Malícia de Mulher. Barbara Cartland

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Malícia de Mulher - Barbara Cartland


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      Era sempre a mesma coisa: quando o Marquês ia embora, tinha receio de que não voltasse mais. Nunca podia ter certeza de nada com ele. Não conseguia perceber se a achava suficientemente sedutora.

      Lady Hester, no entanto, teria ficado mais tranquila, se pudesse ler os pensamentos do Marquês, enquanto dirigia seu faetonte de Berkeley Square até Merlyn House, em Park Lane. Ia pensando nela, pensando que era divertida e que o fato de ter deixado todos os outros amantes por causa dele o envaidecia. Hester Standish enganava o marido desde o terceiro ano de casamento.

      Casou praticamente ao sair da escola, com um par do reino, de boa índole, mas que cedo descobriu que as emoções do jogo eram muito mais agradáveis que os caprichos da esposa.

      Hester tinha se tornado uma beldade a partir dos vinte e cinco anos, e agora, aos vinte e oito era realmente sensacional e insaciável. Tinha provocado inúmeros escândalos, até perceber que não ganhava nada em exibir seus amantes. Na sociedade em que vivia, era um erro ser marginalizada pelas outras mulheres.

      Foi sem dúvida esta nova atitude de decoro em público que lhe permitiu conquistar o Marquês, que ela desejava há mais de três anos, desde que acabou a guerra e ele deixou o Exército, participando intensamente da vida social. Não só era um dos homens mais bonitos da alta sociedade, mas tinha também um dos títulos mais importantes e muitas propriedades, apesar das dívidas do pai.

      O antigo Marquês era um jogador. Frequentava os clubes de St. James na companhia de Charles James Fox e outros jogadores inveterados, fazendo com que a família, às vezes, temesse por sua fortuna. Sua morte prematura deu o título ao filho e salvou a maioria dos tesouros.

      Mas, mesmo que não tivesse dinheiro, o Marquês continuaria sendo perseguido pelas mulheres bonitas, e seria um louco se não aproveitasse. Percebeu muito bem o cerco que Hester Staridish tentava fechar à sua volta, mas conseguia fugir a qualquer compromisso, com uma astúcia que a deixava louca. Finalmente, sucumbiu aos encantos dela, porque se sentia verdadeiramente atraído e também porque queria verificar se todas as maravilhas que diziam a seu respeito eram verdadeiras.

      Agora, sabia que Hester era talvez a mulher mais ardente que já tinha encontrado, quase tão insaciável como ele.

      Mas não estava apaixonado. Sentia-se atraído, desejava-a. Porém, tinha certeza de que, por mais ardentes que fossem seus encontros, não tinha nada a ver com amor.

      «O que será que estou procurando?», perguntou a si próprio.

      Lembrou que outra mulher quase tão bonita como Lady Hester já lhe havia feito a mesma pergunta. Estava deitada em seus braços, num quarto misteriosamente iluminado pelo fogo da lareira, a cabeça no ombro dele.

      —O que está procurando, Aléxis?

      —O que quer dizer com isso?— perguntou, surpreso.

      —Sei que, por mais que o ame, vai haver sempre uma parte de você onde não consigo penetrar. Sinto que não sou o ideal, se é isso que você procura em seu coração.

      —Mas que absurdo! Você é tudo que quero, tem tudo que eu poderia querer encontrar numa mulher.

      Sabia muito bem que estava mentindo. Amorosa, simpática, desejável, perfeita ao fazer amor, mas tinha razão: faltava qualquer coisa.

      Com Hester Standish passava-se a mesma coisa. Nenhuma mulher podia dar mais de si mesma do que ela, e ele sabia que a excitava mais do que qualquer outro homem. Bastava que seus olhares se encontrassem num salão cheio de gente, para que sentisse um desejo enorme. Esse desejo aumentava mais ainda quando se tocavam, fazendo com que ambos se comunicassem numa paixão descontrolada. E como era bonita!

