O fantasma De Monte Carlo. Barbara Cartland

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O fantasma De Monte Carlo - Barbara Cartland


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      —Gostaria disso?

      —Não tenho vocação. Adoro as freiras. Ninguém pode deixar de gostar delas: são umas santas, sempre rezando e fazendo o bem. Mas, dentro de mim, algo dizia que não devia ficar lá. Queria conhecer o mundo, viver uma vida diferente. Oh, talvez esteja sendo boba e vá rir de mim, mas às vezes sentia vontade de viver mais intensamente, vontade de me divertir.

      Emilie ficou olhando, prestando atenção no que ela dizia e em muitas outras coisas. A moça tinha um tom de voz muito atraente e seus lábios eram sedutores; os olhos brilhantes pareciam transmitir uma enorme variedade de emoções.

      —Estava certa em pensar assim. Você é jovem, Mistral, e seria uma pena alguém tão bonita ficar escondida atrás dos muros de um convento.

      —Bonita? Acha mesmo que sou bonita? Oh, tia Emilie, quero tanto ser bonita, mas não tenho certeza. Sou diferente das outras garotas.

      —Elas não diziam que é bonita?

      Mistral sorriu, e duas covinhas surgiram no rosto.

      —Algumas vezes, diziam. Outras faziam pouco-caso de mim, porque meus cabelos são muito claros. Eu era a única inglesa no internato. A única que não era morena.

      —A única inglesa! Sim, Mistral, você é inglesa, porque sua mãe era inglesa.

      —E meu pai?

      Mistral fez a pergunta depressa, como se as palavras escapassem dos lábios, e notou o rosto de Emilie ficar sombrio.

      Mistral nunca tinha visto alguém com ódio, mas reconheceu imediatamente aquela expressão: os lábios fechados com firmeza, os olhos semicerrados... Emilie parecia um bicho.

      Deu um suspiro, e, naquele momento, a expressão da tia mudou.

      —Bem, não vamos falar de seu pai, agora. Um dia, eu lhe contarei tudo sobre ele, mas no momento temos coisas mais importantes para conversar. Você vai morar comigo, Mistral, e estou muito contente com isso. Quero deixar bem claro, desde o começo, que espero ser obedecida. Você deve me obedecer, mesmo que não entenda os motivos das minhas ordens. Deve me obedecer sem fazer perguntas. Entendeu?

      A voz de Emilie estava dura mais uma vez, e Mistral sentiu medo, mas procurou afastar aquela sensação.

      —Claro que sim. Eu não seria capaz de desobedecê-la.

      —Ótimo. Então vou lhe dizer o que faremos. Hoje, vamos encomendar suas roupas. Mandei buscar madame Guibout, a melhor costureira de Paris. Cobra caro, mas tem todo o direito, pois estudou com monsieur Worth, o costureiro favorito da Imperatriz Eugênia.

      —Oh, obrigada, obrigada, titia. Se soubesse o quanto eu queria...

      —Deixe-me continuar. Tenho outras coisas a dizer. Nós nos vimos poucas vezes, enquanto você esteve no internato nesses últimos doze anos. Não sei muito sobre você, nem lembro histórias da sua infância. Seu avô era o honorável John Wytham, filho mais velho de Lorde Wytham, um nobre inglês. Sou a filha mais velha dele, mas meu pai nunca se casou com minha mãe, que era francesa. Sua verdadeira avó era uma inglesa de família muito distinta. Ela morreu quando sua mãe tinha cinco anos, deixando-a para ser criada pelos pais, Sir Hereward e Lady Burghfield. Sua mãe foi negligenciada e maltratada duramente pelos parentes, e seu avô, meu pai, quando descobriu isso, trouxe-a para a Bretanha e a deixou com minha mãe... e comigo. Papai não era um homem rico e era muito extravagante. Depois que sua mãe morreu, eu sustentei você... sozinha! Durante os últimos doze anos, paguei todas as mensalidades do seu colégio, suas roupas, aulas especiais de música, inglês, francês e alemão. Paguei as aulas de dicção, de dança e os esportes. Tudo isso não estava incluído na matrícula, e eu paguei.

      —Não sabia. Obrigada, tia Emilie.

