Poder e sedução. Michelle Smart
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Isso enfurecera-a ainda mais. Tinham passado junto de clientes vestidos de gala e sentira-se deslocada.
Jantar naquele restaurante fora humilhante da primeira vez, mas já estava pronta e atravessou o vestíbulo do hotel com a cabeça muito erguida. Não se sentiria inferior, mesmo que parecesse uma mendiga.
Um empregado do hotel dirigiu-se para ela e pôde ver que, segundo a chapa que tinha na lapela, era o diretor-geral.
– Senhora Bergen…? – perguntou ele, com cortesia.
Assentiu. Supôs que teria sido muito fácil descrevê-la, que bastava dizer que era uma mulher com o cabelo vermelho que não encaixava ali.
– Acompanhe-me, por favor.
Seguiu-o e passaram junto de uma cascata enorme, junto do restaurante onde tinham jantado da outra vez, junto de lojas de roupas e de mais restaurantes e chegaram a um elevador com o seu próprio empregado. Então, quando o diretor carregou no botão do último andar; ela alarmou-se.
– Para onde me leva?
– Para a suíte do senhor Pellegrini.
Chegaram ao andar antes de ele acabar de responder e o empregado abriu a porta.
Eva hesitou.
Jantar na suíte privada de um hotel tinha conotações muito diferentes de jantar em público. Era uma insensatez, segundo qualquer critério, entrar sozinha na suíte de um homem rico.
O diretor observou-a como se esperasse que abandonasse a segurança do elevador e entrasse na guarida do leão. Só tinha de se recusar e seria o mais sensato. Se Daniele Pellegrini tinha de a ver com tanta urgência que viajara até às Caraíbas só para falar com ela, então, também podia jantar com ela em público. Podia exigi-lo e ele não teria outro remédio senão aceitá-lo.
No entanto, apesar dos seus defeitos inumeráveis, a intuição dizia-lhe que Daniele não era o tipo de homem que obrigaria uma mulher a fazer algo que não quisesse.
Saiu do elevador e seguiu o diretor por um corredor amplo até uma porta. Bateu com firmeza e, imediatamente, um homem vestido de mordomo abriu.
– Boa-noite, senhora Bergen – cumprimentou, num inglês impecável. – O senhor Pellegrini está à espera no terraço. Quer beber alguma coisa?
– Um copo de água, por favor – replicou, fazendo um esforço para não ficar boquiaberta com a grandiosidade da suíte.
Aliviou-a um pouco que houvesse um mordomo para os acompanhar.
O diretor despediu-se e foi-se embora. Levaram-na para um divisão espaçosa de onde saíram para um terraço com uma vista incrível do mar das Caraíbas e das estrelas que o iluminavam. À esquerda, havia uma piscina ovalada e, à direita, uma mesa onde podiam sentar-se confortavelmente doze pessoas, mas que estava posta para dois. Daniele Pellegrini estava sentado. Levantou-se e dirigiu-se para ela com a mão estendida.
– Eva, fico contente por te ver.
Cumprimentou-a com um sorriso que contrastava com o ar de fúria que tivera no seu rosto há três dias, quando exigira que o ajudasse.
Como não tinha muitas alternativas, apertou-lhe a mão. Não a sacudiu com energia, como ela esperara, mas apertou-a com uma certa delicadeza, puxou um pouco e deu-lhe um beijo em cada face.
Sentiu um aperto no coração ao voltar a inalar o seu cheiro que, absurdamente, despertava todos os seus sentidos.
Embora se odiasse pela vaidade, alegrou-se por ter tomado banho há tão pouco tempo. Daniele cheirava muito bem e voltava a esboçar esse sorriso que a derretia por dentro. Além disso, as calças cinzentas-escuras e a camisa branca estavam impecavelmente engomadas. Era tudo imaculado naquele hotel, até os hóspedes. À frente daquele homem tão incrivelmente atraente, voltava a sentir-se uma maltrapilha. Vivia num acampamento onde reinavam a lama e o pó e era impossível estar apresentável, por muito que tentasse.
Alegrou-se ainda mais quando a soltou e teve de fazer um esforço para não esfregar a mão nas calças.
– Parece que o nariz está a sarar – comentou ela.
O inchaço diminuíra consideravelmente e voltou a sentir um arrebatamento de vaidade ao ver que os pensos continuavam no seu sítio. Tinha o olho esquerdo ligeiramente arroxeado, mas era a única coisa que indicava que se metera numa luta. Continuava curiosa por saber quem fora o adversário. Alguma autoridade corrupta de Caballeros? Um namorado ciumento?
– Fizeste-o muito bem…
– Foste ao médico? – perguntou ela.
– Não é preciso – respondeu ele.
O mordomo, que saíra do terraço sem que ela se apercebesse, voltou com uma bandeja com dois copos e duas garrafas de água.
– Não sabia se queria com ou sem gás e trouxe as duas – indicou. – Quer mais alguma coisa antes de servir o jantar?
– Não, obrigada.
– Outro uísque para mim – pediu Daniele. – Traz a garrafa.
– Como queira…
Uma vez sozinhos, Daniele apontou para a mesa.
– Senta-te. Para poupar tempo, pedi pelos dois. Se houver alguma coisa de que não gostes, o cozinheiro pode fazer outra coisa.
Eva indignou-se. Não se importava de comer de tudo, mas a presunção dele era outra afronta.
– O que pediste?
– Sopa de brócolos e queijo e lombo Wellington depois. Pensei que terias saudades da comida inglesa.
Atónita, sentou-se à frente dele.
– Ter saudades da comida inglesa? Sou dos Países Baixos…
– És holandesa?
Quase sorriu com a surpresa dele, mas não porque achava graça, por lhe parecer irónico. Passara uma noite a seduzi-la descaradamente, mas não se preocupara com fazer perguntas. Fora apenas uma mulher que o atraíra e com quem quisera ir para a cama. Presumira que se sentiria tão honrada por a ter escolhido que o seguiria até à sua suíte e se deitaria na sua cama.
– Nasci e cresci em Roterdão.
– Achava que eras inglesa – replicou ele.
– Acontece com muita gente.
– Não tens sotaque.
– Os ingleses notam, mas tu és italiano.
O mordomo trouxe a garrafa de uísque e perguntou a Eva se queria algo mais forte para acompanhar a comida. Ela abanou a cabeça e fixou os olhos em Daniele.
– Acho que é melhor manter a cabeça limpa esta noite.
Daniele esboçou um sorriso sombrio. Também deveria manter limpa a cabeça, mas, depois dos últimos dias, gostava da ideia de se intumescer. Além disso, o uísque ajudaria a aguentar a conversa.
– Que mais línguas falas?
Eva falava tão bem em inglês que não pensara que não fosse dessa nacionalidade. Quando a conhecera, fizera de tradutora para ele e para o seu desprezado primo Matteo. Sabia pouco de espanhol, mas a tradução entre eles e as autoridades de Caballeros parecera-lhe irrepreensível.
– Falo inglês, francês e espanhol com desenvoltura e o italiano aceitavelmente.
– Demonstra-me – desafiou-a, em italiano.
– Porquê? – perguntou ela, também em italiano. – Estás a tentar pôr-me à prova?
– Chamas a isso aceitável? Disseste-o com uma pronúncia quase perfeita.
– Não considero que tenha desenvoltura até conseguir ver um filme na versão original e sem perder nada – replicou ela, outra vez