Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos. Andrea Laurence

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Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos - Andrea Laurence


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a gente se estão bem e agradece a todos pela visitas e por lhe levarem coisas. É doce, considerada, engraçada... não se parece nada com a mulher que foi para Chicago.

      – Até sorris quando falas dela – Alex inclinou-se para a frente com o sobrolho franzido. – As coisas mudaram mesmo a sério. E tu gostas – acusou.

      – Sim. É mais agradável e gosto de estar com ela. Os médicos dizem que a sua amnésia, provavelmente, será temporária. Pode voltar à normalidade a qualquer momento. Recuso-me a investir na relação para acabar onde comecei.

      – Provavelmente temporária pode significar possivelmente permanente. Talvez fique assim.

      – Não interessa – Will abanou a cabeça. Típico de Alex animá-lo a arriscar. – Pode ser que ela não se lembre do que fez, mas eu lembro-me. Nunca mais vou ser capaz de voltar a confiar nela, e isso significa que acabámos.

      – Ou esta poderia ser a tua segunda oportunidade. Se realmente está uma pessoa diferente, trata-a como se fosse. Não tenhas em conta um passado do qual não se lembra. Ainda perdes qualquer coisa fantástica.

      Alex tinha dito precisamente aquilo que Will temia pensar. Estar com Cynthia era como conhecer uma mulher nova. Pensava nela quando tinha que concentrar-se no trabalho e quase corria para vê-la quando saía do escritório. Aquela tarde tinha sentido um arrepio inegável quando se tinham tocado. Não sabia se era por ela ter estado tão perto da morte ou se pela sua mudança de personalidade, mas parte dele queria seguir o conselho de Alex.

      No entanto, ainda que não parecesse, a antiga Cynthia continuava dentro dela. Aquela mulher desagradável e infiel que tinha espezinhado os seus sentimentos, acabaria por vir ao de cima. Will tinha acabado com ela e não ia entregar o seu coração, a sua liberdade e mais anos da sua vida àquela relação.

      Os médicos diziam que em breve poderia voltar para casa. Tinha a certeza de que Pauline e George iam querer que ficasse com eles na quinta, mas Will ia fazer questão de que voltasse para o loft que eles partilhavam para cuidar dela. Era o mais natural. Estaria mais perto do médico e estar rodeada das suas coisas podia ajudá-la.

      E se com isso recuperasse a memória, poupava-se ao trabalho de ter que acabar com ela uma segunda vez.

      «Quer trocar de lugar?».

      As palavras ecoavam na sua mente. Os seus sonhos misturavam a realidade com a fantasia, e os calmantes ainda tornavam tudo mais confuso.

      «O meu nome é Cynthia Dempsey».

      Franziu a testa. Cynthia Dempsey... Gostava que parassem de chamá-la assim. Mas não sabia como queria que a chamassem... Se não era Cynthia Dempsey, não devia saber quem era?

      E sabia. Tinha o seu nome na ponta da língua. Mas a explosão de um motor e o fogo tinham-no apagado da sua mente. Depois continuou aquela horrível sensação de queda livre em direção ao chão.

      – Não!

      Endireitou-se de repente. Tinha o coração tresloucado e estava ofegante. O monitor começou a apitar e rapidamente chegou uma enfermeira do turno de noite.

      – Como está, senhorita Dempsey?

      – Pare de chamar-me assim – respondeu ela, demasiado dormente para ter bons modos.

      – Bom... Cynthia. Está bem?

      Quando ligou a luz de noite, viu que era Gwen, a sua enfermeira favorita. Era uma rapariga do sul, pequenina e com o cabelo loiro platinado encaracolado e uma atitude positiva perante a vida.

      – Sim – esfregou os olhos com a mão boa. Tive um pesadelo. Desculpe ter-lhe gritado.

      – Não se preocupe – disse Gwen com um forte sotaque sulista. Desligou o alarme e comprovou o soro. – Muitos pacientes com trauma têm pesadelos. Quer que lhe dê alguma coisa para dormir?

      – Não. Estou cansada de... de não me sentir eu mesma. Embora comece a perguntar-me se isto terá alguma coisa a ver com a medicação.

