Suicídio Policial: Guia Para Uma Prevenção Eficaz. Dr. Juan Moisés De La Serna

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Suicídio Policial: Guia Para Uma Prevenção Eficaz - Dr. Juan Moisés De La Serna


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dados de óbitos, empregando este criterio de classificação do C.I.E.10, nos centraremos em uma comunidade autônoma espanhola, especificamente em Andaluzia, cujo governo aposta no Open Data, e assim pode extrair dados sobre os óbitos nesta comunidade desde 1980, podendo observar a evolução dos dados acumulados até a atualidade sobre as causas dos óbitos por cada localidade independentemente de seu tamanho, ou seja, de cada cidade ou vila da dita comunidade autônoma.

       Com base nos dados brutos, é possível observar como o número de óbitos associados a problemas de saúde mental evoluiu nos últimos 33 anos em Andaluzia, com um aumento significativo ocorrendo em Sevilha, Málaga e Cádiz, sendo o menor aumento em Huelva e Almeria. Mas se nos limitarmos a estes resultados, poderíamos chegar a falsas conclusões, porque não levamos em conta um importante fator de correção, o número de habitantes de cada localidade. Ou seja, não é o mesmo aparecer 10 casos em uma população de 100 habitantes, do que 10 em uma de 5.000 habitantes, para fazer os dados mais compreensíveis o mesmo quadro de comparação é normalmente estabelecido, por exemplo, a cada 100.000 habitantes, seguindo assim com os números anteriores, podemos chegar a taxas de 0,01 casos a cada 100.000, e de 0,05 casos a cada 100.000 habitantes respectivamente.

      Tendo em conta o exposto acima, e seguindo com os dados históricos da comunidade autônoma de Andaluzia, para ajustar os resultados das causas de óbitos relacionados a saúde mental à população real do momento, foram extraídos os dados correspondentes aos números oficiais do Registro Municipal de Habitantes a partir de 1997 e as devidas correções foram feitas, de maneira que os resultados são totalmente diferentes dos observados anteriormente, sendo Córdoba, Granada e Jaén os que lideram a porcentagem de casos por habitantes, enquanto que as que menos têm casos são Málaga, Sevilha e Huelva.

      É por isso que, assim como as delegacias de polícia, eles sabem em quais áreas um tipo de crime tem maior probabilidade de ocorrer do que outro devido a múltiplos fatores, como a população do local, as facilidades de acesso, número de estabelecimentos,… da mesma forma, é possível saber em quais populações é mais provável se deparar com um problema relacionado à saúde mental do que com outra, mas de que adianta à um policial saber disso? Estamos falando de um número relevante de afetados? O Dr. Quazi Imam, Diretor Médico do Hospital Memorial de Arlington (EUA) comenta a respeito:

      Quase 1 em cada 5 estadounidenses sofre de uma doença mental, portanto a cada ano, cerca de 42,5 milhões de estadounidenses adultos (18,2 por cento do total da população adulta nos Estados Unidos) sofrem de alguma doença mental, condições persistentes como a depressão, o transtorno bipolar ou a esquizofrenia. Em outros países, por exemplo, na Inglaterra estima-se que 1 em cada 4 adultos britânicos apresenta pelo menos um problema de saúde mental diagnosticável em um ano. Por sua vez, a Organização Mundial de Saúde publicou um número alarmante em 2014, estimando que aproximadamente 476 milhões de pessoas em todo o mundo têm um problema de saúde mental.

      De todos os problemas de saúde mental, 300 milhões de pessoas sofrem de depressão (O.M.S., 2017), bem, isto não seria mais do que dados anedóticos, úteis para profissionais da saúde e, especificamente, da saúde mental, mas o que isso tem a ver com a polícia?

      O trabalho policial em sua maior parte, senão todo, está intimamente relacionado à sua comunidade e aos problemas que ela tem, então há bairros onde existe uma taxa de criminalidade maior do que outros, mesmo aqueles em que a polícia não pode circular em segurança, precisando de “reforços” para entrar em determinadas áreas. Situação que permite em alguns casos e impede em outros, que exista uma relação fluída entre a polícia e seus vizinhos. Assim, se em uma determinada área houver mais um tipo de problema de saúde mental do que em outra, isso também será levado em consideração pela polícia, uma vez que as demandas de sua comunidade serão mais orientadas para o atendimento desses casos. Portanto, é comum que, se em um bairro existe um centro de atendimento para crianças com deficiência mental, às vezes é necessária a intervenção policial se alguma “fugir” de seu cuidador. Da mesma forma, se em uma área houver uma população particularmente idosa onde a porcentagem de pessoas com doenças neurodegenerativas é significativa, a polícia terá que intervir em mais de uma ocasião para ajudar um ou outro idoso quando este estiver “perdido” ou não souber como voltar para casa.

