Legado de paixões - O homem que arriscou tudo. Michelle Reid

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Legado de paixões - O homem que arriscou tudo - Michelle Reid


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encanto era apenas uma das muitas características que faziam com que aquele homem conseguisse o que queria. Para sua tristeza, sentiu que os lábios formavam um sorriso.

      Aproveitando a trégua, Anton chamou o comissário de bordo e pediu um chá para Zoe.

      – E diz a Kostas para ir ver o menino. Pareceu-me ouvi-lo.

      O comissário de bordo assentiu e foi na direção indicada. Zoe tentou levantar-se, mas Anton reteve-a, pondo a sua mão sobre a dela.

      – Fica e conversa comigo – disse, num tom rouco.

      Zoe hesitou e perdeu o impulso. Não a parou o desejo de ficar com o seu inimigo, mas a surpresa de os seus dedos descansarem sobre os dela com delicadeza, mais suplicantes do que impositivos. Zoe baixou o olhar e viu o contraste entre a pele de Anton, escura e quente, e a palidez fria da dela. Um calor que começava a parecer-lhe familiar assentou na sua barriga, enquanto se repreendia por ser tão contraditória. Ou odiava Anton ou gostava dele, mas não podia sentir as duas coisas simultaneamente.

      – Não sou o teu inimigo – murmurou ele, como se conseguisse ler-lhe o pensamento. – Sei que te dei motivos para desconfiares de mim. Mas quero demonstrar-te que sou digno da tua confiança.

      Zoe sentiu que queria ceder. Estaria a sofrer da síndrome de Estocolmo? Era uma estúpida por querer acreditar nele?

      Kostas passou ao seu lado a caminho de ver Toby. Numa decisão súbita, Zoe parou-o.

      – Eu vou – disse ao homem da segurança. E sem olhar para Anton, tirou a mão de baixo da dele, levantou-se e foi-se embora.

      Aterraram quando o sol se punha sobre o mar cintilante. Kostas, que parecia ter-se transformado no seu protetor, ocupou-se de tirar Toby da cadeirinha e Zoe não se incomodou em evitá-lo.

      Todos os tripulantes estavam de pé, a recolher as suas coisas, incluindo Anton, que estava de costas. Zoe pensou que tinha umas costas perturbadoramente musculadas e obrigou-se a olhar para outro lado.

      Assim que pararam os motores, Anton falou por telefone. Zoe ouviu-o a dar ordens num tom grave e aveludado.

      Ao ver que ia vestir um casaco, Kostas disse:

      – Não precisa dele, thespinis. A temperatura exterior é de vinte e sete graus.

      Ao pô-lo no braço, Zoe virou-se e descobriu Anton a observá-la com uma expressão perturbada e ela levantou o queixo mecanicamente, consciente de que corara.

      Saíram do avião. Anton precedia-a e Zoe observou que, apesar do calor, vestira o casaco, recuperando o seu aspeto de homem de negócios elegante.

      Kostas, com Toby, fechava o grupo.

      Zoe parou por um instante para se deixar envolver pelo calor e o perfume a jasmim, limão e tomilho que impregnava o ar. Ao fundo da pista havia uma fileira de carros à espera deles: duas limusinas, um pequeno autocarro e um carro junto do qual havia um homem com aspeto oficial.

      Zoe viu que o pessoal de Anton se dirigia para o oficial com os passaportes. Anton seguiu-os com o saco do computador ao ombro, falando ao telefone e fazendo gestos de impaciência com a mão livre.

      Depois de poucos passos, Zoe sentiu uma sensação estranha e, quando a identificou, teve de parar. Estava na Grécia. Pensou: «estou a pisar na terra natal do meu pai pela primeira vez na minha vida.»

      Entre todas as razões por que não quisera fazer aquela viagem, não lhe passara pela cabeça aquela sensação estranha e eletrizante que irradiava dos seus pés e ia percorrendo o seu corpo até se transformar na revelação de que aquele era um dos momentos mais profundos e intensos que experimentara.

