Meu Furacão É Você. Victory Storm
Читать онлайн книгу.ele permitiu que ela o arrastasse até a fonte no playground vazio da escola. Ele a viu tirar um lenço Hello Kitty do seu avental rosa e umedecê-lo sob a bica da pequena fonte.
Depois, com uma doçura desconhecida para ele, ela esfregou o lenço molhado e fresco em seu rosto e olhos.
— Minha mãe me faz lavar os olhos depois que eu choro, para evitar que fiquem inchados e vermelhos — explicou ela com doçura para ele, enquanto continuava umedecendo seus olhos com o pano encharcado.
Quando a jovem considerou a limpeza satisfatória, ela pegou outro lenço limpo e passado da mochila. Ela o desdobrou e usou para limpar o rosto dele com gentileza.
Estupefato e feliz por aqueles toques inesperados e relaxantes, ele se permitiu ser lavado e enxugado, enquanto ficava parado como um boneco.
O vento cortante do outono estava soprando com força naquela tarde, mas Lucas se viu sorrindo feliz por aquela nova carícia que o céu também queria lhe dar.
Tranquilo como não se sentia há meses, ele abriu os olhos e conseguiu olhar nos olhos da sua salvadora, naquele furacão que havia se transformado em uma brisa fresca de primavera naquele momento, com seus gestos amáveis e gentis.
Ele olhou para ela por um longo momento, até que sua memória conseguiu lembrar o nome daquela garota: Kira. Ela era a garota nova que sentava na terceira fileira atrás dele na sala de aula.
— Seu rosto é estranho — declarou Lucas, deixando seus olhos deslizarem para aquela garota que era mais de dez centímetros mais alta do que ele. Embora ela fosse magra e muito alta, seu rosto era largo e redondo e se destacava naquele corpo magro e pequeno que se curvava sob o peso da mochila.
Sua pele era muito clara, mas as bochechas estavam avermelhadas pelo frio e sua boca pequena em forma de coração estava tensa e rígida, enquanto ela estava concentrada em dobrar os dois lenços.
Lucas demorou-se com curiosidade naqueles lábios pequenos e carnudos, se perguntando se ela conseguia comer algo maior do que uma migalha.
Mas a característica que mais o encantou foram os olhos ligeiramente meio abertos, com seu estranho formato amendoado. Mesmo que estivessem escondidos por uma franja preta reta, um pouco comprida demais, ele conseguiu distinguir dois olhos castanhos muito brilhantes com tons verde escuro, lembrando-o dos bosques no lago Westurian, onde seu pai possuía uma casa que eles usavam para passar o verão até dois anos antes.
Com um gesto zangado e um resmungo que jogou sua franja para trás, a garota olhou para ele, um pouco magoada.
— E você é baixo para um menino — respondeu a jovem, cruzando os braços.
— Você não parece americana. — Lucas tentou explicar, gaguejando enquanto falava.
— Desculpe, mas você não prestou atenção esta manhã, quando nosso professor me apresentou à turma?
Lucas não se atreveu a dizer que tinha adormecido porque seu pai o manteve acordado a noite toda com seus resmungos de bêbado.
Colocando as mãos nos quadris em um gesto desafiador e enchendo os pulmões com uma respiração profunda, a garota resumiu seu discurso matinal, esperando que desta vez se fixasse na mente do seu novo colega de classe.
— Meu nome é Kira Yoshida. Tenho nove anos de idade. Meu pai é japonês e trabalha para o exército enquanto minha mãe é americana e é assistente social.
— É por isso que seu rosto parece estranho. Você é japonesa — exclamou Lucas com alegria.
