Escândalo no quarto. Caitlin Crews

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Escândalo no quarto - Caitlin Crews


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Vão rodear a cabana e transformar a sua vida num inferno. – Lauren sorriu de orelha a orelha. – É apenas uma questão de tempo.

      – Passei toda a infância à espera que alguém viesse – replicou ele, com delicadeza, depois de um silêncio que a deixou nervosa. – Nunca veio ninguém. Vais perdoar-me se não acreditar que, agora, de repente, interesso a alguém.

      – Quando era pequeno, era um erro ilegítimo. Foi o que o pai da Alexandrina San Giacomo escreveu sobre si, não é uma descrição minha – apressou-se a esclarecer ela. – Agora, é o herdeiro San Giacomo que devia ter sido sempre. É um homem muito rico, senhor James. Mais ainda, faz parte de uma linhagem muito antiga e ilustre.

      – Enganas-te por completo – contradisse, com uma amabilidade que não enganou Lauren, pois viu a expressão implacável do seu rosto. – Sou um órfão, um ex-soldado e um homem que prefere estar consigo próprio. Se fosse a ti, voltava a correr para o homem que segura a tua trela e contava-lhe. – Então, os olhos dele deixaram escapar um brilho ameaçador. – E fazia-o já, como um cão obediente, antes que me esqueça do teu sabor e dar rédea solta ao meu mau feitio.

      Fá-lo-ia com muito prazer. Se ser o cão de Matteo a livrasse daquele homem, adoraria sê-lo, mas não fora a tarefa que lhe tinham pedido.

      – Receio que não possa fazê-lo.

      – Não há alternativa, Capuchinho Vermelho. Já te dei a minha resposta.

      Lauren percebia que falava a sério, que estava disposto a voltar para a cabana ridícula no meio do nada, a esquecer as suas origens e a fingir que não a encontrara. Sentiu um arrebatamento de um sentimento diferente e que não dizia nada de bom dela.

      Não desdenharia a fortuna dos San Giacomo e tudo o que a acompanhava. Não gozaria com a ideia de ser uma herdeira desaparecida durante todo esse tempo. Era muito melhor do que a realidade crua, que tanto o pai como a mãe se casaram outra vez e que tinham umas famílias maravilhosas e novas de que gostavam muito mais do que dela, a lembrança de todas as más decisões que tinham tomado juntos.

      Tinham-na passado de mão em mão sem vontade e com muito pouco carinho até, finalmente, ser maior de idade e lhes comunicar que podiam parar de o fazer. A verdade triste era que ela esperara que algum deles objetasse ou, pelo menos, fingisse, mas nenhum dos dois se incomodara em fazê-lo… e não achava que isso tivesse importado muito se tivesse sangue azul e uma fortuna repentina para amortecer o golpe.

      – Esta notícia teria entusiasmado a maioria das pessoas – conseguiu dizer ela, sem ceder aos seus próprios sentimentos. – É quase como ganhar a lotaria, não é? Segue em frente com a sua vida, mas, de repente, descobre que é uma pessoa completamente diferente de quem pensava que era.

      – Sou exatamente quem acho que sou. – Garantiu-o num tom tão ameaçador como o seu olhar. – Trabalhei muito para o ser e não tenciono desistir por causa dos remorsos de uma mulher morta.

      – Mas eu não…

      – Sei quem são os San Giacomo – interrompeu Dominik. – Acredita em mim, em Itália, senti a sombra deles e não quero ser um deles. Podes dizer isso ao teu patrão.

      – Voltará a mandar-me cá e, se continuar a rejeitar-me, acabará por ser ele a vir. É o que quer? Quer ter a oportunidade de lhe dizer que não está interessado no presente que quer dar-lhe?

      – É um presente ou é o que me correspondia por nascimento e não me permitiram reivindicar? – perguntou ele, olhando para ela com atenção.

      – Seja o que for, não será nada se se fechar na sua cabana de madeira como se não estivesse a acontecer nada.

      Riu-se. Não deitou a cabeça para trás nem deixou escapar uma gargalhada, só sorriu. Foi um sorriso fugaz que fez com que Lauren tivesse vontade de ouvir uma gargalhada real.

      Podia saber-se o que estava a acontecer?

