Arrebatadas . Блейк Пирс

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Arrebatadas  - Блейк Пирс


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      “Então, de que é que tens medo?” Perguntou Mike. “Disseste que andavas a ter pesadelos.”

      Riley permaneceu calada.

      “Isto está relacionado com o teu problema de SPT,” Disse Mike. “Ainda tens flashbacks?”

      Riley estava à espera daquela pergunta. No final de contas, Mike contribuíra mais do que ninguém para ela ultrapassar o trauma de uma experiência particularmente horrível.

      Inclinou a cabeça para trás na cadeira e fechou os olhos. Por um momento, estava novamente na gaiola negra de Peterson e ele ameaçava-a com um amaçarico. Meses depois de Peterson a ter mantido cativa, aquela memória impusera-se de forma sistemática na sua mente.

      Mas foi então que ela apanhara e matara Peterson. Na verdade, tinha-o espancado até ele se transformar num pedaço de carne sem vida.

      Se isso não é um ponto final na história, então não sei o que será, Pensou Riley.

      Agora as memórias pareciam impessoais, como se assistisse ao desdobramento da história de outra pessoa.

      “Estou melhor,” Disse Riley. “São mais curtos e menos frequentes.”

      “E a tua filha?”

      A pergunta ferira-a como o gume de uma faca. Sentiu um eco do horror que vivera quando Peterson tinha capturado April. Ainda conseguia ouvir os gritos de ajuda de April a ecoar na sua cabeça.

      “Acho que ainda não ultrapassei isso,” Disse. “Acordo com medo de que ela tenha sido novamente levada. Tenho que ir ao quarto dela e certificar-me que ela está lá, segura e a dormir.”

      “É por isso que não queres aceitar outro caso?”

      Riley estremeceu. “Não quero sujeitá-la outra vez a uma coisa daquelas.”

      “Isso não responde à minha pergunta.”

      “Pois não,” Disse Riley.

      O silêncio instalou-se no gabinete de Mike Nevins.

      “Tenho a sensação de que há algo mais,” Disse Mike. “Que mais te provoca pesadelos? Que mais te acorda a meio da noite?”

      Estremecendo, um terror escondido subiu à superfície da sua mente.

      Sim, havia algo mais.

      Mesmo com os olhos bem abertos, conseguia ver o rosto dele - o rosto ameninado e grotescamente inocente de olhos brilhantes de Eugene Fisk. Riley olhara para o fundo desses olhos durante o seu confronto fatal.

      O assassino ameaçava Lucy Vargas com uma navalha apontada ao seu pescoço. Naquele momento, Riley sondara os seus mais terríveis medos. Falara sobre as correntes – aquelas correntes que ele acreditava que falavam consigo, forçando-o a cometer homicídio atrás de homicídio, acorrentando mulheres e cortando-lhes as gargantas.

      “As correntes não querem que leves esta mulher,” Dissera-lhe Riley. “Ela não é aquilo que elas querem. Tu sabes o que é que as correntes querem.”

      Com os olhos a cintilarem com lágrimas, Eugene anuiu. Depois infligiu a si próprio a mesma morte que infligira às suas vítimas.

      Cortou a sua própria garganta à frente de Riley.

      E agora, ali sentada no gabinete de Mike Nevins, Riley quase sufocava com o seu próprio horror.

      “Eu matei o Eugene,” Disse com um tremor súbito.

      “Queres dizer, o assassino das correntes. Bem, ele não foi o primeiro homem que mataste.”

      Era verdade, ela já usara força letal várias vezes. Mas com Eugene fora muito diferente. Pensava frequentemente na sua morte, mas nunca falara sobre aquilo com ninguém.

      “Eu não usei uma arma ou uma pedra ou os meus punhos,” Disse Riley. “Matei-o com compreensão, com empatia. A minha própria mente é uma arma letal. Nunca me apercebera disso antes. E aterroriza-me, Mike.”