— Meu rosto não é estranho! Mãe diz que puxei as feições do meu pai, mas a cor dos meus olhos e meu caráter são dela. Aliás, eu estava dizendo que sou meio japonesa e meio americana. Posso falar japonês e inglês bem e frequentei a Escola Internacional em Tóquio, até meu pai ser transferido pelos próximos quatro anos para treinar os novos recrutas que protegem as embaixadas americanas no mundo. Minha mãe não queria ficar sozinha em Tóquio, então nos mudamos para cá com meu pai, embora ele quase nunca fique em casa. Sou boa na escola, embora seja melhor escrevendo ideogramas japoneses do que seu alfabeto, mas minha mãe diz que normalmente aprendo muito rápido e eu já decidi que serei uma assistente social também quando crescer. Entrei para o clube de basquete em Tóquio, mas não gosto muito desse esporte. Odeio esportes e adoro assistir animes e ler mangás.
— O que são mangás?
— Quadrinhos — explicou Kira, irritada com a ignorância de Lucas.
— Eu também gosto de quadrinhos! — disse a criança animada.
— Então vou te emprestar alguns.
— Sério? — Lucas ficou surpreso, porque ninguém na cidade queria lidar com ele e muito menos com seu pai.
— É claro! Somos amigos, não somos?
Amigos .
Essa palavra fez o coração de Lucas dar um pulo.
Ele não tinha amigos.
Nenhuma criança jamais se aproximou dele com medo de topar com o poderoso e perverso Darren Scott. Além disso, todos os pais e professores tinham medo da presença do seu pai e ele havia entendido rapidamente que ninguém seria seu amigo. Nem agora nem nunca.
Mas naquele dia, em vez disso, o furacão Kira havia entrado em sua vida. Ele não conseguia mais se lembrar do nome da família dela. Era muito difícil de soletrar.
— Oh, meu Deus! Kira, aqui estou! Desculpe, desculpe, desculpe, desculpe! — disse uma mulher impaciente, correndo de modo esbaforido na direção deles.
— Mãe! — exclamou Kira feliz, correndo para ela e abraçando-a.
Assistir aquela cena fez Lucas sentir lágrimas brotarem em seus olhos mais uma vez porque ele nunca tinha apreciado o amor da sua mãe. Quando estava viva, ela dividia seu tempo entre um coquetel e um comprimido para dormir, quando não era agredida pelos loucos frenesis de ciúme do seu marido.
— Querida, sinto muito por ter chegado atrasada no seu primeiro dia de aula, mas tive alguns problemas nesta manhã, então tive que lidar urgente de alguns assuntos e levá-los ao Tribunal Juvenil, antes que pudesse vir até você. Peguei muito trânsito, mas vim o mais rápido possível. Sinto muito.
— Não tem problema, mas temos que levar Lucas para casa. O pai dele bateu nele e depois ele o deixou aqui — respondeu sua filha com sua franqueza ingênua habitual, mas impiedosa, que foi como um tapa no rosto de Lucas e de sua mãe.
— Kira, essas são acusações sérias — advertiu sua mãe, pois passava todo seu tempo de trabalho lutando contra abusos ou problemas familiares que eram difíceis de superar sem a ajuda de uma assistente social.
— Você deve denunciá-lo às autoridades, emitir uma medida liminar e colocá-lo atrás das grades. — A jovem se entusiasmou, repetindo em detalhas as palavras que tinha ouvido na TV na noite anterior.
— Nem pense em assistir Law & Order comigo na próxima vez — adivinhou sua mãe, antes de se aproximar do menino. — Você deve ser Lucas, não é? Meu nome é Elizabeth Madis e sou a mãe de Kira.
Lucas assentiu timidamente diante daquela mulher sorridente, cujos olhos verdes eram doces e corajosos. Kira estava certa: ela tinha os mesmos olhos da mãe, mas elas não se pareciam em mais nada. O cabelo liso e bem preto de Kira contrastava com o cabelo cor de caramelo e ondulado de sua mãe.
— Kira diz que seu pai bate em você. Isso é verdade? — perguntou ela de maneira gentil.
— Sim, é verdade. Sua bochecha está toda vermelha — interrompeu Kira, recebendo um olhar de desaprovação da mãe.
— Acontece — sussurrou