Crimes Esotéricos. Stefano Vignaroli

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Crimes Esotéricos - Stefano Vignaroli


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      CAPÍTULO 3

      Aurora Della Rosa

      Larìs não tinha medo de atravessar a ponte suspensa. Ela procurou os olhos azuis-esverdeados de Aurora, que lhe davam toda a força e energia de que precisava. A conhecia há pouco tempo, mas confiava nela e em seus poderes esotéricos.

      Larìs Dracu era originária da Transilvânia, uma região da Romênia, que no final da década de 1980 ainda era governada por um ditador comunista. Aos dezoito anos, ela já havia ganhado a fama de bruxa anticomunista e, para não cair nas mãos da polícia secreta do General Ceausescu, com muitas dificuldades chegou à Itália. Ela foi até um pequeno vilarejo na Ligúria, onde sabia viver uma adepta da mesma seita que a sua, que a ajudaria e guiaria em sua jornada para o nível mais alto, aquele além do sétimo, o do conhecimento universal. Quando chegou à casa de Aurora no dia do equinócio da primavera, ao meio-dia, percebeu que sua anfitriã a esperava na soleira, com a porta aberta. Ela não ficou surpresa, pois conhecia os poderes videntes da feiticeira. Sentiu que ela a observava com satisfação. Larìs era uma belíssima garota, com cabelos pretos brilhantes, presos para trás em um rabo de cavalo curto, olhos escuros, quase pretos, e traços faciais delicados. As linhas curvilíneas do seu corpo sugeriam, sob as roupas justas, uma perfeição de seios, nádegas e pernas que era rara de se ver. Na feiticeira, ela viu uma mulher de sessenta anos em excelente forma, com cabelos loiros levemente grisalhos e olhos que mudavam de cor, do azul ao verde, dependendo da luminosidade do ambiente. Seu corpo ainda tinha o vigor dos quarenta anos e sua pele era lisa, firme e sem rugas evidentes. Seu olhar era magnético e, quando seus olhos encontraram os de Aurora, Larìs sentiu um forte desejo sexual pela feiticeira. Aurora pronunciou algumas palavras em um idioma incompreensível para os mortais comuns. Ela não se expressou na língua occitana, típica daquela área fronteiriça entre a Itália e a França, mas a jovem era capaz de compreendê-la, pois havia aprendido aquele idioma quando criança, quando sua mãe a iniciou em práticas mágicas e esotéricas. Semants era a antiga língua dos adeptos, cuja origem se perdeu nos ecos do tempo, um idioma conhecido desde os tempos dos faraós egípcios por mágicos e xamãs, mas que tinha origens ainda mais antigas. Larìs foi convidada por Aurora a entrar na casa e foi conduzida a um salão quadrado. Uma das paredes do salão era inteiramente ocupada por um espelho, o que dava a impressão de que o cômodo era muito maior do que realmente era, enquanto nas outras três paredes havia estantes, que abrigavam muitos livros e manuscritos e alguns vasos de porcelana, do tipo usado antigamente em farmácias e lojas de ervas.

      Larìs ficou especialmente encantada pelo piso, em mármore altamente polido de diferentes cores, amarelo, turquesa e verde-esmeralda. Com os azulejos coloridos, como se fosse um mosaico, havia um desenho de um dos principais símbolos esotéricos, um pentáculo, uma estrela de cinco pontas inscrita em um círculo, por sua vez inscrito no perímetro quadrado da sala.

      O símbolo do espírito, uma espécie de asterisco, desenhado no ladrilho pentagonal central, delimitado pelas linhas de cuja união se originava a estrela de cinco pontas, indicava o centro exato da sala. Em cada um dos outros setores em que o piso estava dividido pelas linhas e arcos do círculo, podiam ser reconhecidas algumas figuras, cada uma ligada à simbologia esotérica: a lua crescente e minguante, a lua cheia, a conjunção do sol com a lua no eclipse parcial e no eclipse total, e diversas outras. Larìs estava ao mesmo tempo fascinada e envergonhada.

      ‒ Na casa onde eu morava, na Transilvânia, havia um salão idêntico a este ‒ disse ela, dirigindo-se a Aurora na mesma língua em que a feiticeira havia falado pouco antes. ‒ O ladrilho central indica o local exato onde algo importante aconteceu no passado, algo infinitamente belo ou extremamente terrível. Minha mãe adotiva, Cornelia, costumava contar que, no local onde agora era nossa casa, há muitos séculos, um príncipe que desceu das montanhas dos Cárpatos, em uma noite de lua cheia, amou uma bela donzela e dessa união nasceu a criança que daria origem à nossa progênie. Mas, além dessa lenda, também estou ciente de que, ao pressionar para baixo a peça central, é acionado um mecanismo que revela uma sala secreta escondida atrás do espelho. Cornelia levava no pescoço uma corrente de ouro, na qual havia um anel com uma pedra em forma de pentáculo, que se encaixava perfeitamente em uma fechadura, escondida atrás de uma estante. Então, ela abaixava o ladrilho pentagonal, de modo que o espelho se movia, dando acesso à sala secreta. Ali estavam armazenados livros, manuscritos, pergaminhos, até mesmo muito antigos, que seus ancestrais lhe haviam transmitido e que eram o conhecimento ao qual ela concedia acesso àqueles que aspiravam a se tornar adeptos do sétimo nível.

