Levada pelos seus parceiros. Grace Goodwin
Читать онлайн книгу.uma suposta traficante de drogas do que por ser uma molecote.
— Srtª Smith, eles não pensam que é uma traficante de drogas. Eles sabem que é uma traficante de drogas condenada. Mas não, eu já enviei assassinas condenadas para fora do mundo. Eu não sei por que motivo estão fazendo isso.
Ela negou com a cabeça em tristeza e apertou uma série de botões no seu tablet. Levantaram-me um pouco mais da água, o deslizar suave distraía-me enquanto eu olhava para baixo, para o meu corpo, descobrindo que todos os meus pelos tinham desaparecido. A minha cabeça doía terrivelmente devido aos novos implantes que estavam no meu crânio e a minha mente zunia com um barulho parecido com eletricidade estática crepitando um alto-falante.
Enquanto o meu corpo era novamente colocado sobre a cadeira de exame, a Guardiã Egara trazia um cobertor seco e cinzento para me vestir. — Peço imensas desculpas, Jessica. Isto nunca aconteceu. Eu terei de enviar um inquérito formal para a Aliança Interestelar para descobrir o que se deu.
Eu estava nua, água azulada escorria pelo meu corpo, tinha um cobertor áspero sobre mim e ainda estava amarrada àquela maldita maca. Quão mais miserável eu podia ficar? — Quanto tempo vai demorar? — O zunido da minha cabeça aumentou.
— Várias semanas, pelo menos. — As palavras silenciosas dela transformaram-se subitamente numa corneta a poucos centímetros dos meus tímpanos e eu me encolhi.
Ela inclinou a cabeça quando eu me encolhi e deixou-me por um instante, voltando com um tubo de injeção, que ela pressionou contra a lateral do meu pescoço. Eu recuei.
A dor passageira valia a pena, visto que a minha dor de cabeça se dissipou em questão de segundos.
— Peço imensas desculpas pelo seu desconforto. A maioria das noivas dorme durante o processo de integração dos neuroestimuladores. — Ela observava-me, seus olhos eram suaves e redondos, mais carinhosos do que a última vez que os vi. Eu pisquei ao observar aquela mudança, depois, percebi que o que ela me oferecia não era preocupação, era pena. Eu nem sequer conseguia ser enviada para fora do planeta sem que algo corresse mal.
— O que são neuroestimuladores?
— São implantes neurológicos que permitem que a tua mente adote novas línguas e hábitos. Agora, você poderá compreender e falar qualquer língua nova dentro de apenas alguns minutos, incluindo todas as línguas da Terra. Esta tecnologia é destinada apenas àqueles que vão sair do planeta, mas visto que aparentemente você vai ficar, pode acabar por ser uma grande vantagem.
Pisquei os olhos e tentei processar o que ela me dizia. Uma vantagem? Isto era o meu prêmio de consolação, poder falar e compreender outras línguas? — Qualquer língua?
Ela acenou uma vez, claramente satisfeita com a tecnologia, mas também confusa e decepcionada pela minha rejeição. — Com certeza. Da Terra ou da Aliança.
Visto que eu já não ia para um planeta da Aliança, eu não conseguia entender para que aquilo serviria. Eu tinha uma espécie de super-chip na minha cabeça que me permitiria compreender programas de televisão de outros países ou compreender estrangeiros no aeroporto. Ótimo. Aquilo era tudo o que eu sempre sonhei. Eu preferia receber um carro de graça ou uma viagem para o Hawaii. Ou talvez algum dinheiro.
O que teria sido melhor era ser transportada e viver o meu próprio sonho da vida real, tal como no sonho do processamento no qual dois homens poderosos cobriam o meu corpo, fodendo-me como se eu fosse a mulher mais desejável que eles alguma vez conheceram, fazendo-me sentir bonita. Desejada. Amada.
Não. Eu recebi o maldito tradutor mental.
Eu falhei com os meus amigos da agência de notícias, falhei com os meus amigos do serviço policial, falhei em provar a minha inocência no tribunal e, agora, nem sequer era digna de um macho alienígena tão desesperado por uma boceta quente e molhada que aceitariam uma assassina ou ladra como parceira, mesmo sem vê-la primeiro. Mulheres – criminosas – eram enviadas às centenas para o Programa Interestelar de Noivas ao longo dos últimos anos. As mulheres que eram presas e processadas eram de todos os tipos. Viciadas em drogas e traidoras. Ladras e assassinas.
