Duelo De Corações. Barbara Cartland

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Duelo De Corações - Barbara Cartland


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uma jornada exaustiva— lorde Brecon estava dizendo—, podemos contar com a sua hospitalidade, Adam? Estamos com fome e sede.

      —Naturalmente! Só receio não termos aqui os pratos aos quais está acostumado. Gostariam de bacon e ovos?

      —Para mim está ótimo!— aprovou lorde Brecon—, e você, Srta. Fry?

      —Aceito com prazer.

      —E para beber orgulho-me de oferecer-lhes champanhe da melhor qualidade que eu trouxe da França.

      Enquanto falava Adam Grimbaldi tirou uma garrafa de um armário aos fundos do carroção e colocou-a sobre a mesa. Caroline notou que aquela casa sobre rodas tinha, em móveis compactos, tudo o que era necessário. Havia ali armários, prateleiras, a mesa, cadeiras, quadros e enfeites. O divã com diversas almofadas era também um confortável leito e um fino tapete persa cobria o assoalho.

      —Isto aqui é muito aconchegante!— Caroline disse a Zara.

      —Este é o carroção de Adam. O meu não é tão grande, mas é muito mais bonito— Zara respondeu—, por favor, madame, tire o chapéu e fique à vontade.

      —Oh, sim. Obrigada.

      Desamarrando o laço sob o pescoço Caroline livrou-se do chapéu elegante e grande, no rigor da moda, deixando à mostra os cabelos longos, cácheados e loiros com reflexos ruivos. A luz das lanternas presas às paredes eles ganharam mais brilho. Pela primeira vez lorde Brecon pôde vê-la claramente.

      Ficou encantado com a beleza daquele rosto oval, perfeito, pousado sobre o longo pescoço alvo. Admirou o nariz pequeno, bem feito, os lábios cheios e vermelhos. Mas eram os olhos intensamente azuis, grandes, vivos, alegres e travessos, o que havia de mais lindo em Caroline. A evidente surpresa de lorde Brecon e a admiração impressa em seu olhar fez com que ela abaixasse os olhós e sentisse no rosto um súbito rubor. Mentalmente ele a comparou à figura de uma ilustração de algum conto de fadas, com a diferença que nada em Caroline era estático.

      Ao contrário, era cheia de vida e emanavam dela uma alegria e um entusiasmo contagiantes.

      —Fale-me sobre seus animais— Caroline pediu ao Sr. Grimbaldi— são muitos?

      —Temos um grande número deles, milady. Os três leões são o meu orgulho. César, o mais velho, é bem treinado e manso como um gato. Eu o criei desde filhote e atualmente posso fazer com ele o que quiser, sem correr o perigo de ser atacado.

      Adam Grimbaldi continuaria falando com entusiasmo sobre seus animais, não fosse o rapazinho moreno ter aparecido com o prato de bacon e ovos. Os visitantes foram servidos e terminada a breve refeição, lorde Brecon passou a falar sobre o motivo de ter vindo procurar o amigo.

      —Bem, Adam, você não me fez perguntas, mas acredito que esteja curioso para saber qual a razão desta visita em hora tão imprópria.

      —Seja qual for o motivo, sabe que estou a seu inteiro dispor, milorde— disse Adam amavelmente—, basta expor o que deseja e o atenderei.

      —O que lhe vou pedir é algo desagradável. Você estaria disposto a comparecer diante de um tribunal e testemunhar a meu favor?

      O Sr. Grimbaldi deu de ombros.

      —Enfrentar juizes e promotores nunca é agradável, mas farei isso, sem dúvida, milorde.

      —Na França temos um termo rude para designar os juizes e promotores— Zara aparteou—, mas não vou repeti-lo para não ofender os ouvidos da lady aqui presente.

      —Está bem, Zara. Conheço o termo— tomou lorde Brecon, rindo.

      —Então? Não acha que o termo seja bem apropriado?

      —Muito apropriado.

      Foi a vez de Zara rir. Em seguida sua expressão tomou-se séria ao perguntar:

      —Oh! O senhor matou um homem em um duelo? Está querendo fugir do país?

