Revelando O Rei Feérico. Brenda Trim

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Revelando O Rei Feérico - Brenda Trim


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TRÊS

      A dor agonizante disparou pelo ombro de Ryker enquanto ele repassava as imagens brilhando na mesa a sua frente. Não podia erguer o braço machucado sem sentir uma dor significativa. Depois de recuperar a consciência na enfermaria do conservatório, a vida tinha sido melhor do que esperara.

      Foi meio que um alívio ver que, desde que tomaram o poder, os humanos não tinham dado início a um esquema maligno ali no conservatório. Para dizer a verdade, ficou surpreso pelo tanto que o lugar lhe pareceu normal. As crianças feéricas frequentavam a escola por muitos anos para aprenderem a ler e escrever e essas coisas.

      Historicamente falando, o Conservatório de Bramble’s Edge servia para ajudar os feéricos a controlar os poderes à medida que se tornavam jovens adultos. O foco ali não era a educação formal, mas o controle das habilidades. Talvez, fosse apenas isso que acontecia lá.

      Nada suspeito ou nefasto ocorreu desde a sua chegada e isso fez Ryker questionar toda a sua infância. Especificamente, como a mãe não parava de dizer o quanto os humanos eram criaturas malignas que mantinham o controle sobre o reino deles.

      Será possível que um feérico que não se simpatizava com humanos administrasse a escola? Tinha que pensar que era bem provável, dada a forma como tinha sido tratado. A curandeira passou uns dois dias trabalhando no reparo da sua asa, centímetro por centímetro, para que ele pudesse voltar a voar em algum momento.

      Alguém que o quisesse sob controle, que ele agisse como um escravo, não tomaria tanto cuidado ao tratar do seu ferimento. Imaginou a mãe dizendo que ele não deveria confiar em ninguém. Que precisava ficar na dele e permanecer fora dos holofotes.

      Era como planejava agir no conservatório. Teria que cumprir seu tempo ali sem chamar atenção para si mesmo. Não seria difícil fazer a prova que o ajudaria a descobrir quais eram as suas habilidades, assim como onde sua afinidade estava enraizada. Um dos companheiros de dormitório era um feérico de terra e o outro, da água. E o terceiro mostrou afinidade com dois elementos.

      Aquilo nunca tinha acontecido, até onde Ryker sabia. Muitos poucos eram alinhados com mais de um elemento, e quando acontecia, normalmente os elementos eram complementares. Parte dele queria ter mais de um, e ele não tinha ideia do porquê.

      Não era como se soubesse o que significaria para ele. Pelo que Sol lhe dissera, havia aulas e treinamentos extras. Ryker gostava de ter tempo para jogar bola no arco, e tempo era algo que Sol não tinha naquele momento.

      Depois de fazer suas escolhas, Ryker se virou e examinou o refeitório. Nunca tinha visto um lugar como o Bramble’s Edge Academy. Os dormitórios eram tão grandes quanto o apartamento no qual morava com a mãe, e o refeitório era enorme com inúmeras mesas e bancos preenchendo o local. Os feéricos não tinham acesso à tecnologia, então ficou surpreso pelo pedido de comida ser feito a partir de imagens sobre a mesa, e o botão ainda dava uma tremidinha quando apertado.

      Os colegas de dormitório explicaram que o que escolhiam era trazido logo depois que pressionavam o botão com o símbolo da escola. Ryker sempre amou o símbolo do conservatório. Algo nas letras ‘BE’ rodeadas pelos espinhos das amoreiras se conectava com a sua alma. Havia várias coisas na Edge e muitas outras que mexiam com as suas emoções.

      Depois de a mãe o encorajar a fugir antes de ele ser coletado, Ryker esperou odiar tudo ali no conservatório, mas não odiou. Na verdade, gostava de muita coisa. As paredes dos prédios mais antigos foram erguidas com magia feérica, e pareciam recebê-lo com alegria. Sim, percebeu que era meio louco pensar daquele jeito, mas era como se sentia.

      As salas e as áreas de treino eram tão diferentes das da sua antiga escola. Havia muito lugar para treinar e aprender o que não aprendera antes. Quando criança, foi para uma escolinha que atendia somente os prédios da rua onde morava. As salas da escola primária ficavam no segundo andar de uma padaria e eles almoçavam na própria sala de aula.