Todas estas mulheres tinham viajado às estrelas, encontrado novos lares e novas vidas com machos alienígenas desesperados por obter noivas através do programa. Aquelas mulheres tinham começado do zero, tinham recebido uma nova oportunidade.
Eu? Eu não. Eu recusei um suborno, fui incriminada por um crime que não cometi e, agora, tinha sido rejeitada não pelo parceiro que foi emparelhado comigo, mas pelo maldito rei de todo um planeta.
Este, certamente, não era o meu melhor dia.
— Agora, o que é que eu faço?
A Guardiã Egara inclinou a cabeça e suspirou. — Bom, o teu serviço voluntário para o programa de noivas era tudo o que era necessário para cumprir com os termos da condenação penal. Visto que nunca ninguém foi rejeitado antes, isto é uma lacuna na qual você caiu e que muito provavelmente será retificada. Presumo que no futuro, uma mulher rejeitada tenha de ir para a prisão. Por agora, não há regras relativas a uma pena alternativa, portanto, cumpriu todos os requisitos da tua sentença.
— Quer dizer que...
— Está livre, Srtª Smith.
Ela levantou a ponta do cobertor e limpou várias gotas do líquido azul do canto do meu olho, onde começaram a acumular-se e a deslizar, escorrendo pelas minhas bochechas em forma de lágrimas.
Eu estava livre. Não havia sentença. Nem prisão. Nem um bonitão de fora do planeta.
— Vá para casa.
Eu não queria ir para casa. Eu não tinha casa. Nem trabalho, nem amigos e nem futuro. Visto que eu deveria ir para uma galáxia muito distante, as minhas contas bancárias tinham sido limpas, a minha casa vendida. Quando uma mulher é enviada para fora do planeta através do programa de noivas, os pertences dela são divididos como se ela tivesse morrido. Morrido e partido, para nunca mais voltar. Eu não tinha ninguém para declarar a minha torradeira ou o meu sofá velho, portanto, eu tinha que presumir que tudo seria doado para a caridade.
Eu era a primeira noiva a ser mandada para casa como se fosse um cão, com o rabo entre as pernas, indigna para um parceiro alienígena.
Se eu saísse pelas portas do centro de processamento e passeasse o meu rosto pela cidade? Bom, os idiotas que armaram essa cilada para mim enviariam os seus capangas para terminar o que começaram. Se eles soubessem que eu ainda estava na Terra, eu teria um preço pela minha cabeça dentro de algumas horas.
Mas, mais uma vez, eu não era uma princesa mimada. Eu tinha uma mochila de viagem, alguma roupa guardada e dinheiro que um amigo meu do serviço de inteligência internacional tinha me convencido de que era necessário para a minha sobrevivência. Graças a Deus que eu lhe dei ouvidos. Tudo o que eu tinha que fazer era recuperar a minha caixa de armazenamento da qual ninguém sabia e podia recomeçar. Eu estava livre. Sozinha. Miserável. E magoada. Mas livre para fazer o que eu queria fazer… como, por exemplo, expor um grupo de políticos e policiais corruptos.
Os malditos fraudulentos pensavam que eu tinha partido para fora do planeta. Que já não era problema deles. Talvez aquela fosse a única coisa boa que ia me acontecer hoje.
Eu balancei as minhas pernas para fora da maca e sorri, subitamente preenchida por uma alegria inesperada. Eu podia não ser boa o suficiente para um maldito alienígena, mas era bastante boa com uma lente teleobjetiva. Eu pensava nela como se fosse o meu estilo pessoal de espingarda. Uma imagem perfeita era todo o necessário para dar cabo de alguém, expor suas mentiras, arruinar suas vidas. Se a minha câmera era uma arma, então, eu tinha uma lista de quase um quilômetro de pessoas para abater. Se eu seria um fantasma enquanto o fazia, uma pessoa que nem era para estar na Terra, então, isso era ainda muito melhor.
Eu saltei para fora da maca, apertando o cobertor para que ficasse fechado ao meu redor, mas tive que repensar no movimento súbito que fiz quando senti a sala girar. Os braços da Guardiã