A Dama de Negro. Barbara Cartland

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A Dama de Negro - Barbara Cartland


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almoço e outro no jantar.

      Havia um restinho numa garrafa e, felizmente, uma outra fechada. Serviu o que restava da garrafa aberta e observou Selene experimentá-lo, com expressão de quem estava prestes a tomar veneno.

      —Não é tão ruim quanto eu temia— comentou Selene—, papai sempre teve bom gosto para vinhos.

      —Como você sabe?— perguntou Sibele, lembrando que Selene tinha apenas dezesseis anos quando saíra de casa.

      —Oh, eu costumava tomar uns goles nas garrafas guardadas no bufê, só para experimentar como era o vinho. Como estrangeiro, papai prefereria um bom vinho ao conhaque que quase todos os ingleses bebiam.

      —É estranho ouvir você falar “estrangeiro” desse jeito— observou Sibele—, na verdade, nunca pensei em papai assim.

      —Claro que papai era estrangeiro: era um professor húngaro! E ainda não consegui entender como mamãe foi tão louca a ponto de fugir com ele.

      Sibele conhecia muito bem aquela ladainha e não ficou surpresa quando Selene continuou:

      —Se você visse a mansão do nosso avô! É enorme e simplesmente magnífica! A minha é de estilo totalmente diferente, mas é ainda maior!

      —Você não quer me dizer seu sobrenome e com quem se casou?

      —Meu marido é o Conde de Linboume— a satisfação na voz de Selene era clara como um dia de sol intenso, e não conseguindo deixar de ser snob, continuou—, sou uma Condessa e adoro cada momento de minha vida! Veja só, Sibele, tenho a posição que sempre quis ter, os vestidos com que sempre sonhei, carruagens luxuosas, cavalos puros sangues e frequento tantos bailes, que já estou até ficando cansada deles!

      Selene falâva como uma criança invejosa querendo superar outra.

      —Fico muito feliz por você, Selene…— replicou Sibele com tranquilidade—, papai sempre dizia que se desejamos muito que alguma coisa aconteça, ela acaba acontecendo!

      —Se papai pensava assim, devia ter desejado que tivéssemos mais dinheiro! E mamãe poderia não ter morrido, se não tivesse passado tanto frio nesta casa horrorosa e ficado fraca porque não podíamos nos dar ao luxo de ter uma boa alimentação.

      Sibele deu um grito.

      —Selene, isso não é verdade! Está certo que não podíamos ter tudo o que queríamos, mas sempre tivemos o suficiente para comer bem.

      —Você acha mesmo?

      —Claro que precisávamos de ter certos cuidados com o dinheiro, mas tivemos praticamente tudo o que queríamos.

      —Pode ser que você tenha tido, mas eu odiava ter que ficar contando cada centavo e ter de me satisfazer com coisas de terceira categoria!

      —Mas agora você tem tudo o que quer— disse Sibele, não suportando mais ouvir a irmã falar daquele jeito da casa e do passado.

      —Tudo!— concordou Selene.

      —Está casada há quanto tempo?

      —Há mais de um ano. Casei quando estava com dezessete anos e oito meses. O Conde se apaixonou por mim no instante em que me viu.

      —E como ele é? Alto e bonito?

      Houve um breve silêncio antes de Selene responder:

      —Ele é mais velho do que eu… e eu o admiro e respeito muito. É viúvo, mas não tem herdeiro para o título.

      —E você vai ter um filho?

      —Ainda não, graças à Deus— disse Selene, meneando a cabeça—, quero aproveitar bem minha vida primeiro. É o que mereço, depois de ter vivido neste lugar durante tantos anos.

      Sibele prendeu a respiração, mas resolveu deixar passar aquele comentário maldoso.

      —Como nossos avós a receberam quando chegou?— preferiu perguntar—, faz três anos que morro de curiosidade!

      —Foram muito gentis. Contei que mamãe tinha falecido, que eu não tinha ninguém para cuidar de mim e eles me trataram como se eu fosse a filha caçula deles. Nossos tios também são encantadores, mas as esposas deles eram mais frias, porque sou muito bonita.

      —É compreensível que tivessem ciúmes.

      —Ficaram ainda mais ciumentas com o passar do tempo e deram graças à Deus quando me casei. Só ficaram furiosas com a destacada posição social que tenho agora.

      Selene estava sendo esnobe de novo e, enquanto saboreava o ensopado de coelho que parecia delicioso, Sibele teve a estranha sensação de que a irmã estava es Conde ndo alguma coisa.

      Sibele sempre conseguia saber o que a irmã gêmea estava pensando e tinha certeza de que agora Selene representava, tentando manobrar a situação para conseguir o que queria, como sempre fizera. Selene terminou de beber o vinho, e surpreendeu Sibele ao pedir para abrir a outra garrafa.

      —Nunca imaginei que você bebesse tanto vinho— comentou ela, procurando o saca-rolhas—, mamãe nunca bebia nada de álcool.

      —Isso porque ela economizava. Adoro vinho, principalmente champanhe, se estiver bebendo na companhia de alguém atraente.

      —Você recebeu muitos pedidos de casamento, antes de aceitar seu marido?

      —Recebi três, mas sem importância alguma— respondeu altivamente, Selene—, casei na primeira temporada em que debutei e todas as outras debutantes da minha época ficaram mortas de inveja!

      —Deve ter sido emocionante para você. Selene, tenho de lhe dizer uma coisa, mesmo que fique aborrecida: estou muito magoada por você não me ter convidado para o seu casamento. Gostaria tanto de ter ido!

      —Você não poderia— replicou Selene, depois de alguns instantes.

      —Por que, não? Tem vergonha de mim?

      Sibele percebeu que Selene hesitava, pensando se devia ou não contar a verdade.

      —Logo que cheguei à casa dos nossos avós, Sibele, disse que mamãe, papai e você tinham morrido!

      —Você disse isso?!— Sibele quase não conseguia falar—, porquê?

      —Porque eu queria ter certeza de que eles cuidariam de mim. Dizendo que estava sozinha no mundo, eles não poderiam fechar as portas para mim!

      —Acho que foi muita maldade de sua parte contar essas mentiras terríveis Sibele conseguiu dizer, depois de alguns instantes.

      — Papai teria ficado profundamente magoado se soubesse.

      —Não existia a menor possibilidade de papai saber. Ele nunca iria me procurar na casa dos nossos avós e, com todos acreditando que papai e mamãe estavam mortos, você também tinha de estar.

      —Ainda não entendo por que você queria que acreditassem nisso!

      Naquele exato momento Sibele percebeu a razão, tão claramente como se Selene tivesse dito em alto e bom som. Sua irmã sempre desejara ser a única! Nunca quisera uma irmã, ainda mais gêmea!

      —Não dá para aguentar ter de dividir tudo com você.

      SeIene tinha gritado certa vez, numa de suas explosões de raiva.

      —Além disso, as pessoas olham para nós como se fôssemos uma pessoa só. Eu sou eu e não quero que pensem que sou metade de você ou que você é metade de mim!

      Sibele tinha esquecido aquela cena, mas agora compreendia que era o que Selene planejara o tempo todo. Assim que tivera oportunidade de realizar seu desejo, não parara para pensar duas vezes.

      Embora muito magoada, Sibele não podia fazer nada para mudar a situação e de nada adiantaria fazer uma cena.

      —Espero que goste desse— disse, servindo vinho no copo de Selene.

      —Está ótimo!


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