      É para exemplificar como a ação policial, embora em muitos casos os agentes não estejam cientes disso, estará se adequando às necessidades de saúde mental da população onde atuam, mas em outras ocasiões é um trabalho consciente com pacientes. Embora, quando falamos em saúde mental, não esteja associado a problemas “menores”, podendo-se apresentar casos de agressividade e incluso violência, os quais a polícia também deve responder fazendo o que estiver ao seu alcance para manter a situação sob controle, mas como trabalhar com pessoas com problemas de saúde mental afeta aos policiais?

      Isto é o que se tentou responder com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, a Universidade do Porto em conjunto com o Hospital Magalhães Lemos (Portugal) e a Unidade de Psiquiatria Social e Comunitária (Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento de Serviços de Saúde Mental), Universidade Queen Mary de Londres (Inglaterra) (Soares & Da Costa, 2019). No estudo participaram dez agentes, com uma idade média de 46 anos e 22 de serviço, dos quais havia apenas uma mulher. A função destes profissionais consistia em transferir os pacientes para o hospital psiquiátrico, quando internações compulsórias eram necessárias.

      A informação foi recolhida a partir das entrevistas realizadas com os agentes, as quais foram codificadas e analisadas, em cinco temas, “Atividade policial e a internação compulsória”, “O papel da família no processo de internação compulsória”, “O sucesso da internação compulsória”, “As opiniões acerca das doenças mentais” e “Melhorias que proporiam em seu trabalho de internações compulsórias”. Segundo os relatos dos agentes, para eles este foi o trabalho mais estressante e difícil que tiveram que realizar na força policial, destacando o papel mediador das famílias para facilitar seu trabalho de internação compulsória. Com relação à percepção dos pacientes de saúde mental, estes eram considerados imprevisíveis e perigosos, sentindo que eles como agentes não estavam preparados para lidar com este tipo de caso e entendiam que profissionais qualificados deveriam estar presentes neste trabalho. Pesquisa que apenas reflete a boa vontade dos agentes, mas que em ocasiões não é suficiente para lidar com determinado problema, principalmente nos casos mais graves de saúde mental. Portanto, a saúde mental da população será em muitos casos uma adição ao estresse gerado no trabalho policial, e isso sem levar em consideração que o próprio agente pode estar sofrendo algum problema nesta área, seja um transtorno de depressão, ansiedade ou outro.

      Deve-se ressaltar que nem todos os óbitos que parecem ser suicídio serão, já que existem os acidentes, por exemplo, as pessoas que manuseiam armas, podem sofrer um acidente com elas, e igualmente realizar uma conduta arriscada que pode levar que um acidente pareça suicídio, que é mais frequente entre os adolescentes, porque quando se pensa em condutas de risco, geralmente se pensa nos comportamentos mais extremos, como dirigir em alta velocidade, ou praticar Bungee Jumping, mas igualmente arriscados para a saúde são os menos evidentes, como o consumo excessivo de tabaco, álcool ou outras drogas, mas será que os comportamentos de risco podem ser evitados?

      Isto é precisamente o que foi investigado na Universidade de Oviedo (Espanha) (Lana, Baizán, Faya-Ornia, & López, 2015), com um estudo no qual participaram 275 estudantes de graduação em enfermagem, todos eles foram avaliados quanto ao seu nível de Inteligência Emocional utilizando a Escala de Inteligência Emocional padronizada por Schutte (Salovey & Mayer, 1990), e a conduta de risco, esta entendida como o consumo de tabaco, álcool, drogas ilegais, assim como a realização de dietas pouco sudáveis, se apresentavam ou não excesso de peso, se eram sedentários ou não, seu grau de exposição ao sol, e a prática de relações sexuais sem proteção, além de coletar dados sociodemográficos e de satisfação com a vida.

      Os resultados mostram que aqueles estudantes que mostraram níveis elevados de Inteligência Emocional têm menos condutas de consumo excessivo de álcool,


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