      —Não quero que me agradeça. Só estou lhe contando isso para que entenda sua posição. Seus parentes na Inglaterra não procuraram sua mãe, quando ela os deixou e foi trazida por meu pai para a França. Nem sei se souberam onde você estava. Portanto, sou sua única parenta: sua tia e sua família.

      Mistral estava perturbada. Havia algo de rude e agressivo no modo de a tia falar.

      —É suficiente que nos entendamos, no momento— Emilie continuou—, agora, tenho algo a lhe dizer. Fui casada com um Conde. Ele morreu, não precisamos mais tocar no nome dele, mas, na verdade, sou Condessa. Para onde vamos, não usarei meu título… permanecerei incógnita por motivos pessoais.

      —Então, vamos viajar? Para onde?

      —Eu lhe conto depois. Vamos fazer uma longa viagem que planejei há anos.

      —Planejou ir... comigo?

      —Sim, planejei ir com você. Vamos conversar sobre isso quando estivermos prontas. Mas lembre de uma coisa: não deve discutir nossa vida com ninguém. Não importa quantas pessoas façam perguntas sobre nós, você não deve dizer nada.

      —Mas, e se as pessoas perguntarem quem sou? O que vou responder? Devo usar outro nome também?

      —Certamente. Não diga a ninguém que seu nome é Wytham. Está bem claro? Eu serei... madame... Madame Secret! É um nome apropriado. As pessoas vão ficar curiosas, e quero que fiquem. Gente curiosa faz perguntas, e quero que façam perguntas. Vão falar, e quero que falem.

      —Mas, tia Emilie, não estou entendendo.

      —Não tem importância. Eu já lhe disse, Mistral… deve me obedecer e confiar em mim. Sei o que é melhor para você e sei o que é melhor para mim mesma. Está claro?

      —Sim, titia.

      —Então, já que estamos de acordo, vamos viajar juntas. E o motivo da viagem, por enquanto, permanecerá em segredo.

      Mistral ia dizer alguma coisa, mas naquele momento, bateram na porta e Jeanne entrou no quarto.

      —Madame Guibout chegou.

      —Ótimo. Peça a ela que entre. Mistral, vá vestir algumas roupas de baixo. Madame vai querer tirar as medidas das anáguas.

      —Mas primeiro a senhorita tem que tomar o café. Coloquei-o no quarto dela há quinze minutos.

      —Como é estúpida, Jeanne. Eu queria que a senhorita tomasse o café aqui. Agora, não tem importância. Vá ao seu quarto e tome o café enquanto estiver se vestindo, Mistral. Não demore.

      —Está bem, titia— dirigiu-se para a porta, seguida de Jeanne, e antes de sair, deu um sorriso para a tia.

      Durante um momento, Emilie achou que era Alice que estava ali, tamanha a semelhança das duas. Parecia que tinha sido no dia anterior que vira aquele sorriso tão doce. Como era linda e adorável! Quantas vezes a tinha abraçado!

      Lembrou o dia em que John Wytham chegou com Alice, urna menininha de cinco anos apavorada e cujos olhos pareciam grandes demais para o rosto... os olhos azuis tão límpidos e os lábios que sempre ficavam trémulos diante de uma palavra dura.

      Emilie estava dando comida às galinhas, quando o pai chegou. Escutou a carruagem vindo pela alameda da fazenda e viu quando ele freou os cavalos e fez um floreio com o chapéu, numa saudação alegre. Depois, estendeu os braços para uma criança sentada a seu lado.

      Caminhou pelo jardim, até a porta da cozinha, com Alice nos braços. Ela se agarrava a ele, escondendo o rosto em seu pescoço. Só se viam os cabelos loiros, caindo pelo casaco de veludo azul.

      John Wytham cumprimentou a filha mais velha do seu modo brusco e familiar:

      —Então, Emilie, ainda não arranjou um marido?

      Ela podia ter dito que era a filha ilegítima de um pintor inglês com a filha de um fazendeiro francês e, por isso, não era fácil arranjar um casamento. Podia ter dito que os homens que se encontravam naquele remoto pedaço da Bretanha eram só camponeses e fazendeiros e nenhum deles a interessava. Podia ter respondido que ele deixasse de ser egoísta e


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