Uma vingança deliciosa. Jane Porter

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Uma vingança  deliciosa - Jane Porter


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as suas dançarinas chamas vermelhas e douradas.

      Voltou a tremer, naquele momento com mais violência e o calor não bastava. Não podia parar. Era incapaz de controlar os nervos.

      Ouviu-o caminhar atrás dela, o som de vidro, de líquido a escorrer, outra vez de vidro. Servia uma bebida. Que tipo de raptor tinha livros encadernados em pele, arte moderna e garrafas de brandi? Que tipo de homem é que era ele?

      Lutou contra o medo. Tinha que haver uma boa explicação. As pessoas não raptavam as outras sem um objectivo, sem um plano.

      – Bebe isto.

      A voz fria e dura atravessou os seus pensamentos e fê-la levantar a vista do fogo para as suas feições talhadas de expressão inexplicavelmente sombria.

      – Não bebo.

      – Vais aquecer.

      Observou o copo em forma de globo cheio com um líquido de cor âmbar e encolheu-se.

      – Não gosto do sabor.

      – Quando tinha a tua idade, também não costumava gostar. Estás a tremer. Vai ajudar-te. Confia em mim.

      Confiar nele? Era o último homem na face da terra em quem confiaria. Tinha-a afastado de Daisy, de Dante, da reunião que tinha desejado. A sua garganta ameaçou fechar-se e a ira tomou conta dela.

      Virou-se para ele com os braços cruzados.

      – Quem és? Nem sequer sei o teu nome.

      – Lazaro Herrera.

      O nome saiu como algo fluido, complexo, sensual.

      Lazaro Herrera.

      Era um nome que encaixava com ele, que ligava com a música e o poder.

      – Acho que vou aceitar a bebida – sussurrou.

      Ao dar-lha, os seus dedos roçaram-se.

      – Bebe devagar.

      O contacto abrasou-a e esteve quase a deixar cair o copo.

      – Porque é que fazes isto?

      – Tenho motivos – encolheu os ombros.

      – Mas o que é que eu fiz? Nem sequer me conheces.

      – Não é por ti.

      – Então, porque é? – elevou a voz.

      – Por vingança.

      Capítulo 2

      Olhou-o com medo e o único som que se ouvia na casa era o crepitar da lenha. Tremeu com tanta violência, que o brandi se entornou. Sentia a boca seca. Engoliu a saliva com dificuldade enquanto tentava pensar em algo que dizer.

      Vingança. Vingança… contra quem?

      Não podia perguntar-lhe porque sabia que não estava preparada para a verdade. De alguma maneira, sabia que a resposta afectaria Daisy porque a sua irmã tinha casado na aristocracia argentina, tinha-se transformado em parte desse mundo e dessa cultura, dessa outra vida.

      Levou o copo aos lábios e bebeu um gole pequeno. Sentiu o brandi fresco na boca, mas ficou quente ao engoli-lo. O calor bateu-lhe no estômago e acabou por se estender até às suas extremidades. Lazaro Herrera tinha razão numa coisa. O licor ajudou. Deu-lhe firmeza e coragem. Fechou os dedos em volta do copo.

      – Isto tem alguma coisa a ver com os Galván?

      – És muito perceptiva.

      – Queres dinheiro?

      – Não é o que toda a gente quer?

      Mas a resposta não parecia verdadeira, nem o sarcasmo. Era outra coisa o que o impulsionava e Zoe precisava de compreender aquilo para proteger Daisy.

      – Dante já sabe?

      – Deve saber.

      Baixou a vista para o licor para tentar acalmar-se. Se perdesse as estribeiras, não seria capaz de ajudar a sua irmã.

      – A minha irmã, a esposa de Dante, está grávida.

      – Eu sei.

      – Por favor, não faças mal a Daisy – suplicou com voz rouca. Sentiu que os olhos se humedeciam outra vez. – Sofreu vários abortos e isso deixou-a destruída. Não pode perder este bebé.

      Observou-a com os olhos cinzentos velados.

      – Não tenho nenhuma intenção de lhe fazer mal.

      – Mas vais fazer – desconhecia como sabia, mas era assim e isso deixava-a furiosa. Lazaro Herrera destruiria a sua família e jamais olharia para trás.

      – As coisas acontecem na vida…

      – Não – explodiu apertando o seu copo. – Tu é que fazes a vida, provoca-la.

      – É complicado. A vida nunca foi fácil.

      Ele rodeava o assunto, invertia o argumento e isso enfurecia-a. Avançou um passo, o corpo esbelto estava rígido pela tensão. Nos dois últimos anos, a sua família tinha passado por muitas vicissitudes. Tinham lutado e sofrido e, precisamente quando Daisy encontrava alguma felicidade, aquele homem ameaçava em arrebatá-la.

      – Claro que a vida é difícil. Está cheia de dor, pesar e perda, mas também de gozo e amor… – calou-se, apercebendo-se de que estava quase a chorar. – Não faças mal à minha irmã. Não podes. Não te deixarei.

      – Continuas a tremer – ignorou a fúria dela. – Precisas de um banho quente.

      – Não quero um banho quente. Não quero nada de ti. Nem agora nem nunca.

      Estudou o rosto dela. Zoe soube que tinha a cara corada e os olhos brilhantes.

      – Não funciona dessa maneira – disse Lazaro. – És minha convidada. Nas próximas semanas, estaremos juntos praticamente dia e noite. Sugiro-te que te habitues à minha companhia. Depressa.

      Foi-se embora.

      Zoe permaneceu imóvel uns minutos antes que os músculos recuperassem a vida.

      Devagar, depositou o copo de brandi em cima da mesa de centro antes de limpar as palmas húmidas ao casaco claro de viagem.

      Arregaçou a manga e olhou para o relógio. Eram quase sete e meia. Tinham chegado a Buenos Aires há seis horas. Daisy devia estar frenética.

      Com o sobrolho franzido, olhou em volta à procura de um telefone. Ele tinha-lhe dito que não havia nenhum, mas não acreditava nele. Nos tempos em que viviam, toda a gente tinha um telefone.

      – O teu banho está pronto.

      Lazaro tinha regressado e estava na ombreira da porta. Tinha mudado de roupa, vestindo umas calças escuras e uma camisola grossa. Parecia quase humano.

      Quase.

      – Não vou tomar banho. Não vou ficar aqui.

      Abandonou a proximidade da lareira e foi para o hall, conteve o fôlego ao passar ao lado dele. Quase esperava que a detivesse, mas não se mexeu. Nem sequer pestanejou quando abriu a pesada porta.

      – É um trajecto longo até à aldeia – comentou ele com suavidade. – E está muito escuro. Não há nenhum candeeiro na pampa.

      Com a mão na maçaneta, odiou-o, odiou o tom razoável que tinha empregue.

      – Conheço o campo.

      – Então sabes como nos enganamos ao caminhar sem nada que nos guie, sem caminhos nem rastos de vida humana.

      – O teu rancho não pode ser assim tão remoto – ele apenas levantou as sobrancelhas. – Tenho a certeza de que há alguma coisa aqui fora – insistiu.

      – Ovelhas. Vacas. Veados…

      –


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