Duelo De Corações. Barbara Cartland

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Duelo De Corações - Barbara Cartland


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noite Caroline ficou acordada durante horas, inquieta, desejando poder falar sobre seus problemas e aconselhar-se com alguém. Reconhecia que cometera uma loucura quando aceitara sair de carruagem sozinha com sir Montagu. Ao mesmo tempo, não se arrependia inteiramente do que fizera.

      Se não tivesse ido à estalagem The Dog and Ducky não teria conhecido lorde Brecon nem teria sido beijada por ele. Ao lembrar que ele também beijara com entusiasmo a exótica domadora de tigres, Caroline sentiu uma pontada no peito.

      Com sua bela aparência, tendo tanta importância e possuindo valiosas propriedades, lorde Brecon devia ter dezenas, senão centenas de admiradoras.

      Pela primeira vez na vida a alegre e despreocupada Caroline Faye, conheceu o ciúme e a amargura, responsáveis pelas olheiras que lhe marcavam o rosto na manhã seguinte. O Marquês e a Marquesa notaram aquele abatimento e atribuíram-no à tristeza que a filha sentia por separar-se deles.

      Lady Serena, ao contrário, estava radiante. Aos trinta e seis anos era tão jovem que nem parecia ter uma filha de dezessete anos.

      —Façam boa viagem e divirtam-se— Caroline desejou aos pais—, esqueçam tudo o que deixaram para trás e não pensem em mim. Nada me acontecerá.

      —Gostaria de ter certeza disso— disse lady Vulcan—, você é uma doçura, filha, mas é também como seu pai.

      —E isso não é bom?— indagou a filha com ar brincalhão.

      —Há qualidades que ficam bem em um homem, mas não numa mulher. Você herdou a determinação, a coragem e a ousadia de seu pai, quando devia ser dócil e mansa. Devo acrescentar que também é impetuosa e impulsiva. Se quer me ver partir tranqüila, filhinha, prometa-me ser, na minha ausência, inteiramente feminina e suave.

      Caroline riu.

      —Prometo esforçar-me para ser assim.

      O coche partiu e depois de desaparecer de vista, lady Edgmont comentou:

      —Espero que nada aconteça aos primos. Eu não me arriscaria a viajar num desses vapores fumegantes nem por cem guinéus.

      —Eu adoraria viajar num navio a vapor. Você precisa aceitar o progresso, Debby. Estamos em 1821, não na Idade Média!— achando que poderia ter magoado a prima, Caroline acrescentou em outro tom—, venha comigo. Vou pedir que nos sirvam chocolate e conversaremos sobre o que fazer nos próximos dias.

      As duas foram para a sala de desjejum. Logo depois de terem sido servidas, Caroline perguntou distraidamente:

      —Você já ouviu falar no Conde de Brecon, Debby?

      Foi tão grande a surpresa de lady Edgmont que ela colocou a xícara sobre a mesa com barulho.

      —Que pergunta mais estranha! Sabe que ontem pela manhã, juntamente com a carta de sua madrinha, recebi também uma carta vinda do Castelo de Brecon?

      —Do Castelo de Brecon?!— Caroline endireitou-se na cadeira—, você conhece alguém desse Castelo?

      —Um momento. Tenho a carta comigo— Debby abriu a bolsa de veludo azul e encontrou o envelope que procurava—, deixe-me ver. Sim, é esta a carta. Castelo de Brecon, Cuckhurst, Kent.

      —Cuckhurst! E esse o nome da aldeia onde fica o Castelo?

      —Creio que sim.

      —O que diz a carta e quem a enviou?

      —Fanny Hall, uma velha amiga. Na verdade, meu marido era seu parente distante. Fanny é uma pessoa adorável e de família aristocrática. Ela nunca se casou e depois da morte do pai, achando-se em má situação financeira, precisou arranjar um emprego. Faz um ano que ela trabalha no Castelo de Brecon como dama de companhia da viúva Condessa.

