Uma Orquidea Para Chandra. Barbara Cartland

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Uma Orquidea Para Chandra - Barbara Cartland


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um pressentimento, e costumo segui-los, de que vamos encontrar o manuscrito! E ele será trazido para cá, a fim de que o senhor possa realizar seu trabalho de pesquisa e tradução.

      Lord Frome devia ter se levantado, pois Chandra ouviu o ruído de uma cadeira sendo empurrada, escutando depois:

      –Parto esta noite, professor, e espero que possa juntar-se a mim, o mais depressa possível, em Bairagnia.

      –Como poderei fazer isso? Não planejei nada!

      –Tomei a liberdade de reservar uma cabine no navio Bezwada, que vai zarpar de Southampton, na próxima quarta-feira. Quando o senhor chegar a Bombaim, já deverei ter partido para o norte, mas o esperarei em Bairagnia.

      Fez uma pausa, e Chandra presumiu que estivesse sorrindo ao dizer:

      –Sei que já andou muito a cavalo, professor… espero que não tenha abandonado esse exercício ao viver aqui na Inglaterra.

      –Está dizendo que precisarei montar para entrar no Nepal?

      –Isso mesmo, a estrada de ferro termina em Bairagnia. Depois, leva-se dois dias cavalgando por uma região montanhosa antes de chegar à “estrada”, se é que assim possamos chamá-la, a que vai dar a Katmandu.

      –Não poderá ser pior do que a viagem que fiz a cavalo para o Tibete, há dez anos. Às vezes imagino como não morri congelado ou me perdi nas tempestades de neve que quase me impossibilitavam de encontrar o caminho.

      –Um passo em falso e estaria no precipício!– acrescentou Lord Frome, rindo–, o Nepal não é assim tão ruim, embora seja chamado “o teto do mundo”.

      –Tranquiliza-me, milorde– observou o professor–, eu ando muito bem a cavalo.

      –Aqui está sua passagem para o navio e dinheiro suficiente para as despesas da viagem. Um de meus empregados o esperará em Bombaim, com as passagens do trem. Ele vai viajar com o senhor e cuidar para que tudo lhe seja satisfatório.

      –Sempre soube que o senhor é um homem prático e um viajante muito eficiente, milorde– observou o professor.

      –Realmente sou– replicou Lord Frome, num tom um tanto duro.

      –Faço meus planos com bastante antecedência, e se não forem impedidos por qualquer imprevisto, tudo corre calmamente.

      –Vou esperar ansiosamente pela nossa grande aventura no Nepal– disse o professor–, e como o senhor sempre é bem-sucedido, milorde, espero que desta vez não se dececione.

      –Duvido muito– replicou Lord Frome.

      Chandra escutou os dois atravessarem o escritório dirigindo-se para o vestíbulo. Compreendeu que seu pai estava acompanhando o Lord até a porta de entrada.

      Pensou em juntar-se aos dois, mas desistiu. Tinha a impressão de que ele não se interessava pela vida particular de seu pai, e tampouco fazia questão de conhecê-la.

      Lord Frome não se preocupara por estar interrompendo a vida familiar do professor, se é que sabia de sua existência, ao ordenar aquela partida, quase que imediata para o Nepal.

      Pela sua voz autoritária, deduziu que devia ser um homem habituado a dar ordens sem admitir réplicas. Evidentemente, sabia que o professor ficaria emocionadíssimo ao ouvir falar do manuscrito raro e até o momento desconhecido.

      Contudo, poderia ter mostrado um pouco de humanidade, desculpando-se pelo transtorno que estaria causando a um homem idoso, tendo que abandonar sua casa na Inglaterra sem um aviso prévio de alguns dias.

      Ao ouvir bater a porta de entrada, Chandra saiu da sala de visitas escura. O pai estava voltando para o escritório. Em seu rosto transparecia uma expressão de deslumbramento.

      –Papai…– ele porém, a interrompeu.

