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Читать онлайн книгу.esperar resposta, Melinda dirigiu-se a uma mesa desocupada. Sean observou-a, tentando decidir se devia segui-la ou não.
Trinta anos antes, o bar do hotel devia ser o mais luxuoso da ilha, mas esses dias de glória tinham passado. Os soalhos de madeira estavam tão carcomidos que nem várias capas de verniz poderiam dissimulá-lo. As paredes precisavam de várias demãos de pintura. Ainda que restasse um ou outro laivo art deco, pensou Sean. Os espelhos redondos, as mesas retangulares com rendilhados ou apliques nas paredes estilo Tiffany. Era um lugar lindo, mas estava a precisar de obras.
Se fosse seu, Sean derrubaria a parede da entrada para substituí-la por uma de vidro, desse modo os clientes teriam uma fabulosa panorâmica do mar. Conservaria o estilo art deco. Deformação profissional, pensou.
Mas aquele bar não era seu e havia uma mulher linda, ainda que estranha, à sua espera.
Como só tinha o encontro com Walter Stanford no dia seguinte e tinha várias horas livres… Sean sorriu para si mesmo enquanto se sentava diante dela, esticando as pernas.
Segurando a garrafa de cerveja sobre o estômago, inclinou a cabeça de lado para estudá-la em silêncio durante uns segundos, esperando que se explicasse. E não teve de esperar muito.
– Sei que vieste cá para comprares o lote de North Shore.
– Não é segredo nenhum – disse ele, tomando outro gole de cerveja. – Certamente todos na ilha sabem que os King estão a negociar com o teu avô.
– Sim, é verdade – assentiu Melinda, pondo as duas mãos sobre a mesa. De alguma forma, conseguia ter um aspeto cândido e incrivelmente sexy ao mesmo tempo. – Lucas King esteve cá há dois meses, mas não chegou a acordo com o meu avô.
Irritante, mas verdade, pensou Sean. De facto, ele também tinha tido uma conversa telefónica com Walter e não tinha corrido bem. E essa era a razão pela qual tinha ido ali em pessoa.
Tesouro era uma das ilhas privadas mais pequenas das Caraíbas e Walter Stanford, que era praticamente um senhor feudal ali, tinha investimentos na maioria dos negócios e vigiava a ilha como um pastor alemão.
O seu primo, Rico, queria construir ali um exclusivo resort com a ajuda da construtora King, que pertencia a Sean e aos meios-irmãos, Rafe e Lucas. Mas antes tinham de conseguir o lote, de maneira que andavam há meses a tentar convencer Stanford de que um hotel da cadeia King seria ótimo para a ilha porque criaria postos de trabalho e atrairia turistas endinheirados.
Rico tinha estado ali pessoalmente para falar com Stanford, seguido de Rafe e Lucas, mas nenhum dos três tinha conseguido nada. De maneira que era a vez de Sean, cujo encanto e simpatia costumavam convencer qualquer um.
– Eu não sou o Lucas – disse-lhe. – E farei um acordo com o teu avô, garanto-to.
– Não contes com isso, é muito casmurro – replicou Melinda.
– Não conheces os King. Nós inventámos o termo «casmurro».
Suspirando, Melinda inclinou-se um pouco para diante e o decote do seu vestido abriu-se, permitindo-lhe ver um sutiã de renda.
– Se queres mesmo o lote, há uma maneira de consegui-lo.
Rindo, Sean abanou a cabeça. Sim, era lindíssima, mas ele não estava à procura de esposa. Conseguiria o lote à sua maneira e não precisaria da ajuda de ninguém.
– A única maneira de consegui-lo é casando-me contigo?
– Exatamente.
– Não falas a sério, pois não?
– Completamente a sério.
– Estás a tomar medicação? – troçou Sean.
– Não, ainda não – respondeu ela. – Olha, o problema é que o meu avô está a fazer campanha para me ver casada e com filhos.
Sean fez uma careta. Os seus irmãos e muitos dos seus primos e amigos tinham-se casado ultimamente, mas ele não tinha intenção de o fazer. Já tinha passado por isso e tinha sobrevivido para o contar. Ainda que ninguém da sua família soubesse nada sobre o seu breve e desastroso casamento.
E não se pensava casar outra vez.
– Pois então boa sorte – disse-lhe.
Mas quando se ia levantar da cadeira, ela deu-lhe o braço e o arrepio que lhe provocou o toque da sua mão apanhou-o desprevenido…
E ela também parecia ter sentido algo porque desviou a mão de imediato.
Não importava, pensou Sean. Podia sentir-se atraído por uma mulher sem fazer nada a esse respeito. De facto, não se deixava levar pelo seu membro viril desde que tinha dezanove anos.
– Ao menos podias ouvir-me – insistiu Melinda.
Franzindo a testa, Sean voltou a sentar-se. Não estava interessado no que pudesse dizer, mas para quê arriscar-se a ofender um membro da família Stanford?
– Muito bem, sou todo ouvidos.
– Quero que te cases comigo.
– Sim, isso já eu sei, mas porquê?
– Porque é o mais lógico.
– Em que universo?
– Tu queres o lote para que o teu primo construa um hotel e eu quero um marido temporário.
– Temporário?
Ela riu suavemente, um som rico e musical, o cabelo negro flutuando em redor da cara como uma auréola.
– Pois claro – respondeu. – Pensavas que te estava a propor um casamento para a vida? Com um homem que não conheço?
– Foste tu quem me propôs casamento inclusive antes de me dizeres o teu nome.
– Sim, bom… – Melinda ficou séria. – A questão é que quando vires o meu avô, ele vai sugerir a venda do lote em troca deste casamento.
– Como sabes?
– Porque já tentou quatro vezes.
– Não tentou com o Lucas ou o Rafe.
– Porque eles já são casados.
– Ah, é verdade. Porque estaria a tentar dar sentido àquela loucura?
– O meu avô oferecer-te-á a venda do lote; em troca casas comigo e eu peço-te que aceites. Será um casamento temporário.
– Durante quanto tempo? – Sean não podia crer que estivesse a fazer essa pergunta. Ele não queria uma esposa, temporária ou não. O único que queria era comprar o lote.
Melinda franziu a testa, pensativa.
– Eu acho que dois meses seriam suficientes. O meu avô acha que inclusive um casamento arranjado poderia converter-se em algo real caso se lhe dê tempo, mas eu não.
– Também acho – assentiu Sean.
– Mas se fôssemos casados, ainda que só durante dois meses, o meu avô pensaria que tentámos e, simplesmente, não correu bem.
– E elegeste-me a mim como marido temporário… porquê?
Ela recostou-se na cadeira, tamborilando sobre a mesa com os dedos. Tentava parecer composta e calma, mas não podia dissimular o nervosismo.
– Tenho andado a pesquisar-te um pouco.
– O quê?
– Ouve, não vou casar com qualquer um.
– Ah, pois claro – disse ele, irónico.
– És formado em Ciências Informáticas e, ao terminares a carreira, meteste-te no negócio com os teus meios-irmãos. És um técnico, mas também és aquele a quem todos acodem quando há problemas – Melinda