Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez Lezaun

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Uma bala com o meu nome - Susana Rodríguez Lezaun


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Foi muito amável comigo durante toda a noite, mas não é obrigado a entreter-me fora das suas horas de trabalho. Agradeço, mas não é necessário.

      — Engana-se — declarou, quando já começara a afastar-me dele. — Não é uma obrigação. Antes pelo contrário, para mim, seria uma honra se me acompanhasse a essa festa. Não costumo convidar desconhecidas e muito menos mulheres com tanta classe como a senhora, mas estou convencido de que é fascinante e de que poderíamos divertir-nos muito juntos.

      Como num romance barato, senti a intensidade do seu olhar e a tensão da sua boca enquanto esperava pela minha resposta e, sem conseguir evitá-lo, imaginei os lábios dele na minha pele.

      — Porque não? — repliquei, sem conseguir acreditar nas minhas palavras.

      O jovem relaxou a expressão e mostrou um sorriso de galã.

      — Obrigado, tentarei fazer com que se divirta e com que se esqueça de tudo isto — declarou, apontando para a sala com um movimento da cabeça.

      Sorri e deixei-me levar pela emoção do momento.

      — Para começar, terá de parar de me tratar com tanta cerimónia. O meu nome é Zoe. Zoe Bennett.

      — Eu sou o Noah Roberts e acabaste de me fazer o homem mais feliz do mundo.

      Não sei se exagerava ou se realmente se alegrava por eu o acompanhar. Nesse momento, não parei para pensar em nada senão no meu ego, que brilhava como uma supernova por causa dos elogios. Era altamente improvável que houvesse um homem mais atraente no museu naquele momento e acabara de me convidar para o acompanhar a uma festa. Não só me convidara, como insistira.

      Faltava quase uma hora para as onze da noite, portanto, fui buscar uma nova vodca com limão (A terceira? A quarta?) e dei várias voltas pela sala, sorrindo, generosa, beijando alguma face e conversando animadamente com todos os benfeitores que encontrei pelo caminho. Cada vez que me virava, encontrava Noah a olhar para mim com um sorriso nos lábios. Era o mais parecido com estar no paraíso. Sentia-me atraente, bonita, graciosa, desejada, sensual… Era o maior aumento de autoestima que experimentara em toda a minha vida e tencionava aproveitá-lo até às últimas consequências.

      Deixei que passassem uns minutos depois das onze antes de abandonar o museu. Entretive-me a despedir-me de Gideon e da esposa que, sem dúvida, bebera mais champanhe do que devia e olhava para mim por trás da cortina alcoólica que lhe toldava os olhos, e saí para a noite quente, mexendo subtilmente as ancas. Não sabia onde Noah estaria, mas esperava que conseguisse ver-me a emergir como uma deusa de onde quer que estivesse à minha espera. Um segundo depois, o jovem materializou-se ao fundo da escada e esboçou um dos seus sorrisos perfeitos. Estendeu uma mão para mim e, como um cavalheiro impecável, ajudou-me a chegar até ao chão. Beijou-me os nós dos dedos e conduziu-me para o portão da entrada, onde nos esperava um táxi. Abriu a porta, esperou que me acomodasse e fechou-a, antes de dar rapidamente a volta ao veículo e sentar-se ao meu lado.

      Livrara-se do seu uniforme de empregado e vestira umas calças de ganga, um casaco escuro e uma camisa branca. Uma gravata de ganga completava o traje e dava-lhe um ar sofisticado que me deixava com falta de ar.

      Deu uma morada de uma rua próxima do porto ao motorista. Nessa zona, havia vários locais da moda de que ouvira falar mais de uma vez, mas que nunca visitara. As minhas amizades escassas limitam-se a pessoas relacionadas com a minha profissão e quase não conheço ninguém fora desse mundinho. Nunca fui íntima de quem sua ao meu lado no ginásio, nem mantenho contacto com as minhas amigas da secundária ou da universidade. Essa foi uma época da minha vida bastante anódina, que aconteceu por acontecer, sem eventos destacáveis e que está bem onde está: Esquecida.

      — Obrigada por me convidares — agradeci, para quebrar o gelo.

      — Eu é que tenho de te agradecer por aceitares. Passei o tempo todo a recear que te arrependesses e decidisses não vir.

      — Era por isso que olhavas tantas vezes para mim? Para evitar que me escapulisse sem ser vista?