      —Não, Zara. O caso é mais complicado. Vou explicar o que aconteceu. Por favor, Adam, acho melhor você fechar a porta.

      O Sr. Grimbaldi atendeu ao pedido. Lorde Brecon começou sua história:

      —Como os dois sabem, estive fora, viajando pela França e a Itália, durante dois anos. Retomei à Inglaterra cerca de três meses atrás e fui calorosamente recebido por mamãe e meus amigos. Dias depois de minha chegada fui informado de que um primo distante havia falecido e, antes de morrer, me nomeara tutor de sua filha de quinze anos, Melissa.

      Lorde Brecon tomou mais um pouco do champanhe antes de prosseguir:

      —Fui conhecer minha pupila, uma garota linda, porém, desajuizada. Melissa estava de partida para a França. Iria estudar em um excelente colégio para jovens ladies, em Paris, onde terminaria sua educação, mas… uma semana após a partida de Melissa, fiquei chocado ao saber que ela havia mantido um romance clandestino com um homem de má reputação e com idade suficiente para ser seu pai. Em seu enlevo de jovem apaixonada, minha pupila cometeu a imprudência de escrever ardentes cartas de amor ao namorado. Um advogado velhaco, de nome Isaac Rosenberg, procurou-me para me dizer que seu cliente, o ex-namorado de Melissa, exigia o pagamento de cinco mil guinéus para a entrega das tais cartas. Caso eu não lhe pagasse a quantia estabelecida, as cartas iriam ser usadas para difamar minha pupila. Propus-me a pagar apenas mil guinéus. Se o cliente em questão não aceitasse a minha oferta eu iria chicoteá-lo publicamente, em plena St. James Street, e seu nome iria figurar em todos os clubes aristocráticos de Londres como chantagista.

      —O que esse homem respondeu?— indagou Adam Grimbaldi.

      —Ontem pela manhã recebi uma carta de Rosenberg dizendo que desejava encontrar-se comigo na casa em ruínas que fica no bosque situado atrás da estalagem The Dog and Duck, na estrada para Sevenoaks— lorde Brecon continuou.

      — O lugar me pareceu muito estranho, pois ali se realizam duelos e é também um ponto de encontro de amantes. Mesmo assim, fui até lá e encontrei Rosenberg morto, com uma faca enterrada no pescoço.

      —Deus do céu!— exclamou Adam Grimbaldi.

      —Quem o teria assassinado?— Zara indagou quase simultaneamente.

      —Não faço a menor ideia…— respondeu lorde Brecon—, ao chegar à clareira que existe no bosque já vi o corpo estendido, ainda quente. A Srta. Fry, que estava no bosque na hora do assassinato, ouviu o grito de Rosenberg.

      —Você viu o assassino?— Zara perguntou, voltando-se para Caroline.

      —Não. Só ouvi o grito e ouvi alguém correndo, saindo do bosque.

      —Rosenberg não havia sido roubado — explicou lorde Brecon—, as cartas de Melissa estavam no bolso externo do sobretudo e as peguei. Para ter certeza de que não haveria mais nada de comprometedor nos outros bolsos, revistei-os todos e achei isto.

      Lorde Brecon mostrou aos amigos folha de papel encontrado no bolso do morto.

      —Vejam. Trata-se de uma carta supostamente escrita por mim.

      —O que diz a carta?— Zara quis saber.

      —Aqui está escrito que Rosenberg deve encontrar-se comigo na quarta-feira, na casa em ruínas, no bosque atrás da The Dog and Duck, na estrada para Sevenoaks. Diz também que ele deve levar todas as cartas de minha pupila, uma vez que aceitei as condições do seu cliente.

      —E você não escreveu essa carta?— inquiriu o Sr. Grimbaldi.

      —Nunca! Nem estava disposto a aceitar a chantagem do cliente de Rosenberg. Tanto a carta de Rosenberg enviada para mim, como a que ele tinha em seu poder eram falsas! Foi uma trama bem feita para que eu e Rosenberg comparecêssemos ao mesmo lugar. O infeliz acreditou na carta falsa, e foi ao seu encontro com o assassino. Entendem? Alguém planejou tudo para que esse crime fosse


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