Mais do que uma dúvida. Sara Craven

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Mais do que uma dúvida - Sara Craven


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azuis.

      Chessie bebeu um gole de vinho, enquanto sentia que se ruborizava.

      – Não, claro que não.

      – Talvez devesse ter-te pedido que trouxesses o caderno de notas para te ditar algumas cartas enquanto jantamos – comentou ele, ironicamente. – Assim, ter-te-ias sentido melhor.

      – Duvido – Chessie pousou o copo na mesa. – O que acontece é que não percebo o que é que estou a fazer aqui.

      – Estás a jantar uma comida deliciosa sem teres de lavar os pratos – replicou Miles.

      – E é só isso? – Chessie sentiu que lhe faltava a respiração.

      – Não, mas o resto pode esperar – o rosto dele era frio e enigmático. – Queres mais vinho?

      – Não, é melhor não beber mais – Chessie tapou o copo com a mão. – Qualquer coisa me diz que será melhor manter a mente lúcida.

      Ele sorriu trocista.

      – Se estás a pensar que te quero seduzir, enganas-te.

      – Isso nem sequer me passou pela cabeça.

      – Como és inocente – murmurou Miles. – Tendo em conta o tempo que passamos juntos, nunca te perguntaste, porque é que não me insinuei? Ou achas que as minhas cicatrizes tornam-me imune aos desejos?

      Ela mordeu os lábios.

      – Não, não acho, mas mantemos uma relação profissional e…

      – E?

      Chessie engoliu em seco.

      – Isso não seria apropriado. As aventuras entre patrão e secretária são um cliché e tu não gostas de clichés.

      – Obrigado… suponho. No entanto, é precisamente sobre a nossa situação que te queria falar.

      – Decidiste vender a casa? – o último bocado de faisão engasgou-a.

      De repente, ficou aterrorizada com a ideia de se ver na rua e a ter de procurar um emprego.

      – Não, não é isso – Miles pareceu surpreendido. – Como é que te ocorreu essa ideia? Não me ouviste dizer que estou a pensar em dar uma festa?

      – Sim… desculpa – Chessie hesitou. – Suponho que a insegurança torna-me paranóica.

      – Compreendo – com o sobrolho franzido, Miles pousou o garfo e a faca no prato. – É esse precisamente o motivo pelo qual quero que penses sobre uma possível mudança na nossa relação.

      – Uma mudança? – inquiriu Chessie, sem compreender. O contrato de trabalho que Miles redigira estava meticulosamente definido. – Que género de mudança?

      Ele bebeu mais vinho, o seu olhar azul adquirira uma expressão de meditação.

      – Ocorreu-me que poderíamos casar.

      Chessie sentiu que o mundo de repente tombava. O seu corpo ficou rígido enquanto o fitava e tentava compreender o significado das palavras dele.

      – Desculpa, acho que não ouvi bem – conseguiu dizer Chessie.

      – É muito simples, acabei de te fazer uma proposta de casamento, pedi-te que fosses a minha esposa – replicou Miles, num tom profissional, como se estivesse a falar de negócios. – Se quiseres, podes considerá-lo como um tipo diferente de contrato.

      «É doido», pensou ela. Perdera por completo a cabeça.

      – O casamento… não é um negócio.

      – Eu diria que isso depende das pessoas que se casam. Se considerares as nossas circunstâncias pessoais, o casamento entre nós é muito razoável.

      Miles fez uma pausa.

      – Tu precisas de mais estabilidade e da segurança que não tens e eu preciso de uma anfitriã para além de uma governanta. Acho que poderia ser um acordo satisfatório para os dois.

      – Assim de repente? – inquiriu ela, com a voz fraca. Ainda não conseguia acreditar no que estava a ouvir.

      – Não, claro que não – declarou Miles, com uma ligeira impaciência. – Não precisas de responder imediatamente, mas gostaria que considerasses racionalmente a minha proposta antes de tomares uma decisão.

      «Racionalmente», interrogou-se ela. «Racionalmente… tratando-se de uma coisa dessas?».

      – Pareces muito surpreendida – continuou ele.

      – Sim, é verdade – Chessie engoliu em seco. – O que acontece é que quase não nos conhecemos.

      – Trabalhamos juntos todos os dias e vivemos na mesma casa.

      – Sim, mas… sabes perfeitamente ao que me refiro.

      – Sim – a expressão de Miles adquirira um tom de troça. – Continuas sem perceber porque é que ainda não me insinuei, não é?

      – Não é só isso – Chessie empurrou o seu copo de vinho na direcção dele. – Por favor, serve-me mais um pouco, acho que estou a precisar.

      Chessie observou Miles enquanto ele a servia. Estava completamente calmo e inclusive distante. Como podia ser?

      – Até agora não tem havido nada pessoal entre os dois – declarou ela. – E, embora trabalhemos juntos todos os dias, da única coisa que falamos é do trabalho e da casa.

      – A minha proposta traumatizou-te? Não era a minha intenção causar-te nenhum trauma – comentou Miles, com ironia.

      – Não, mas isto é tão repentino.

      – Se esperavas algo mais… convencional, peço-te que me desculpes. Mas mantivemos sempre uma relação laboral muito racional e o nosso casamento só seria uma prolongação dessa relação. O pragmatismo pareceu-me preferível aos bombons e às flores.

      – Não te importas com o facto de não estarmos apaixonados? – inquiriu Chessie, com dificuldade.

      – Esqueceste que já passei por isso. Claro que não posso falar por ti – declarou, com uma expressão ilegível. – Há alguém na tua vida?

      Chessie abanou a cabeça.

      – Não, já não – olhou para a mesa. – Então, queres dizer que seria uma espécie de negócio e não um casamento a sério?

      – Sim, é isso – replicou Miles. – Pelo menos, no início.

      Chessie sentiu que o seu coração dava um salto.

      – E depois…?

      Miles encolheu os ombros.

      – Quem sabe – os olhos azuis fitaram os dela. – Pode ser que reconsideremos a nossa relação, mas qualquer mudança seria sempre de mútuo acordo.

      – Eu… não sei o que dizer.

      – Nesse caso, não digas nada. Ainda não. Pensa nisso, toma todo o tempo de que precisares. Prometo que não te pressionarei.

      Chessie humedeceu os lábios.

      – E se a resposta for negativa, ficarei sem emprego?

      – Dou-te a impressão de ser vingativo?

      Chessie ruborizou-se.

      – Não, claro que não – respirou fundo. – Está bem, vou pensar no assunto.

      – Bom – desta vez não havia troça no olhar de Miles. – E agora, queres que peça a sobremesa?

      – Não, obrigada – Chessie não tinha estômago para mais nada. – Só café, por favor. E desculpa-me, volto já.

      A casa de banho das senhoras, por sorte, estava vazia. Chessie deitou água nas mãos e na face para se descontrair.

      Ao


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