      Noah riu-se com vontade.

      — Não! — exclamou, entre gargalhadas. — Os meus olhos dirigiam-se para ti. Eras a mulher mais bonita da festa.

      Sentia-me lisonjeada, mas não podia permitir que o meu ego arruinasse a noite.

      — Sei que não é verdade, mas obrigada na mesma — redargui, com um sorriso tímido. Ficava lindamente a Audrey Hepburn e esperava que tivesse o mesmo efeito na minha cara. — Onde vamos?

      — Ao Rock Club. Antes, era um antro, mas o meu amigo Deke Carter remodelou-o por completo e transformou-o no centro da noite de Boston. Inaugurou-o há três meses e, depois disso, encheu todas as noites. Hoje, dá uma festa privada e convidou-me há vários dias. Não tencionava ir, mas pareceu-me a desculpa perfeita para passar mais tempo contigo.

      — Não acho que o meu vestido seja o mais adequado para um bar de rock…

      — Estás linda e muito adequada.

      Sorri novamente e fixei a minha atenção na rua. Precisava de pensar por uns instantes, pensar com calma no que estava a acontecer. Estava num táxi com um desconhecido muito mais jovem do que eu, que me levava a uma festa privada numa casa de jogo clandestino do porto de Boston. Aquilo podia ficar-se por uma história, uma noite diferente e divertida, ou transformar-se num verdadeiro pesadelo. A tentação de pedir ao motorista para me levar a casa materializou-se na minha mente, mas a mão de Noah a tocar distraidamente nos meus dedos por cima do estofo do banco fez com que se evaporassem todas as minhas dúvidas.

      «Uma noite» — pensei — «não vai acontecer nada se me divertir uma noite, se for outra pessoa durante algumas horas. Amanhã, voltarei a ser eu. Amanhã.»

      Portanto, virei o pescoço para o meu acompanhante jovem e bonito e sorri.

      2

      O local estava cheio de pessoas que conversavam aos gritos, se mexiam ao ritmo da música e sorriam com um copo na mão. No palco, cinco músicos vestidos de couro e ganga cantavam as suas canções que eram repetidas em coro e com entusiasmo pela maioria dos presentes.

      — São os Officers, conheces? — gritou Noah, aproximando a sua boca do meu ouvido e causando-me um calafrio imediato. — São muito bons. Recentemente, encheram o Fenway Park e o Walter conseguiu fazer com que toquem esta noite no seu bar.

      A verdade é que as músicas não me eram completamente desconhecidas, embora fosse incapaz de seguir a letra de alguma delas. Em qualquer caso, eram muito boas, o ambiente era ótimo e as pessoas pareciam estar a divertir-se imenso. Noah agarrou-me a mão e mergulhámos de cabeça na pista de dança. Bebemos, rimo-nos e saltámos aos sons da música até cairmos rendidos. Os braços fortes dele afastavam-me e aproximavam-me a cada poucos segundos, num vaivém enjoativo e embriagador. Cada vez que a minha cara se aproximava do seu peito, sentia o cheiro do seu perfume e o meu estômago apertava-se de uma forma muito pouco recatada. Há muito tempo que as minhas pernas não tremiam por nada nem por ninguém. Estava a desfrutar imenso, é claro que sim. Sentia-me jovem e atraente, usava um vestido de sonho, uns saltos vertiginosos e, ao meu lado, mexia-se um homem extraordinariamente bonito que sorria com aspeto feliz e não me soltava a mão.

      Já passava das três da madrugada quando outro táxi nos levou até minha casa. Nem sequer pensei. Agarrei-lhe a mão e, sem dizer uma palavra, convidei-o a sair do carro e a acompanhar-me a casa. Como esperava, Noah não se fez de rogado. Pagou o táxi, saiu e rodeou-me a cintura com um braço.

      Depois, só me lembro das minhas mãos a empurrar o casaco para trás, a desabotoar os botões da camisa e a abrir o fecho das suas calças. Audaz, atrevida e cheia de desejo por esse homem que olhava para mim com os olhos brilhantes por causa da luxúria.

      Conduzi-o até ao meu quarto e, sem pensar duas vezes, transformei-o no primeiro homem que se deitava na minha cama em mais de cinco anos. A vodca engoliu o medo e ofereceu-me a coragem necessária para não parecer uma dissimulada


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