O outro lado do amor. Catherine Spencer

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O outro lado do amor - Catherine Spencer


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contar que a minha filha tinha fugido. Por isso, decidi dizer que tinhas casado. Achei que seria demasiado aborrecido e que assim falariam de outras coisas.

      – Nem sei como é que acreditaram nisso!

      Hilda sorriu e segurou na mão da filha.

      – Até o teu pai acreditou. Nunca lhe revelei a verdade. Sei que me culpas por ter permitido que ele te maltratasse. Mas doía, provavelmente, mais a mim todos os maus tratos que sofreste, só não ficava com feridas visíveis.

      Ariel já estava deitada. Era a primeira vez que mãe e filha conversavam sozinhas. Molly sentiu-se com forças para perguntar o que sempre desejara saber.

      – Então, por que é que nunca o deixaste? Por que é que não fugimos? Como conseguiste viver com semelhante besta?

      – Porque, como costumas dizer, vivíamos no passado, com um século de atraso. Tive-te com quarenta e três anos de idade. As mulheres da minha idade não abandonam os maridos. Além disso, no início da casamento ele não era assim. Quando casámos era um homem adorável, mas o acidente modificou-o. Ao perder a perna, perdeu a vida. Era alto e forte, mas um coxo não faz nada num barco de pesca. Morreu ao saber que tinha deixado de ser o patrão da frota.

      – Ser coxo não o impedia de perseguir-me pela rua cheio de ira.

      – Porque o recordavas de como ele era antes do acidente… são, forte e independente. A raiva devorava-o. Por isso, às vezes, dizia e fazia aquelas coisas.

      – Às vezes? Não me recordo de um só dia em que não me fizesse sentir mal. Era rebelde porque ele me tornou assim.

      A sua mãe suspirou.

      – Fisicamente és parecida com ele, mas não quero que te pareças com o seu carácter. Não deixes que a sua ira te invada porque te destruiria a ti e à minha preciosa neta.

      Molly tinha dado voltas àquelas palavras. Chegara à conclusão de que faziam sentido. Tinha de libertar-se da influência do pai.

      A porta da clínica abriu-se, Dan entrou.

      – Olá, Molly – saudou-a. – Entra para o meu consultório. Venho já.

      Demorou cerca de dez minutos, Molly começava a ficar impaciente.

      – Julgas que tenho o dia todo? – soltou.

      – Bem, bem, as crianças não têm hora marcada para nascer. Devias sabê-lo. Por acaso a tua filha nasceu com hora marcada?

      A última pessoa de quem queria falar era de Ariel, mas tinha que contestá-lo.

      – Não – disse.

      – Vês? – disse com um daqueles irresistíveis sorrisos. – Tens fome?

      – Como?

      – Se tens…

      – Eu ouvi, mas não sei porque é que perguntaste isso.

      Dan observou-a.

      – Pára de te comportar como se tivesses engolido um limão. Estou a convidar-te para almoçar, não estou a dizer que vou arrancar-te o coração.

      Molly pensou que isso já fizera há onze anos atrás, mas não iria revelá-lo. O seu ego era enorme.

      – Não, obrigada. A Ariel está com a minha mãe e não quero deixá-las sozinhas além do estritamente necessário.

      – Apenas por meia hora, para decidirmos o que fazer com a tua mãe. Apenas um sanduíche. Se quiseres, telefona-lhe.

      – Não é preciso. Há biscoitos e leite. Ariel sabe tratar de si.

      – A tua filha não é demasiado nova para tanta responsabilidade?

      – Tem dez…

      – Dez anos? – perguntou Dan. – Isso quer dizer que…

      – Não, que tem dez vezes mais maturidade que as meninas da sua idade – disse a tremer por dentro. – Além disso, tenho o telemóvel comigo, caso precise de telefonar-lhe.

      – Bom, nesse caso, não vejo problema algum de irmos almoçar para falarmos da tua mãe.

      «Eu vejo todos os problemas do mundo! Quanto mais tempo passo contigo, mais probabilidades tenho de meter a pata na poça», pensou Molly.

      – Tem cuidado – disse Dan agarrando-a pelo braço. – Serias de pouca ajuda se partisses uma perna.

      Levava roupa suficiente para impedir que o frio entrasse no seu corpo, mas não evitava que sentisse o calor da sua mão. Seria porque era o único homem que tinha tocado nas suas paixões mais íntimas?

      – Posso ir sozinha – contestou.

      – Com essas botas, não – disse Dan em tom jocoso. – Mais vale calçares uns sapatos mais práticos, agora que estás por cá. Por quanto tempo pensas ficar?

      – Todo o tempo que a minha mãe precisar.

      – Isso poderá ser indefinidamente. Estás realmente disposta a fazer esse sacrifício?

      – Estou – respondeu ao constatar que ele ainda não largara o seu braço, apesar de já terem atravessado a rua.

      – E o teu marido? Se fosse teu marido não acharia piada nenhuma se me deixasses sozinho na outra ponta do país, mesmo que fosse para cuidares da tua mãe, quem nem sequer conheço.

      – Essa é uma das razões porque tu não és meu marido. Não és o que eu esperava.

      – A outra razão, é que nunca quis encarnar esse papel – disse ao entrarem no bar. – Entra. As empregadas já não são tão bonitas como antes, no entanto, Ivy Tree continua a ser um dos bares da região que melhor faz sanduíches.

      Molly sentiu-se invadida pelo pânico ao entrar ali. Quis sair, mas tropeçou.

      – Desculpa, tropecei no tapete.

      – Já te disse que essas botas não servem para andares por aqui – sorriu.

      Errado. Eram perfeitas para lhe dar um pontapé em determinado sítio.

      Dan chamou a empregada e sentaram-se.

      – Duas sanduíches da casa e café – disse.

      – Eu quero uma salada de espinafres e chá – interveio Molly, decidida a demonstrar-lhe que era independente.

      – Com açúcar e leite? – perguntou a empregada.

      – Não, só com limão.

      – O meu café é com açúcar e leite, Charlene. Já sabes que preciso de toda a doçura do mundo – sorriu.

      Charlene ficou a olhá-lo, enamorada, antes de se afastar.

      – Como é que o fazes? – perguntou Molly.

      – O quê? – ripostou com ar inocente.

      Tão inocente como um lobo num galinheiro!

      – Como se não soubesses. Essa mulher tem idade suficiente para não cair rendida ante um homem bem falante. Quase que o uniforme cai, tamanha é a sua emoção.

      – Ah, sim? Não reparei – disse ao esticar a mão sobre a mesa e ao brincar com os dedos de Molly. – Estava a pensar era o quanto esse uniforme te ficava bem há uns anos atrás.

      – Bastante indecente, é o mais provável – disse ela ao apartar a mão. – A saia era demasiado curta.

      – Lembro-me das altas e maravilhosas pernas. Quase me bateste quando te disse isso pela primeira vez.

      Molly só se lembrava dos seus lábios e de como aquele homem a deixava louca quando faziam amor.

      – Isso já não tem importância. Estamos aqui para falar da minha mãe. Passa os dias na cama porque não pode subir e descer as escadas. Se eliminássemos esse obstáculo, que possibilidades


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