      – Sofreu um grande trauma – Gwen sentou-se na beira da cama e deu-lhe uma palmadinha no joelho. – É possível que nunca volte a sentir-se como antes. Ou que, quando isso acontecer, não o saiba. Tente desfrutar de como se sente agora.

      Cynthia decidiu aproveitar a única pessoa com a que podia falar sobre aquele tema. Will nunca iria compreender e para Pauline seria demasiado doloroso. A sua mãe passava horas no hospital, mostrando-lhe fotos e contando-lhe histórias, procurando a chave que pudesse abrir a porta da sua memória. Dizer-lhe que não se sentia ela mesma seria um insulto ao esforço de Pauline.

      – Tudo me parece errado. As pessoas. A sua forma de me tratarem. Isto é, veja isto – tirou a mão da tala para lhe mostrar o anel de noivado.

      – É lindo – disse Gwen educadamente, embora os seus olhos castanhos se tivessem aberto como pratos ao ver o enorme diamante.

      – Deixe lá. Ambas sabemos que isto podia dar de comer a um país do terceiro mundo durante um ano inteiro.

      – Provavelmente – concedeu a enfermeira.

      – Isto não tem nada a ver comigo... Não me sinto uma rapariga de bairro de boas famílias que andei numa escola privada e sempre tive tudo o que queria... Sinto-me um peixe fora da água. Se esta era a minha vida, por que me parece tão longínqua? Como posso ser quem sou quando não sei quem era?

      – Querida, esta conversa é demasiado profunda para se ter às três da manhã. Mas vou dar-lhe um conselho de peixe de Tennessee em águas de Manhattan: pare de se preocupar por quem era e seja você própria.

      – Como é que faço isso?

      – Para começar, pare de lutar. Quando sair deste quarto para iniciar a sua nova vida, aceite que é a Cynthia Dempsey. Depois, faça o que quiser. Se a nova Cynthia preferir um jogo de basebol a uma sinfonia, tudo bem. Se já não gosta de caviar e de vinho caro, coma um hamburguer e beba uma cerveja. Só você sabe quem quer ser agora. Não deixe que ninguém mude isso.

      – Obrigada, Gwen – inclinou-se para ela e deu-lhe um abraço. – Dão-me alta manhã. O Will vai levar-me de volta para o nosso loft. Não sei o que me espera ali mas, se me apetecer uma cerveja e um hamburguer, posso telefonar-te?

      – Claro que pode – Gwen sorriu e anotou o seu número de telefone no caderno que Cynthia usava para tomar notas. – E não se preocupe. Não posso imaginar um mau futuro se o Will Taylor fizer parte dele.

      Cynthia sorriu. Oxalá Gwen tivesse razão.

      Will observou Cynthia a passear pelo andar como se estivesse num museu. Tinha de reconhecer que ele também achava isso, com tanto cristal, mármore e cabedal. Não era o que ele teria escolhido, mas tudo cumpria a sua função, de modo que lhe era indiferente.

      Ela examinou cada quarto, admirando os quadros e acariciando os tecidos, aparentemente comprazida. Ele pensou que só podia gostar. Ela e o seu maldito decorador tinham escolhido tudo.

      Cynthia, condicionada pela rigidez dos músculos, mexia-se lentamente. Tinham-lhe substituído o gesso do braço por uma tala para poder tirá-la quando tomasse banho. Todas as ligaduras e pontos tinham desaparecido e só tinha algumas zonas do rosto e corpo descoloridas. Se não fosse porque estava um pouco coxa e pela tala, ninguém saberia dizer por que tipo de trauma tinha passado.

      Pauline tinha-a levado ao cabeleireiro do hospital para que a penteasse antes de sair. Tinham-lhe cortado as madeixas queimadas pelo fogo e a estilista transformara o desastre num penteado curto e liso que lhe caía até os ombros. Era uma transformação que Will tinha apreciado. Um novo estilo para a nova mulher da sua vida.

      Will virou-se e viu Cynthia a olhar para a gigantesca foto de noivado exposta na parede da sala. Praguejou para si. Tinha vasculhado o andar inteiro para tirar todas as suas fotos, como Pauline lhe tinha pedido, mas tinha-se esquecido da mais proeminente. Pelo que ele sabia, ainda


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