A amante do italiano. Diana Hamilton
Читать онлайн книгу.o seu aspecto reflectia perfeição: sensata, imperturbável e completamente fiel.
Bianca respondeu com um suspiro. Antes, conseguia lidar sozinha com os excessos da mãe, as repentinas mudanças de humor, mas o episódio da sobredosagem tinha-a assustado.
Pela primeira vez na sua vida pedira ajuda, a da sua tia Jeanne, que era viúva. O âmbar dos seus olhos ficou nublado de emoção, quando recordou a generosa oferta da tia:
– Pode ficar comigo em Bristol, enquanto tu resolves as coisas e encontras outro sítio onde viver. Vou mudar-me para vossa casa durante umas semanas, até ela recuperar, para poder tomar conta dela enquanto estás no trabalho, porque, pelo que me contas, é melhor não estar muito tempo sozinha.
Bianca aceitou a oferta sem hesitar, profundamente agradecida. O contrato de aluguer da casa expirava dentro de poucos meses e sem a ajuda da tia era um pesadelo procurar um andar que pudessem alugar, continuar com o seu exigente trabalho, decidir o que fazer com os móveis e haver-se com os problemas da mãe.
Quando saiu do hospital, frágil e dependente, Helene aceitou sem contestar, mas considerando a noite anterior, era óbvio que a mãe voltara à sua dependência de homens e de álcool. Não aguentaria nem cinco minutos na pequena e humilde casinha da sua irmã, situada numa estrada tranquila dos arredores de Bristol.
– Sabes que gosto da minha irmã, mas não posso ser responsável por ela, aliás, não é justo para nenhuma de nós – acabou por reconhecer Jeanne. – Precisa de ajuda profissional, numa dessas clínicas luxuosas onde vão as estrelas de cinema e os futebolistas.
– Quem é que pode! – Bianca sorriu ironicamente à tia, quando lhe passou as torradas, e serviu-se dum café quente e bem forte. – Recusa-se a visitar o médico de família, principalmente porque não aceita que tem problemas, mas provavelmente aceitaria ir para uma clínica privada, porque acharia positivo para a sua imagem! Infelizmente, não podemos dar-nos a esse luxo – acrescentou, bebendo um gole da aromática bebida.
– Não resta nada do que recebeu depois da separação?
– Isso esfumou-se há anos – Bianca encolheu os ombros com um gesto cansado. A mãe gastara a indemnização do divórcio em roupas de estilistas famosos, em intermináveis festas e enormes provisões de álcool.
– Podes pedir ao teu pai para pagar o tratamento. Segundo dizem ele está milionário e, se a tua mãe está assim, a culpa é dele – Jeanne barrou uma enorme quantidade de manteiga na torrada. – Sabes, eu costumava ter inveja da minha irmã mais nova. Quando se casou com Conrad Jay, achei que ela tinha tudo, uma fortuna que ultrapassava qualquer cálculo, ainda que fosse dinheiro «novo», mas também não se pode querer tudo. Com o poder financeiro, compraram a entrada nos mais restritos círculos sociais. Ela era lindíssima e eu um camafeu, mas agora estou contente por as coisas terem sido assim, porque se nunca foste atraente, não ficas amargurada quando começas a deixar de ser. E como eu estava a dizer, acho que deves pedir ajuda ao teu pai – acrescentou, dando uma vigorosa dentada na torrada.
– Não – a negação foi instintiva. Jeanne franziu imediatamente o sobrolho e Bianca dispôs-se a explicar a sua aparente teimosia.
As duas irmãs mantiveram ocasionalmente o contacto durante todos aqueles anos, telefonando ou escrevendo, mas cada uma viveu a sua própria vida e havia muita coisa que a tia não sabia! Helene curtia a ressaca da noite anterior e o seu dramático desenlace, quando atirou de encontro à parede da sala a chávena de chocolate quente que a irmã lhe ofereceu «para acalmares» e sofreu um ataque de histeria. Era uma boa oportunidade para falar com a tia.
– Só vi o meu pai uma vez, quando tinha doze anos. Foi na noite de fim de ano e ele estava de visita a Londres, porque já nessa altura vivia nos Estados Unidos. Ele quis ver-me, embora até essa data não tivesse manifestado o mais pequeno interesse por mim. Fui ao hotel dele, cheia de ódio, não pela falta de interesse dele em mim, mas pelo que fez à minha mãe – recostou-se na cadeira, tentando lembrar-se. – Na semana anterior tinha acontecido qualquer coisa a Helene, da qual já não me lembro, mas tinha começado a beber, e num aborrecimento que teve comigo, disse que já tinha idade para conhecer o sem vergonha do meu pai.
Ela tinha vinte e um anos quando se casaram. Durante dois anos foi muito feliz e a vida sorria-lhe, mas depois começou a desconfiar que o meu pai tinha mais alguém e resolveu deliberadamente ficar grávida, pensando que assim ele deixaria de rondar outras, mas a táctica não funcionou e ele abandonou-a, trocando-a pela símbolo sexual do momento.
O acordo de divórcio incluía o aluguer desta casa por vinte anos e foi tudo, e nunca voltaram a encontrar-se. Acho que ela o amava loucamente e que nunca conseguiu superar o facto de o ter perdido – Bianca encolheu os ombros, sabendo que provavelmente as suas palavras escandalizariam a respeitadíssima tia. – Eu cresci na companhia de diversos homens e a mãe poderia ter-se casado com qualquer um deles, pois todos pareciam adorá-la, mas ela encontrava-lhes sempre uma falha qualquer… Em poucas palavras, não eram Conrad Jay. Claro que ela nunca deixou de o amar, mas precisava de outros homens na sua vida para se sentir desejada – e com um gesto irónico, acrescentou: – Assim, lá estou eu com doze anos a aborrecer o meu pai, depois recebemos um telefonema surpresa. Helene mandou-me num taxi ao hotel e o meu pai enviou-me de volta noutro e, entre um taxi e o outro, disse-lhe exactamente o que pensava dele, por causa do mal que fez à minha mãe, acrescentando que sob nenhuma circunstância voltaria a vê-lo em toda a minha vida. Tudo isto, em frente à sua nova esposa, que não teria mais do que sete ou oito anos a mais do que eu. Talvez agora já percebas porque é a última pessoa a quem eu pedirei ajuda, mais a mais, mesmo que quisesse, não faço ideia de como o poderia localizar.
A moral desta história é algo que Helene disse numa certa ocasião: «Nunca te cases com um homem rico. Conhecem o preço de tudo e não dão valor a nada».
Este conselho gravara-se na sua mente mais profundamente do que supunha. Não foi em vão que presenciou, durante anos, o sofrimento da mãe e, por essa razão, a repentina proposta de casamento de Cesare, fez disparar um alarme no seu interior.
Coibindo-se de pensar nele e no que significou para ela, Bianca levantou-se bruscamente da mesa, tratando de pensar em como iria resolver o problema de Helene sem perder o trabalho, do qual ambas viviam.
Nesse momento parecia-lhe completamente impossível.
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