A valsa encantada. Barbara Cartland

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A valsa encantada - Barbara Cartland


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asilo, mas o caso é que não quero deixar você. Portanto, o pescoço de Volkonski está salvo.

      —E ele precisa lhe ser grato por isso.

      Richard beijou o ombro nu de Katharina.

      —Não tenho vontade de sair deste quarto— disse—, está fazendo frio lá fora e com certeza o agente do Serviço Secreto Imperial está enregelado no corredor.

      Ele saiu sem outra palavra e fechou a porta com força.

      A Princesa Katharina esboçou um sorriso. Richard era inglês demais, pensava, para aceitar os costumes da Rússia. Já haviam discutido sobre o assunto, e ela usara de bastante tato para impedir que ele ofendesse algum empregado a cargo de vigiar os movimentos deles, ou um lacaio com ordem de ouvir atrás da porta, sob as instruções de Volkonski.

      Tudo fazia parte de uma vida que ela conhecia muito bem. Na Rússia, havia espiões por todo lugar. Katharina lembrava-se de que o marido, o Príncipe Peter Bagration, morto em batalha, ressentia-se dos espiões que o seguiam onde quer que ele fosse.

      Na Áustria, era a mesma coisa. Sabia-se de cada pormenor do que se passava no Palácio de Hofburg, e tudo era levado ao conhecimento do Imperador Francis pelo Barão Hager.

      Katharina trabalhara um tempo como agente do Serviço Secreto. Fora mandada pelo governo russo para conquistar Clement Metternich. E o fato de ela ter se apaixonado desesperadamente concorreu para fazer a tarefa mais fácil e mais prazerosa. Ela e Clement eram agentes entusiastas de seus respetivos países. Sendo ambos fanáticos por suas causas, isso ajudou em vez de perturbar a alegria e o êxtase do amor que um dedicava ao outro.

      Uma ocasião, usando apenas um négligé transparente, ela sentara-se no braço da poltrona de Metternich. Tinham jantado juntos no boudoir e bebericavam o licor que os lacaios haviam deixado sobre a mesa, retirando-se discretamente em seguida. Clement olhava para o próprio copo e Katharina notou, pela expressão do rosto dele, que se esquecera dela por minutos, e que pensava em política.

      Fitou-o bem nos olhos, inclinou-se e, trêmula, beijou-lhe os lábios. Metternich a pôs sobre seus joelhos, beijando-a com violência e enorme paixão. Esquecidas foram todas as intrigas da Rússia e da Áustria, tudo foi posto de lado, exceto o selvagem desejo de um pelo outro. Bem junto do ouvido do amante, Katharina sussurrou:

      —Oh, meu Clement, que coisa terrível seria haver uma guerra entre a Rússia e a Áustria! Não poderia aguentar estar do lado oposto ao seu! Isso me mataria! Mas, enfim, por que me preocupar? É inconcebível que uma nação possa declarar guerra contra o Governo que você representa.

      Metternich rira e, alguns minutos mais tarde, ainda se abraçando, conversavam e discutiam sobre os problemas de uma guerra. Katharina, mulher diferente de qualquer outra que ele conhecera, tinha imensa habilidade de passar de momentos de infinita ternura e paixão para discussões intelectuais, e com tanta astúcia como a de um estadista ou diplomata.

      Como haviam sido felizes, ela e o Príncipe Metternich!

      Katharina deu um suspiro ao pensar nas noites de amor e discussões, quando a paixão e a política misturavam-se, e quando as horas passavam depressa, mais depressa do que desejaria.

      Como poderia Richard Melton ou qualquer outro homem entender o que significava ser amada por Metternich... e amá-lo? Supunha que parte de seu coração pertenceria para sempre a ele. Não obstante, enquanto fosse linda, desejada, haveria muitos outros homens em sua vida.

      Richard era um deles. Algo nele a atraía terrivelmente, algo que fazia seu coração bater mais forte quando estavam juntos. Precisava fazer-se linda aquela noite, pois iria vê-lo de novo. Inclinou-se diante do espelho e viu pequenas linhas, quase invisíveis, no canto dos olhos, o primeiro sinal de que a juventude passaria e sua beleza declinava. Eram ainda rugas disfarçáveis, mas chegaria o dia...