      Mike anuiu, compreendendo o que Riley lhe transmitia. “Sabes o que é que Nietzsche disse sobre olhar demasiado tempo para um abismo,” Disse Mike.

      “O abismo devolve-te o olhar,” Disse Riley, concluindo a célebre frase. “Mas eu fiz muito mais do que olhar para o abismo. Eu praticamente vivi nele. Quase me sentia confortável lá. É uma segunda casa. Assusta-me de morte, Mike. Um destes dias, posso entrar nesse abismo e nunca mais sair de lá. E quem sabe quem posso magoar ou matar.”

      “Nesse caso,” Disse Mike, recostando-se na cadeira. “Talvez estejamos a caminhar na direção certa.”

      Riley não tinha tanta certeza. E ela não se sentia mais próxima de tomar uma decisão.

      *

      Quando Riley atravessou a porta de entrada da sua casa um pouco mais tarde, April surgiu a descer as escadas na sua direção.

      “Tens que me ajudar, mãe! Vem!”

      Riley seguiu April pelas escadas acima até ao seu quarto. Uma mala estava aberta em cima da cama e roupas estavam espalhadas por todo o lado.

      “Não sei o que hei-de levar!” Disse April. “Nunca tive que fazer isto antes!”

      Sorrindo perante a combinação de pânico e entusiasmo da filha, Riley ajudou-a a arrumar as coisas. April partia no dia seguinte para uma viagem de estudo – uma semana perto de Washington, D.C. Ia na companhia de um grupo de alunos de História Americana e professores.

      Quando Riley assinara os impressos e pagara o valor da viagem, sentira algumas reservas em fazê-lo. Peterson mantivera April presa em Washington e apesar de ter sido nas franjas da cidade, Riley estava preocupada com o facto de a viagem poder trazer o trauma à tona. Mas April parecia estar a sair-se muito bem tanto a nível académico como emocional. E a viagem era uma oportunidade fantástica.

      Enquanto ela e April brincavam de forma despreocupada sobre aquilo que April devia levar, Riley apercebeu-se de que se estava a divertir. O abismo de que ela e Mike tinham falado há pouco parecia longínquo. Ela ainda tinha uma vida fora desse abismo. Era uma boa vida e fosse qual fosse a sua decisão, estava determinada em mantê-la.

      Enquanto estavam a arrumar as coisas, Gabriela entrou no quarto.

      “Señora Riley, o meu táxi vai chegar a qualquer momento,” Disse a sorrir. “Tenho tudo pronto. As minhas malas estão à porta.”

      Riley quase se tinha esquecido que Gabriela também estava de partida. Como April ia estar fora, Gabriela pedira uns dias para visitar parentes no Tennessee e Riley tinha concordado.

      Riley abraçou Gabriela e disse, “Buen viaje,”

      E com o sorriso a desvanecer um pouco, Gabriela disse, “Me preocupo.”

      “Estás preocupada?” Perguntou Riley, surpreendida. “O que é que te preocupa Gabriela?”

      “Você,” Declarou Gabriela. “Vai ficar sozinha nesta casa.”

      Riley riu. “Não te preocupes, eu sei tomar bem conta de mim.”

      “Mas não está sola desde que tantas coisas más aconteceram,” Disse Gabriela. “Preocupo-me.”

      As palavras de Gabriela tocaram Riley. O que ela dizia era verdade. Desde que ocorrera aquela situação com Peterson, pelo menos a April estivera sempre presente. Poderia abrir-se um vazio escuro e assustador na sua nova casa? Será que mesmo agora o abismo a queria engolir?

      “Vou ficar bem,” Tranquilizou-a Riley. “Vai e diverte-te com a tua família.”

      Gabriela sorriu e entregou um envelope a Riley. “Isto estava na caixa do correio,” Disse.

      Gabriela abraçou April, depois abraçou Riley outra vez e desceu as escadas para esperar pelo táxi.

      “O que é mãe?” Perguntou April.


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