      ‒ Pelo modo como você fala e pelo que percebo com meus poderes, sei que você já teve acesso a esses documentos e possui, como eu, os poderes e a sabedoria do sétimo nível, portanto, não é necessário que eu abra a sala secreta para você. Juntas, porém, poderemos trilhar o caminho que nos levará ao nível mais alto, o do Conhecimento Universal.

      Enquanto falava, Aurora tirou um pouco de tabaco de um precioso recipiente de porcelana e colocou em dois papéis de seda, a fim de enrolá-los habilmente em dois cigarros. Ofereceu um a Larìs, depois acendeu um fósforo, aproximando-o primeiro do cigarro da jovem e depois do seu.

      Respirando fundo a fumaça, Larìs percebeu que ao tabaco haviam sido adicionadas substâncias entorpecentes e estimulantes, mas ela já estava acostumada a fumar esse tipo de mistura. Se não estivesse, ela teria sido vítima da vontade da feiticeira, como em uma hipnose provocada tanto pela droga quanto pelos poderes ocultos de Aurora. Em vez disso, a droga estimulou nela o desejo sexual, e ela se aproximou de Aurora, se deixando beijar e acariciar. Terminados os cigarros, elas se despiram e se deitaram juntas no chão nu, até Larìs atingir o orgasmo.

      ‒ Agora que unimos nossos corpos, uniremos nossas mentes e nossas almas ‒ disse Aurora à garota ainda ofegante de prazer. ‒ Hoje é um dia especial, único, e devemos usar nossos poderes, unidas, para invocar o espírito de Artemisia, minha ancestral queimada na fogueira há exatos quatro séculos.

      Larìs acompanhava o discurso com curiosidade, enquanto observava que a luz que entrava pela janela estava diminuindo e a lua cheia já era evidente no céu ainda azul do final da tarde.

      ‒ No dia 21 de março de 1589, há exatamente quatrocentos anos, Artemisia foi amarrada à estaca, fincada no chão bem ali, onde agora se vê o ladrilho pentagonal marcado com o símbolo do espírito. Hoje é o equinócio da primavera, e a lua cheia, em poucas horas, será obscurecida pela sombra da Terra em um eclipse total. É uma conjunção astral muito rara de ocorrer. Noite ideal para um Sabbath, mas não é isso que nos interessa. Você chegou aqui nesse momento, porque eu sozinha não teria forças para fazer o que estamos prestes a fazer.

      Pegou então uma tesoura muito afiada e cortou cuidadosamente seus louros pelos pubianos até deixar a área genital completamente glabra. Ela os recolheu dentro de um cálice dourado e, depois, realizou a mesma operação em Larìs, coletando pelos muito mais escuros do que os seus. Em seguida, pegou ervas secas de alguns recipientes, incluindo um pouco do tabaco que haviam fumado antes, e misturou tudo, acrescentando um pouco de óleo, e então colocou cuidadosamente o cálice sobre o ladrilho central. Preparou mais dois cigarros, que elas fumaram, ainda nuas, até atingirem um certo grau de entorpecimento, quase ao ponto do transe. Enquanto isso, já havia escurecido e o grande círculo da lua brilhava no céu, sendo lentamente obscurecido pela sombra da Terra, naquele raro momento mágico de alinhamento dos três corpos celestes. No momento em que a lua ficou completamente encoberta e sua posição no céu era evidente apenas como um halo avermelhado, as duas mulheres nuas, sentadas no chão, uniram as mãos e os pés para formar um círculo ao redor e acima do cálice. Aurora pronunciou uma fórmula mágica:

      ‒ Has Sagadà, Artemisia.

      A janela se escancarou, um raio entrou no salão e, depois de ricochetear várias vezes nas paredes, incendiou o conteúdo do cálice. Uma fumaça acinzentada subiu, com o odor fétido de carne queimada, reminiscente do cheiro da bruxa morta na fogueira quatro séculos antes. A fumaça se moldou e tomou a forma de uma mulher que, girando e dançando, chegou até Aurora e se fundiu com seu corpo. Agora Aurora era Artemisia e Artemisia era Aurora. Larìs assistiu impotente


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