O Duque e a Filha do Reverendo. Barbara Cartland

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O Duque e a Filha do Reverendo - Barbara Cartland


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      −Num duelo, Excelência?

      −Sim, Hawkins, está certo… num duelo.

      O cavalo que mandara selar encontrava-se em frente à porta principal, alguns instantes antes de o Duque descer a escada.

      Lorde Tring esperava-o no vestíbulo. Ainda estava pálido e um tanto abalado, mas penteara os cabelos e arranjara a gravata. Ao vê-lo, o Duque compreendeu que instintivamente ele se aprumava, como se fosse entrar em ação.

      −Traremos Richard para cá em uma de suas carruagens ou na minha?− perguntou-lhe.

      −A minha está inteiramente à sua disposição, sir.

      −Muito bem. Mande prepará-la assim que chegarmos− respondeu o Duque.

      Dirigiram-se a cavalo pela alameda de carvalhos e passaram pelo imenso portão de grades com pontas douradas, com guaritas ao lado.

      Atravessaram a estrada principal, tomaram o caminho das campinas e dirigiram-se em linha reta para o Castelo Tring.

      Cavalgavam tão depressa que era impossível conversar. Como ambos fossem ótimos cavaleiros, e montavam o que havia de melhor em matéria de cavalos, nada se ouvia a não ser o barulho dos cascos e assim os quilômetros entre as duas grandes mansões foram rapidamente ultrapassados.

      O luar facilitava o caminho e iluminava o antigo Castelo, ao qual alguma coisa fora adicionada pelas sucessivas gerações. Sua aparência atual era muito romântica.

      O Duque, porém, pensava que, no momento, ocultava alguma coisa sórdida e degradante. Um escândalo que teria de ser encoberto a todo custo.

      O Duelo era admitido como modo honroso de decidir uma rixa, mas o assassinato de um homem casado era castigado com a morte.

      Caso fosse humanamente possível, Nolan não tinha intenção de permitir que Richard pagasse por um crime que, ele sabia, fora inteiramente provocado por uma mulher que não fora fiel desde a primeira noite de seu noivado.

      Ao chegarem à porta principal do Castelo, Lorde Tring apeou do cavalo precipitadamente, enquanto o duque agia calmamente, como se não tivesse pressa.

      No vestíbulo, estavam dois lacaios, que logo se adiantaram para pegar seus chapéus e luvas.

      Lorde Tring deteve-se, como se esperasse que o duque lhe dissesse como proceder.

      −Não vai mandar preparar a carruagem?− lembrou-lhe ele.

      −Ah, sim, é evidente!− respondeu o rapaz e deu ordens a um dos lacaios, que logo se dirigiu para as cavalariças. Em seguida, o duque subiu a escada e Lorde Tring conduziu-o por um corredor comprido que ia dar nos quartos da ala principal.

      O Duque sentiu-se chocado ao ver que o aposento que fora ocupado pela mãe de Lorde Tring, até a morte, fora designado a Delyth Maulden.

      Era uma das atrações do Castelo. Contavam que a Rainha Elizabeth nele dormira em uma de suas viagens pela zona rural, quando a grandeza de seu séquito e as comemorações dispendiosas para reverenciar sua presença haviam praticamente arruinado seus anfitriões.

      Lorde Tring bateu à porta e, sem esperar resposta, entrou no quarto.

      Delyth Maulden, que vestia um négligé lindíssimo, estava sentada à penteadeira, em frente ao espelho.

      Seus longos cabelos pretos esparramavam-se sobre os ombros. O rosto, que virou para os dois ao entrarem, parecia muito tranqüilo, e, como o duque teve que admitir, enraivecido, incrivelmente bonito.

      Estendido na cama, jazia sir Joceline, morto com uma bala que atingira diretamente seu coração.

      Ignorando Lady Delyth, o duque dirigiu-se à cama e ficou olhando para o morto.