      A comida no conservatório também estava à altura da da sua mãe. Não que ela fosse a melhor cozinheira da Edge, pensou, mas chegava perto. Havia muitas opções e sempre tinha algum tipo de ensopado, o que caía muito bem no clima mais frio.

      O clima em Mag Mell quase nunca era quente, e chovia com frequência, então Ryker preferia as refeições mais robustas. Na Edge era difícil encontrar frutas e legumes frescos, mas o conservatório não parecia sofrer do mesmo problema.

      Da primeira vez que pôde sair da enfermaria, Ryker não tinha certeza do que esperar das refeições naquele lugar. Não tinha imaginado as dezenas de opções que teria, já que recebera refeições insossas enquanto estava na área hospitalar.

      Pela forma com que a mãe descrevia os horrores do conservatório, pensou que seriam alimentados com coisas desconhecidas, e que não teriam escolha. Muito naquele ambiente não se encaixava com suas imagens preconcebidas do lugar.

      Plantas de verdade preenchiam os cantos do salão, e janelas do chão ao teto dava a eles uma vista do oceano à distância. A vista em si era muito serena.

      Como um lugar tão mágico seria o lugar errado para ele?

      Ryker olhou para cima quando Sol e Brokk se aproximaram da mesa. O terceiro colega de dormitório, Daine, já estava ali com ele.

      – Já recebeu notícias sobre a sua avaliação? – perguntou Sol.

      Ryker sacudiu a cabeça e agradeceu à fadinha que trouxe a comida.

      – Não avisaram nada ainda. Talvez estejam me dando mais tempo para me recuperar.

      Brokk lançou um olhar para Sol, um que Ryker não conseguiu entender.

      – Como está a sua asa?

      Ryker tensionou o músculo que a controlava e ela saltou sobre o seu ombro. Não foi capaz de reprimir o tremor causado pelo movimento.

      – Ainda está curando. É melhor agradecer ao curandeiro.

      – Ainda não consigo acreditar que você saiu voando com grilhões nas mãos – murmurou Sol, balançando a cabeça com tristeza. – Por que faria uma coisa assim? Odeia a escola a esse ponto?

      A pele de Ryker formigou. Aquele era primeiro sinal de que algo não estava muito certo. Era uma pergunta bastante inocente, mas cada feérico da Edge sabia sobre o Conservatório e ninguém queria ir para lá.

      A crença popular era de que eles faziam lavagem cerebral e os moldava para servir de escravos para os humanos. Lembrou-se dos amigos contando histórias que tinham ouvido sobre os horrores que se passavam por trás dos portões de ferro que isolavam a escola.

      Ryker tinha certeza de que a conversa de a magia dos feéricos ser sugada de seus corpos e engarrafadas para consumo humano era falsa. Tinha certeza de que os prédios seriam desprovidos de vida. E de que os indivíduos naquele refeitório não estariam conversando, mas sentados com os rostos inexpressivos.

      Se o que quer que fizesse de Ryker um feérico tivesse sido removido de seu corpo, ele não imaginava que teria mais qualquer força. A pergunta que girava por sua cabeça era até que ponto poderia confiar naqueles machos? Fazia muito pouco tempo que estava ali para que os conhecesse bem.

      Não havia como prever o que aconteceria se confessasse a verdade para Sol. Ryker não arriscaria a segurança da mãe, de jeito nenhum. Felizmente, ela manteve a boca fechada depois que os guardas chegaram, então ela não teve envolvimento na sua tentativa de fuga.

      – Tira a mão, caralho – a voz de uma fêmea ecoou pelo refeitório, fazendo todo mundo olhar para as portas duplas abertas do outro lado do recinto.

      Ryker olhou boquiaberto para a figura ágil se remexendo nos braços de um macho. Não estava lá há tempo o bastante para saber o nome do macho ou o papel que ele tinha na escola. A fêmea tinha cabelos rosas e emaranhados e se contorcia nos braços dele, tentando se libertar.

      Foi tudo o que pôde ver de primeira. Quando ela virou o rosto, Ryker notou que as bochechas dela estavam coradas, mas não era de vergonha. Ela estava puta. Olhar para ela era como olhar para


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