      —Sim, mas o que sua amiga diz nessa carta?— Caroline perguntou, impaciente.

      —Fanny vai deixar o emprego para morar com o irmão que voltou recentemente da Índia, muito rico.

      —Ela não fala sobre as pessoas que moram no Castelo ?

      —Sim, elogia lady Brecon a quem é muito devotada e sente deixar. A respeito de certos empregados que estão felizes em vê-la pelas costas Fanny diz na carta: "... são pessoas que conseguem um emprego de confiança e responsabilidade mas têm um comportamento repreensível e abusam daqueles que nelas confiam".

      —Mas não fala de quem?

      Minha amiga é muito discreta e não cita nomes, naturalmente.

      Lady Edgmont pegou outra folha da carta.

      —Aqui há um òutro trecho interessante: "Os criados não param no emprego e ninguém pode culpá-los, dadas as circunstâncias".

      —Que circunstâncias seriam?— o interesse de Caroline aumentava cada vez mais.

      —Nem imagino. Fanny não iria escrever sobre isso, mesmo porque a finalidade da carta é perguntar-me se conheço uma pessoa detooa aparência, bem educada e de confiança para substituí-la. É uma pena... — Debby ficou pensativa.

      —A filha do advogado de seu pai estava procurando emprego mas já está trabalhando…

      —Já sei, Debby!— Caroline ficou de pé—, conheço alguém que aceitará o emprego.

      —Quem é?

      —É… uma ex-colega de escola, de quem eu gostava muito.

      —Acha mesmo que uma colega de escola iria sujeitar-se a trabalhar como dama de companhia?— Debby olhou para a prima com desconfiança—, digo isto, porque todas as garotas, eram orgulhosas e filhas de aristocratas.

      —Essa colega em quem estou pensando é simples e pobre.

      —Trata-se de uma jovem de boas famílias?

      —De família muito distinta. Por favor, recomende-a, Debby.

      —Bem… não sei… fale-me sobre essa amiga. Onde ela mora? Como você pode saber se o emprego a interessa?

      —Minha amiga é orfã e precisa trabalhar. Ela mora com um parente… o pastor da aldeia de Cuckhurst. Tanto ela como a filha do pastor foram minhas colegas. Quem pagava os estudos de ambas era o dono do Castelo de Brecon. Por favor, Debby, escreva para Fanny recomendando minha amiga para trabalhar no Castelo como dama de companhia da Condessa. Posso levar a carta de recomendação pessoalmente.

      —Realmente, Caroline, ainda não me decidi a escrever a carta, e mesmo que eu a escreva, não há necessidade de você fazer uma viagem longa como essa. Para que servem as diligências postais?

      —Eu adoraria rever essa amiga e Harriet… que é a filha do pastor. Oh, prima Debby, esta casa é muito triste sem papai e mamãe.

      —Você me coloca em cada situação… não sei o que pensar ou dizer. Não acho correto recomendar uma pessoa que nunca vi. Sua mãe concordaria comigo…

      —Mamãe conhece minha amiga e gosta muito dela— Caroline apressou-se em dizer.

      —É mesmo? Por que você não me disse logo que Serena a conhecia?— Lady Edgmont fez uma pausa e disse pouco depois—, acho melhor você escrever para sua mãe e pedir-lhe que ela mesma providencie a carta recomendando sua amiga.

      —Já imaginou quanto tempo levaria para termos essa carta de recomendação em mãos? Até mamãe responder a vaga já terá sido preenchida.

      —Sim, sim, claro! Como Serena ficou conhecendo sua amiga? Ela já esteve hospedada nesta casa?

      —Naturalmente. Mamãe e papai gostam muito dela e tratam-na como se fosse da família... como uma filha. Por favor, Debby, redija a carta, já. Enquanto isso, vou escrever um bilhete para Harriet avisando que irei visitá-la e um cavalariço o levará a Cuckhurst.

      —Você não pode viajar sozinha. Eu a acompanharei.


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