      O Marquês sorriu ao recordar as artimanhas que ela usava para chamar a atenção para seu corpo. Pérolas negras contrastando com a pele muito branca, as ligas azuis com suas iniciais bordadas em diamantes. A maneira como às vezes o recebia, usando apenas uns chinelos muito bonitos, de cor viva, ou dois enormes brincos de brilhantes que caíam até os ombros.

      Não havia nada que Lady Hester não fizesse para despertar o desejo de um homem e não havia dúvida de que, com a obsessão que sentia por ele, tudo isso era muito agradável. Mesmo assim, decidiu, ao chegar em casa, em Park Lane, que não a procuraria no dia seguinte!

      Entrou no hall de mármore, reparando, satisfeito, como os Van Dyck, que tinha conseguido recuperar depois da morte do pai, ficavam lindos à luz do entardecer.

      —Sua Senhoria está?— perguntou ao mordomo.

      —Sim, senhor. Sua Senhoria está esperando pelo senhor no Salão Azul.

      O Marquês subiu ao primeiro andar. O Salão Azul era impressionante, um cenário perfeito para a coleção de obras-primas de pintores franceses. Faltavam alguns, o que o entristecia sempre que olhava para os espaços vazios, mas naquele momento olhava apenas para sua irmã, em pé junto da janela.

      —Aléxis! Pensei que tinha esquecido de mim.

      —Desculpe se estou atrasado, Caroline, mas houve um imprevisto e não consegui chegar mais cedo.

      —Posso imaginar o que o atrasou— disse a Condessa de Brora, com um sorriso.

      Era cinco anos mais velha do que o irmão, e, embora fosse bonita, não tinha o charme do Marquês.

      —Estava pensando— disse, enquanto se dirigia para o sofá—, que os defodils devem estar florescendo em Merlyncourt. Sabe como ficam lindos na primavera, e está fazendo tanto calor para esta época do ano, que devem estar formando um maravilhoso tapete dourado ao lado da alameda.

      O irmão olhou para ela com uma expressão divertida. Embora parecesse sempre distraído, era tremendamente perspicaz.

      —Tenho a impressão, Caroline, de que você quer me falar de Merlyncourt.

      —Realmente, como é que adivinhou?

      —Você é transparente, minha querida. E eu que pensei que estava com saudade de mim!

      —O assunto que quero tratar com você também lhe diz respeito. Tem alguma ideia do que está acontecendo, Aléxis?

      —Como assim?

      —Do que Jeremy está fazendo.

      —Jeremy!— havia um tom de surpresa na voz do Marquês—, paguei suas dívidas há apenas um mês. Não me diga que já gastou tudo que lhe dei! Se gastou, desta vez não pago mais nada.

      —Não é dinheiro. Pelo menos, diretamente.

      —Pare de falar por enigmas, Caroline, e vá direto ao assunto. O que Jeremy fez que a perturbou?

      A Condessa de Brora deu um suspiro.

      —Ele está com mania de grandeza, e talvez com uma certa razão, porque tenciona casar com Lucretia Hedley.

      O Marquês tentando lembrar quem era.

      —Hedley? Você quer dizer...

      —Quero dizer a moça que mora com o pai em Dower House, que agora é dona, não só da casa que nos pertenceu por muitas gerações, como também de quinhentos acres de terra no centro da propriedade.

      Fez uma pausa, respirou fundo e continuou:

      —Entende o que isso quer dizer, Aléxis? Você vai ter Jeremy à porta de casa. Vai se gabar que é proprietário de uma parte de Merlyncourt. Ele já pensa que é! Se casa com essa moça, então, se tornará um espinho permanente em sua carne, não tenha a menor dúvida.

      —Tem razão. Por que não me disseram nada antes?

      —Porque você nunca se interessa por nada que se passa no condado e eu tenho estado no Norte, com William— olhou para ele, com ar suplicante—, Aléxis, não pode deixar que isso aconteça! Já foi um desastre papai ter permitido que esse Hadley comprasse Dower House. Isso já foi péssimo! Mas ainda por cima termos que aturar Jeremy, é demais!

      O Marquês


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