      – O que não entendo é o teu empenho.

      A sua voz foi como uma carícia nas costas e não ajudou imaginá-lo a fazer precisamente isso e a passar-lhe a língua pelo corpo enquanto lhe acariciava as ancas e… Teve de se sacudir levemente para franzir o sobrolho e voltar a concentrar-se nele.

      – Sei que estiveste à minha procura. Demoraste semanas, mas perseveraste. Se, em algum momento, te passou pela cabeça que não queria que me encontrassem, isso não te parou… e aqui estás, sem que te tenha convidado.

      – Se sabia que estava à sua procura – algo em que tinha de pensar bem porque parecia difícil sabê-lo quando estava naquela cabana rodeada de árvores –, porque não entrou em contacto comigo?

      – Ninguém vive numa casinha no meio de um bosque da Hungria se quiser que o visitem e muito menos uns visitantes imprevistos. – O sorriso dele foi outra vez como uma faca afiada e perigosa. – Mas aqui estás…

      – Faço muito bem o meu trabalho. – Lauren ergueu o queixo. – Na verdade, faço-o especialmente bem e, quando me dão uma tarefa, levo-a a cabo.

      – Se te pedir para saltares, chegas à lua, não é?

      Percebeu a brincadeira e sentiu vergonha, embora não entendesse. Não entendia nada daquilo.

      – Sou a secretária pessoal dele, senhor James, e isso significa que o ajudo em tudo o que precisa. Vem com o posto, não é um defeito da minha personalidade.

      – Posso dizer-te o que sei do teu empregador. – Dominik disse-o num tom indolente, como se fosse um jogo, mas ela sabia que não era. – É uma desonra, não é? É um homem que ama tanto essa família de que quer que faça parte que deu um murro ao amante da irmã no enterro do pai. Que rico exemplo! Não consigo entender porque não quero envolver-me com essas pessoas…

      Fazia muito bem o seu trabalho. Teve de se recordar naquele momento, mas era verdade. Respirou fundo e expirou devagar enquanto tentava entender o que estava a acontecer.

      Era evidente que aquele homem sentia rancor pelas pessoas que o tinham deixado num orfanato e até era compreensível. Supunha que era possível que não estivesse a desdenhar a oferta de Matteo, mas a oferta chegava demasiado tarde para ser importante. Também conseguia entender isso porque passara mais horas do que estava disposta a reconhecer a imaginar que os pais lhe suplicavam que lhes dedicasse o seu tempo e que ela os rejeitava.

      Além disso, supunha que, se tivessem enviado um homem para o encontrar, Dominik teria encontrado uma forma de o incomodar, como faria com qualquer emissário enviado por quem o abandonara. Toda a história do beijo e dos contos de fadas era um jogo para a despistar, tal como as situações que ela imaginava com os seus pais.

      Tinha de presumir que o facto de se recusar a envolver-se com os San Giacomo se devia a se sentir ferido nos sentimentos, mas, se havia alguma coisa que sabia sobre os homens, independentemente de serem ricos, poderosos ou impenetráveis, era que todos respondiam aos sentimentos feridos como se os próprios sentimentos fossem um ataque e como se qualquer pessoa que estivesse perto fosse um cúmplice.

      – Entendo a sua posição – Lauren tentou parecer conciliadora –, digo-o sinceramente, mas, mesmo assim, quero que vá ver a sua família. O que tenho de fazer para o conseguir?

      – Primeiro, passeias pelo bosque ameaçador com uma capa vermelha. Depois, deixas que o Lobo Mau te encontre e descubra o teu sabor. Agora, fazes uma oferta… aberta? Que olhos tão grandes que tens, Capuchinho Vermelho.

      Não havia nenhum motivo para tremer por isso, como se ele estivesse a fazer uma previsão em vez de estar a jogar esse jogo a que já dedicara demasiado tempo e atenção.

      No entanto, o bosque rodeava-os, o vento soprava entre as árvores e a vila estava longe dali… e ele já a beijara.

      O que estava a oferecer-lhe, questionou-se, embora não respondesse.

      Quando olhava para Dominik James, sentia-se como se não se conhecesse. Fazia com que se sentisse trémula e nervosa, como se o seu


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