      Ou morreria de vergonha e humilhação.

      Capítulo 3

      – Temos mesmo de ficar aqui? – murmurou Michelle, irritada.

      Alex encarou-a com ar severo.

      – Sim.

      Sentia-se impaciente com a atitude indelicada da noiva. Simpatizara com a jovem viúva e o seu filho, e reprovava o comportamento cruel de Michelle. Porque é que ela não podia simplesmente desejar o bem de Gina Terlizzi, em vez de tentar comparar o seu talento musical à ambição que sempre guiara os seus passos? Quem poderia deixar de compreender a relutância de uma mãe que, sozinha por conta de circunstâncias trágicas, evitava levar o filho pequeno aos locais onde se podia construir uma carreira de cantora? A noite era sempre o ponto de partida, e o pequeno Marco não podia frequentar bares, discotecas e clubes.

      A obstinação de Michelle tinha de ser temperada. Era hora de começar a mostrar-lhe que nem todas as pessoas provinham da mesma origem e caminhavam na mesma direcção. Que ser humano podia viver em paz sem respeitar valores diferentes dos seus e circunstâncias distintas daquelas que conhecia? Um bom começo seria convencê-la a aceitar algumas sugestões e ceder um pouco nos planos para o casamento. Manter a sua avó afastada de todas as decisões era algo que não lhe agradava. Para a nonna, um casamento era um evento familiar. Era assim que as coisas aconteciam na Itália.

      O salão de baile fora preparado de acordo com o usual. Mesas redondas com lugares para oito pessoas dispostas em forma de ferradura com a abertura voltada para o palco. O desenho delimitava a pista de dança e criava uma atmosfera aconchegante, apesar das dimensões do lugar. Assim que entraram, Michelle acomodou-se numa das mesas do fundo, à direita, perto da saída, manifestando assim a sua resistência em participar da audição.

      Aborrecido, Alex acompanhou a avó até à mesa que ela escolheu, a meio do caminho para o palco. Ao vê-la sentada segurando a mão da criança, ele levou Gina ao palco a fim de familiarizá-la com o sistema de som, pois assim poderia obter melhores resultados.

      A mão tremia um pouco quando ela entregou a cassete. Nervosismo? Tensão por ter sido rejeitada pela sua noiva? A vulnerabilidade aparente da jovem viúva e a injustiça do comportamento de Michelle levaram-no a segurar a mão delicada entre as duas. Queria oferecer-lhe calor e apoio, talvez devolver-lhe a confiança que lhe fora tirada.

      – Não dês importância a Michelle – disse, sem se importar com o facto de poder parecer desleal. – Canta para o teu filho e imagina que é ele que se vai casar.

      Um rubor tingiu o rosto de Gina. Os olhos cor de âmbar mergulharam nos dele, transmitindo uma mistura encantadora de alívio, gratidão e respeito.

      Alex sentiu uma urgência súbita de tomá-la nos braços, confortá-la e protegê-la, e só com muito esforço conseguiu sufocar o clamor do próprio corpo. A força do seu instinto era ao mesmo tempo surpreendente e assustadora. Mal conhecia aquela mulher!

      – Obrigada, és muito gentil.

      Gina tinha uma boca ampla e carnuda. Boa para cantar, disse ele a si mesmo, sufocando outros pensamentos menos inocentes. Consciente da mão entre as dele, sorriu e soltou-a.

      – Vais sair-te muito bem. A minha avó não te teria chamado para uma audição, se não estivesse impressionada com o que ouviu antes naquela cassete.

      – Certo.

      Alex foi inserir a cassete no equipamento de som instalado num canto do palco. Era estranho sentir-se tão consciente de uma presença feminina. Poderia compreender a consideração com a pessoa, com a profissional em busca do sucesso, mas a atracção sexual era descabida para um homem que discutia detalhes do seu casamento. Apesar do aborrecimento causado pelas últimas atitudes da noiva, aquilo não deveria estar a acontecer.

      Depois de preparar e ligar o equipamento, ele entregou o controlo remoto a Gina e demonstrou-lhe como deveria usá-lo. Enquanto ajustava a altura do microfone, reparou nos expressivos olhos cor de âmbar fixos no seu rosto e sentiu uma ligação ainda mais intensa.

      Sorriu de maneira a encorajá-la e deixou-a sozinha no centro do palco. A necessidade de manter-se distante de Gina Terlizzi fê-lo pensar em caminhar até ao fundo do salão, para a mesa escolhida por Michelle, mas, a meio do caminho, mudou de ideia e juntou-se à avó e ao garoto, longe do desinteresse negativo e irritante da noiva. Talvez a solidão e a reprovação evidente do futuro marido a ajudassem a reavaliar o seu comportamento.

      A demonstração de apoio à sua protegida mereceu um sorriso de aprovação de Isabella. Sentindo-se culpado, Alex olhou para trás e convidou Michelle a sentar-se com eles, mas ela respondeu com um rápido movimento negativo de cabeça. A postura lânguida e o ar aborrecido irritaram-no ainda mais, e ele decidiu que também não cederia.

      – Estamos prontos – anunciou Isabella.

      Gina começou a cantar. Os seus olhos estavam fixos em Marco, e Alex sentiu-se feliz por perceber que ela seguia o seu conselho. A voz que inundava o salão era forte e poderosa, e a interpretação perfeita de «Because You Loved Me», de Celine Dion, era diga de aplausos entusiasmados. De repente, Marco levantou-se e foi para o centro da pista de dança. Acompanhando o ritmo da melodia, ele balançava os ombros e movia os pés numa demonstração surpreendente de coordenação. Imitando os gestos da mãe, que o observava e sorria enquanto cantava, ele criava uma espécie de casulo onde só existiam os dois e o seu amor incondicional.

      Quando a canção terminou, Marco foi o primeiro a aplaudir.

      – Mais, mamã!

      Alex sorriu para a avó e notou que ela se emocionava com a cena. O seu rosto era suavizado pelo prazer que as pessoas idosas sempre encontravam nas artimanhas e tropelias de uma criança.

      – Isso mesmo, queremos ouvir mais uma – ela apoiou o pedido do garoto.

      Gina assentiu, respirou fundo e accionou o equipamento de som.

      Ouvi-la não era nenhum sacrifício. Enquanto ouvia a versão modificada de «All The Way», canção imortalizada por Frank Sinatra, Alex olhou para Michelle, esperando descobri-la surpresa e tão encantada quanto ele. O olhar petulante da jovem irritou-o


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