      Katharina estremeceu. Com fúria, tocou a sineta para chamar a empregada. Queria uma massagem, banho,

      uma boa aplicação de cosméticos, perfumes e pó, antes do baile da noite.

      Em seu quarto, Richard Melton vestia-se vagarosamente, com roupas compradas em Weston de Bond Street. Seu traje despertaria inveja em muitos congressistas. Ele tinha ombros largos demais para a lânguida elegância requerida de um dandy da época. Mas, quando o valete acabou de dar o nó da gravata, considerou-se bem vestido e ficou contente com sua aparência máscula.

      Havia apenas posto o relógio no bolso do colete quando ouviu uma pancada forte na porta. Harry, o valete, um inglês típico, abriu-a. Um ajudante-de-ordens do Czar, com farda de gala, declarou:

      —Sua Majestade Imperial, o Imperador da Rússia, exige a presença imediata do Sr. Melton.

      —Muito bem— respondeu o valete—, meu amo irá em alguns minutos— e fechou a porta prontamente.

      —O todo poderoso quer vê-lo, patrão— disse o valete.

      — Santo Deus, o senhor não pode ter um minuto para si neste lugar, não é?

      —É verdade, Harry, mas pobres não têm escolha.

      —Não comece a falar sobre pobres outra vez, patrão. Estamos muito longe de sermos pobres.

      —Longe enquanto permanecermos aqui, Harry. Por isso, não há motivo para recriminações.

      —Certo. Não obstante, não me tratam bem neste lugar, patrão. Esses malditos empregados russos, com olhos orientais, dão-me as migalhas de sua mesa. Mas não sei como aguentam os maus-tratos que recebem de seus amos. Se me tratassem assim, eu os mataria!

      —Acredito— respondeu Richard secamente—, contudo, se não quer sair daqui, é melhor controlar-se.

      —Concordo, patrão. Vou me controlar.

      E após uma pausa, ele acrescentou:

      —Tem notícias da Inglaterra? Apenas sei que meu “querido” primo, o Marquês, está em boas graças em Carlton House. Jantou com o regente na semana passada.

      —Maldito! Espero que engasgue da próxima vez!

      —Meu desejo compartilha com o seu, Harry, mas infelizmente meu “honrado” primo goza de excelente saúde.

      —Por que não vai falar com o Príncipe Regente, patrão, para lhe contar toda a verdade?

      —Já conversamos sobre o assunto, Harry, e sabe que ninguém me daria crédito. Eu estava sem testemunha a meu favor quando encontrei o infeliz Sr. Danby no chão, se esvaindo em sangue, e três homens jurando que eu fizera aquilo.

      —E o patrão preferiu não se dar ao trabalho de provar sua inocência?

      —Eles jurariam por todos os santos que eu cometera o assassinato. Não, Harry, há ocasiões na vida em que você precisa aceitar o inevitável, e essa foi uma delas para mim. Ao menos meu primo, o Marquês , pagou minhas dívidas e deu-me quinhentas libras para a viagem.

      —Quanta generosidade a dele!— replicou Harry com sarcasmo. — Algum dia pagará pelo que fez, pode estar certo.

      Richard esperava que Harry tivesse razão, mas duvidava muito. Ele nunca amara o primo, e se amaldiçoara dezenas de vezes por ter sido tão tolo indo pedir o auxílio dele a altas horas da noite! Os credores o importunavam muito nos últimos tempos, e sua única chance de pagar as dúvidas era que o primo o ajudasse.

      Ao saber que ele já havia voltado do clube, naquela maldita noite, foi lhe fazer uma visita para pedir dinheiro. Mal pôde acreditar na cena apresentada no jardim enluarado. Viu logo o que sucedera. Charles Danby jazia jogado na grama com o sangue escorrendo pela camisa branca, um pouco acima do coração. Os homens ao lado do primo ficaram preocupados com sua súbita aparição. Richard lembrou-se de que o Marquês fora prevenido, havia apenas um mês, de que o regente não toleraria mais duelos.

      Contudo, era difícil, para um brilhante duelista e homem de temperamento difícil de ser controlado, desistir do seu desporto mortal ao qual se dedicara


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