O fantasma De Monte Carlo. Barbara Cartland

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O fantasma De Monte Carlo - Barbara Cartland


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      O FANTASMA DE MONTE CARLO

      Barbara Cartland

      Barbara Cartland Ebooks Ltd

      Esta Edição © 2020

      Título Original: “A Ghost in Monte Carlo”

      Direitos Reservados - Cartland Promotions 2020

      Capa & Design Gráfico M-Y Books

       m-ybooks.co.uk

       NOTA DA AUTORA

      O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.

      Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.

      Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.

      Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.

      O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.

       CAPÍTULO I

      Emilie ouviu o som de passos no corredor, depois o barulho da bandeja com o café da manhã sendo colocada sobre a mesa; então, alguém pigarreou e bateu à porta do quarto.

      Sem esperar resposta, Jeanne entrou e foi abrir as cortinas.

      Olhando o corpo pesado dela, naquela luz suave, Emilie imaginou quantos anos teriam passado desde que acordou pela primeira vez com aqueles ruídos.

      Nunca era o barulho da porta se abrindo que a acordava, mas sim os anteriores... os passos de Jeanne no corredor, a bandeja sendo colocada sobre a mesa e o pigarro.

      Já fazia dezoito anos que Jeanne era sua empregada? Não, dezenove. E se conheciam desde crianças.

      As cortinas abertas, deixavam ver um dia de inverno, os telhados de Paris úmidos e o céu cinzento onde o sol pálido tentava aparecer.

      Emilie sentou na cama.

      Estava acordada há muito tempo. Nem sabia se havia dormido mais do que uma hora, durante toda a noite. Olhou-se no espelho da penteadeira que ficava de frente para a cama e viu o que a insônia havia causado em seu rosto.

      Parecia velha e feia, naquela manhã; entretanto, talvez parte dessa impressão fosse causada pela cor dos cabelos. Mas não tinha tempo para pensar em si mesma. Tinha que dar atenção a coisas mais importantes.

      Vestiu um robe e recostou-se nos travesseiros, esperando que Jeanne servisse o café da manhã.

      Pareceu que a empregada demorava uma eternidade, até arrumar a bandeja com cuidado, colocar o bule mais para a esquerda, a xícara mais para a direita e alinhar os talheres.

      Emilie não ficou aborrecida. Sabia que Jeanne estava esperando que dissesse alguma coisa. Rispidamente, como sempre acontecia quando a empregada se intrometia em suas decisões, ela disse:

      —Feche a porta.

      —Sim, senhora. Eu já ia fazer isso.

      —Então, vá depressa. Depois, sente. Precisa me ouvir com atenção. Temos muito a fazer.

      Jeanne atravessou o quarto, rígida. Tinha ossos grandes e os movimentos de uma camponesa. Seus cabelos estavam grisalhos, mas o rosto não tinha rugas e os olhos eram brilhantes como os de uma criança. Aos sessenta anos, não tinha a menor dificuldade em fazer os bordados mais complicados.

      Fechou a porta e voltou, sentou-se numa cadeira ao lado da cama. Suas mãos rudes se cruzaram no colo.

      Emilie olhou-a por cima da borda da xícara de café e achou que lembrava uma colegial esperando que a professora falasse. Sentiu-se aborrecida com essa impressão.

      Jeanne era uma amiga confidente; entretanto, às vezes assumia deliberadamente o ar humilde e o desinteresse servil dos criados comuns.

      Geralmente, isso significava que estava magoada com alguma coisa. E, naquele momento, parecia estar acontecendo as duas coisas.

      Ela já devia saber de tudo! Tinham tido tantos problemas na noite anterior, para não fazer barulho, mas foi inútil. Jeanne devia estar acordada e agora estava ressentida porque não a tinham chamado.

      Emilie colocou a xícara de café sobre o pires, ruidosamente.

      —Jeanne, algo aconteceu ontem à noite. Chegou uma visita.

      —Sim, senhora.

      A resposta veio sem surpresa. Emilie riu.

      —Pare de fingir que está magoada. Você sabe tanto quanto eu que ontem alguém veio aqui inesperadamente. Inesperadamente, repito. Não tinha ideia de que ela viria; não nestas semanas, e pretendia dizer a você, muito antes que ela chegasse. A garota me disse que escreveu há quatro dias, mas o correio está terrível e a carta não chegou. Pense nisso, Jeanne: a pobrezinha chegando sozinha na estação, sem ninguém para esperá-la. Quase não tinha dinheiro para pegar uma carruagem.

      —Então, foi a senhorita que chegou ontem.

      Emilie ainda ria.

      —Você sabe muito bem que foi a senhorita, pois já viu a bagagem na entrada, e aposto que foi olhar no quarto dela. Está dormindo ainda?

      Jeanne esqueceu o orgulho ferido.

      —Sim, senhora. Está dormindo como um anjo! Quando a vi, meu coração quase parou de bater. Um verdadeiro anjo, eu disse a mim mesma, caído do paraíso.

      —A garota é linda. Sempre acreditei que seria, mas, neste último ano, ela mudou muito. Está com dezoito anos! Você acredita, Jeanne, que se passaram dezoito anos desde a morte de Alice?

      De repente, a voz de Emilie estava cheia de sofrimento, seu rosto ficou mais tenso e os olhos pareceram se estreitar um pouco.

      Depois, com um gesto impaciente, empurrou a bandeja do café para o lado e disse:

      —Temos muito a fazer. Agora mesmo!

      —Estou ouvindo, senhora.

      A resposta foi calma e a velha continuou encarando a patroa. Viu a mudança de expressão e o brilho nos olhos escuros, a tensão nos lábios.

      De vez em quando, Emilie Bleuet parecia muito bonita, mas naquela manhã, não. A luz suave que vinha da janela revelava cada ruga no rosto fino. Iluminava a pele descolorida do pescoço, o queixo duplo, a ruga profunda entre as sobrancelhas e as que desciam dos lados do nariz até os cantos da boca.

      Entretanto, não havia nada de anormal naquilo. Jeanne estava acostumada com os dias piores e melhores de Emilie. Não havia nenhum segredo entre as duas, e eram quase da mesma idade. Jeanne tinha nascido em 7 de janeiro de 1814 e Emilie, no ano seguinte, no mesmo dia.

      Portanto, Emilie estava com cinquenta e nove anos, uma idade em que o tempo pesa demais.

      Mas sua expressão, naquela manhã, apesar de envelhecida, estava cheia de animação. Jeanne nunca a tinha visto tão impaciente, com uma espécie de energia interior que fazia seus olhos brilharem.

      Só quando esquecia completamente de si mesma, Emilie voltava a falar com o sotaque de sua terra natal. Geralmente, seu francês era puramente parisiense, cuidado, formal e falado numa voz fria e impassível. Naquela manhã, sua voz parecia o eco da Jeanne; qualquer um que ouvisse saberia que as duas tinham vindo das praias da Bretanha.

      Emilie


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