      Fechando os olhos, deixou-se levar pela sensação e pela noção peculiar de que finalmente estava em casa, uma ideia absurda, visto que ela era tão britânica como o chá, o cheiro das rosas no verão, ou o Big Ben. Ela era uma rapariga de climas cinzentos e húmidos, uma loira com pele delicada. Era a filha da sua mãe. E, no entanto, naquele instante sentiu que os seus genes gregos pugnavam para escapar dos esconderijos onde até então tinham permanecido e para se apoderar dela como animais famintos. Inclinou a cabeça para trás e respirou fundo, deixando-se possuir por aquela sensação de paz.

      Seria essa a razão pela qual o seu pai não quisera voltar? Sabia que, como ela, experimentaria aquela sensação quase espiritual de que voltava ao seu lar?

      – Zoe…

      Aquela voz novamente, grave, modulada como a do seu pai. Só que naquela ocasião, reconheceu a diferença.

      Baixou o queixo e, ao abrir os olhos, viu Anton, ainda mais bonito sob a luz do seu sol natal. Os seus olhos tinham perdido a sua qualidade de aço e tinham adquirido o aspeto aveludado do chocolate. Olhava para ela com preocupação e os seus braços formavam uma curva ao lado dela, como se se preparasse para a segurar se desmaiasse.

      – Estou bem – murmurou ela.

      – Não parece – disse ele.

      – Foi o choque de estar aqui depois de tantos anos – admitiu. – Não esperava sentir… nada.

      Anton começava a perceber que a bonita filha de Leander Kanellis sentia tudo profunda e apaixonadamente. A curiosidade de como se traduziria essa intensidade na cama ativou os seus sentidos, mas também o fez baixar os braços num gesto brusco de retirada.

      «Território proibido», disse-se. Zoe entrara nele desde que o acusara de andar atrás do dinheiro do seu avô.

      A mudança de atitude em Anton devolveu Zoe à realidade e, ao olhar para o horizonte, viu que só restavam as duas limusinas.

      – Desculpa – disse. – Estou a atrasar-te.

      – Não te preocupes – disse ele, amavelmente. – Já resolvemos todos os trâmites.

      – Onde está Toby?

      – Com Kostas, no segundo carro – Anton tirou um passaporte do bolso e deu-lho. – Aqui tens. Espero que não te importes que Kostas o tenha tirado da tua caixa de documentos.

      – Obrigada – disse ela, pensando que era demasiado tarde para protestar.

      – E agora, se já sentiste a terra dos teus antepassados, será melhor irmos.

      Zoe assentiu e seguiu-o. Percebia que o tinha irritado, mas não sabia exatamente porquê. Encolhendo os ombros, olhou novamente à sua volta com curiosidade. Tinham aterrado num pequeno aeroporto privado e, ao longe, via-se o mar e colinas cobertas de pinheiros.

      – Onde estamos? – perguntou.

      – Em Thalia – disse Anton.

      Zoe acelerou o passo para o alcançar.

      – Thalia era a filha de Zeus – comentou, tentando recordar a mitologia grega.

      – Ou a ninfa da juventude – sugeriu ele.

      – É uma ilha? – inquiriu Zoe com desconfiança, parando bruscamente.

      Anton chegara ao carro e virou-se com um ar de impaciência.

      – Importas-te de deixar as lições de história grega para outro momento? Está a tornar-se tarde e tenho de voltar antes de anoitecer.

      Zoe virou-se, observando os arredores. Estavam rodeados de mar. Devia tratar-se de uma ilha muito pequena.

      – Fizeste-o novamente, não foi? – perguntou, irada. – Quebraste a tua promessa!

      Anton suspirou.

      – É impossível ter uma conversa normal contigo. Pode saber-se o que se passa agora?

      – O que se passa? – Zoe levantou os braços. – Isto! Tencionas ir-te embora e deixar-nos com Theo Kanellis.

      – Enlouqueceste? – perguntou Anton, indignado. – Esta ilha é minha, não de Theo. Nem sequer sabes onde nasceu o teu pai?

      A julgar pela cara de surpresa de Zoe,


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