Cattle of the Lord. Rosa Elise Branco
Читать онлайн книгу.Beside the Window
29 The Soul in the Mouth of Animals
30 Noah’s Ark
33 Via Sacra
L’homme est une maladie mortelle de l’animal.
ALEXANDRE KOJÈVE
OFÍCIOS DO MUNDO
Pias são as vacas
aspirando o chão com as manchas brancas
enquanto as negras erguem para o céu
um olhar bovino por cima da casa
onde o pasto secou há muito
nos corações dos homens.
Só a vara lhes cabe na mão.
Ofício do mundo. Contar os minutos quilo a quilo.
Fazedores de carne, do livro de contas,
que contarão ao Senhor
no altar do sacrifício
que ele não saiba ou tenha sido?
No fim da noite bebem o vinho sagrado
de fato sombrio e rosto encoberto
pela lua. Cá fora trocam-se “mus”:
mantras de amor sob as estrelas.
Senhor, de quanta compaixão precisas
para apadrinhares o churrasco de domingo?
TASKS OF THE WORLD
How devout the cows
snuffling the ground with their white spots
while the black ones raise toward the sky
a bovine gaze above the house
whose pasture long ago withered
in the hearts of men.
Only the switch still fits their hand.
Tasks of the world. To count the minutes, pound by pound.
Makers of meat, keepers of account books,
at the sacrificial altar
what will you tell the Lord
he doesn’t know or hasn’t been?
At night’s end they drink sacred wine
in a somber suit, faces hidden
by the moon. Out there the cows exchange their moos:
mantras of love beneath the stars.
Lord, how much compassion will it take for you
to be godfather at the Sunday barbecue?
ROTA DO SANGUE
A rota das aves. Essas manhãs em que
levantava a cabeça e elas passavam
rente à infância. Passeavam
no céu como eu passeava cá em baixo. Sem rua
e passeios apinhados na respiração por um segredo
dentro do ouvido. Um tremor, quase a consciência
de ter corpo. Em bando, mais gente que segredos.
Talvez seja por isso que pousam nos telhados vazios.
É o caminho que as escolhe.
Há mais coisas a dizer entre o quê e o quem.
Por exemplo, as aves têm rotas que a guerra desconhece.
Previsível colisão com aviões
este ano (pensa ela),
este país em sangue
no bico das aves.
Elas passavam. Ficam os comboios, os apeadeiros,
o borbulhar de passos que se afastam das aves.
Era o corpo que exigia outros mapas, linhas
sinuosas ou beijos. As manhãs agora fazem perguntas,
por exemplo, quem escolhe uma morte para seguir a rota
dos outros. Sempre uma pergunta sobre o lucro.
Conclui-se que há menos razões que aves
nos telhados solitários. Há menos, mas mais sangue.
SILK ROAD OF BLOOD
The route of the birds. Those mornings when I’d
lift my head and they’d be going by
grazing my childhood. Strolling
the sky as I would stroll below. Without a street and
packed sidewalks jamming their breath for a secret
inside the ear. A trembling, almost a consciousness
of having a body. Flocked together, more people than secrets.
Maybe that is why they land upon the empty roofs.
It is the path that chooses them.
There is more to be said between the what and the who.
For example, birds have routes the war knows nothing of.
Collisions with planes in the forecast
this year (she tells herself),
this country bloody
in the beaks of birds.
They’d be going by. But not the trains, the wayside stations,
the bubbling footsteps further and further from the birds.
It was the body that demanded other maps, sinuous
lines or kisses. But mornings now are asking questions,
for