      −Mande alguém vesti-lo− disse Lorde Tring−. Deverá ser levado para o corredor. Os lençóis deverão ser trocados e destruídos. Seu criado particular pode fazer isto sem que mais ninguém da casa fique sabendo.

      O Duque virou-se na direção da porta.

      −Agora gostaria de ver Richard.

      −Sim, é claro− respondeu Lorde Tring.

      −Não tem nada para me dizer?− perguntou lady Delyth.

       O Duque permaneceu parado, respondendo em seguida:

      −A senhora deverá declarar que houve um duelo no corredor entre dois homens que beberam demasiadamente durante o jantar− fez uma pausa e continuou−. Dirá que estava completamente vestida quando isso ocorreu. Que a discussão começou enquanto os três subiam a escada, sendo motivada por alguma banalidade… como, por exemplo, qual deles a acompanharia amanhã no passeio a cavalo.

      O duque olhou-a bem e acrescentou:

      −Quero deixar bem claro que não estou inventando essa história para salvar sua reputação, mas unicamente para evitar que Richard seja preso por assassinato.

      −Ele é um idiota histérico!− exclamou Delyth desdenhosamente.

      −Concordo− replicou o Duque−, e também cego e completamente estúpido. Caso contrário, saberia o que a senhora é realmente… uma prostituta!

      Sua voz soou como uma chicotada. Virou-se e saiu acompanhado por Lorde Tring.

      Ao entrarem no quarto para o qual Richard fora levado, o Duque viu que seu sobrinho estava deitado na cama, ainda vestido. Apenas a camisa fora aberta na frente e seu peito estava envolto numa atadura feita pelo criado particular de Lorde Tring.

      Estava muito pálido, mas quando o duque pôs a mão em sua testa notou que a pele estava quente. Tomou-lhe o pulso e sentiu as pulsações, embora muito fracas.

      −Eu o levarei para casa− disse a Lorde Tring−, e quando eu for embora, e o corpo de sir Joceline estiver vestido, monte em seu cavalo e vá falar com o xerife. Ele foi amigo de seu pai e sei que fará o que puder para auxiliá-lo.

      −Farei o que disse. Muito obrigado, sir.

      −Depois que eu partir− tornou a falar o Duque−, você e aquela mulher precisam ter certeza de que contarão a mesma história sobre o que aqui ocorreu. Não importa o que disserem, pois nenhum dos con-tendores estará em situação de contradizê-los.

      Sua voz era áspera, pois compreendera que Richard estava gravemente ferido e talvez até morresse de um ferimento que ele mesmo se infligira.

      Ao mesmo tempo, e embora fosse perigoso removê-lo, o Duque sabia que era preferível entregá-lo aos cuidados de Hawkins do que aos de qualquer outra pessoa.

      Do mesmo modo que Harris Tring, Hawkins combatera ao lado de seu amo, mas o primeiro era mais jovem e Hawkins estava com ele há dez anos.

      Abandonando seu pensamento, perguntou:

      −A carruagem já chegou? Podemos levar Richard para baixo.

      Ao ver que Lorde Tring já estava saindo do quarto, acrescentou:

      −Não se esqueça de que quando o xerife chegar para ver Gadsby, este deverá estar segurando uma pistola usada em duelo e deflagrada há pouco tempo.

      −O senhor pensa em tudo, sir!− exclamou Lorde Tring, com admiração.

      −Pelo menos estou tentando− replicou o Duque,

      Ao voltar lentamente por aquelas estradas sinuosas da região, o Duque sentara-se na carruagem, de costas para os cavalos.

      Ao olhar para Richard, que jazia inconsciente no banco de trás, pensou que teria sido mais justo se ele tivesse empregado a segunda bala em Delyth Maulden, e não em si mesmo.

      Sua experiência com as mulheres revelava-lhe que, enquanto ela parecia calma e imperturbável ante o que ocorrera, na realidade sentia-se acovardada. Mas, ao mesmo tempo e com seu habitual egoísmo, só pensava nela.

      Não perdera só um admirador, mas dois. Sir Joceline


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