      –Pôde escutar o que foi dito, Chandra? Presumi que o fizesse na sala vizinha.

      –Sim, papai. Estive ouvindo.

      –Imagine! O “Manuscrito Lótus”! Sempre ouvi falar e sonhei com ele desde menino. Jamais pensei que o veria… que pudesse tê-lo em minhas mãos!

      –Não pode ter certeza de que o encontrará, papai. Por favor, conte-me algo a seu respeito.

      O professor deixou-se cair numa poltrona de couro desbotado e gasto, mas a mais confortável da sala.

      –Segundo se supõe, o “Manuscrito Lótus”, como é conhecido na linguagem comum entre os estudiosos dos textos orientais, foi escrito por um dos discípulos de Buda enquanto ele ainda vivia. Nele estão narradas explicações, que não constam de quaisquer outros livros. Por ser tão sagrado para os adeptos de Buda, foi escondido logo após sua morte para evitar que caísse em mãos impróprias.

      –Onde o esconderam?– perguntou Chandra.

      –Pelo que sei, foi levado de uma lama para outra, carregado pelas montanhas e rios! Sempre foi tratado com grande reverência, contudo não permaneceu em nenhum lugar por muito tempo.

      Graças aos seus estudos sobre o Oriente, Chandra sabia que isso era típico daqueles homens santos que sempre suspeitavam que algo de tão precioso pudesse ser roubado ou, o que era pior, dos inimigos de sua religião que desejassem destruir o que não compreendiam.

      –Acredita realmente que uma coisa tão valiosa pudesse acabar num Convento budista do Nepal?– perguntou.

      –Sabemos pela Coleção Hodgson quão inesperadamente importantes demonstraram ser as obras budistas, em sânscrito, no Nepal. Talvez esse convento, já não muito útil, pudesse ter tido no passado um abade encarregado de salvar o “Manuscrito Lótus”!

      –Mas, papai, não vê que essa viagem será muito penosa? O senhor será forte o suficiente para empreendê-la? Para poder cavalgar pelas montanhas?

      Como o pai não respondesse, prosseguiu:

      –Sei que o senhor já fez isso no passado… mas era muito mais moço.

      –Ainda não estou senil– replicou o professor, rispidamente–, não vejo nenhum motivo para não tornar a fazer o que fiz inúmeras vezes no passado.

      Pela expressão do pai, compreendeu que ele estava enlevado pela ideia daquela viagem, e não adiantava tentar dissuadi-lo. Em vez disso, o melhor que teria a fazer para auxiliá-lo era supri-lo de todo amor e conforto. Aproximou-se dele e beijou-lhe a testa.

      –Será muito emocionante, papai. Gostaria de poder ir com o senhor.

      –Eu também, querida. Para ser franco, sentirei sua falta.

      Chandra sabia que era verdade. Ele a sentiria, não só porque se habituara a ser cuidado por ela, mas por confiar no trabalho que faziam juntos.

      –Sei que se arranjará sem mim– disse ela em voz alta, para inspirar-lhe confiança–, só que existe uma dificuldade… o que eu vou viver, enquanto o senhor estiver fora?

      Julgou que seu pai lhe diria que não desejava ser importunado com raiz banalidades, mas ele respondeu:

      –É evidente que não ouviu o que o Lord Frome me disse ao sair do escritório.

      –O que foi, papai?

      –Disse: “Esqueci de mencionar, professor, que insisto em pagar muito bem pelos seus serviços. Eis aqui um cheque de seiscentas libras, e haverá um outro da mesma importância para quando voltar com o manuscrito, e nele começar a trabalhar”.

      –Mil e duzentas libras! Mal posso acreditar, papai!

      –Parece uma quantia enorme– retrucou o professor–, mas enquanto isso… haverá despesas, e evidentemente ignoramos quanto tempo levarei para traduzir o manuscrito.

      No momento, Chandra estava disposta a dispensar tudo aquilo como desnecessário. O que importava era poder pagar


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