A Lista Dos Perfis Psicológicos. Juan Moisés De La Serna

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A Lista Dos Perfis Psicológicos - Juan Moisés De La Serna


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eles fazem o que lhes dá na gana, quando querem e onde bem entendem ― afirmou o homem encasacado que trazia na mão uma arma e falava com um tom autoritário.

      Conseguia finalmente ver com clareza enquanto a minha mente se desanuviava. Além de mim, havia mais seis pessoas no quarto. Os dois encasacados que falavam comigo e outros quatro vestidos com capacetes e coletes à prova de balas e metralhadoras, daquelas de tamanho reduzido, tal e qual as que as forças de intervenção rápida usam em casos de sequestros e assim parecido.

      Mas neste caso, eu era a vítima e eles, os sequestradores. Pelo menos assim parecia dada a desvantagem de seis contra um e o facto de todos estarem armados menos eu.

      ― De que corporação é que disseram que eram? ― Perguntei, lembrando-me de que não me tinham lido os direitos em momento nenhum.

      ― Não dissemos. ― Afirmou o que falava com voz autoritária, que devia ser o líder.

      ― Não sei o que querem, mas garanto-lhes que se enganaram na pessoa ― insisti na minha inocência.

      ― E estes bilhetes? ― Perguntou o segundo encasacado que agitava nervoso a arma, como se fosse disparar contra o teto, enquanto me mostrava os bilhetes de avião junto com a documentação que eu tinha recebido há alguns minutos atrás.

      ― É um trabalho, já lhe disse.

      ― Tem de levar alguma coisa?

      ― Não.

      ― Tem que ir buscar alguma coisa?

      ― Não.

      ― Então o que vai lá fazer? ― Perguntou o encasacado nervoso, atirando-me os bilhetes à cara.

      ― Traçar um perfil dessas pessoas.

      ― Um perfil? Está a querer enganar-nos? Acha mesmo que alguém que é procurado internacionalmente se daria ao trabalho de se mostrar para lhe encomendar um perfil? Mas você pensa que somos estúpidos ou quê? ― Perguntou aborrecido, deixando o tom irónico de lado.

      ― Eu não sei onde ele está, nem o que faz ou deixa de fazer, apenas estou a dizer-lhes que me encarregou deste trabalho.

      ― E quanto lhe ofereceu em troca?

      ― Quanto ofereceu?

      ― Sim, pelo trabalho. Quanto foi?

      ― Não falámos de dinheiro.

      ― Como assim? Ouça, já estou farto de ouvir estes disparates, deixe-me sacar-lhe a informação à minha maneira! ― Disse o encasacado nervoso para o outro encasacado que parecia ser o chefe. ― Dê-me meia hora com a porta fechada e faço-o cantar como um rouxinol.

      ― É a verdade ― eu disse, tentando levantar-me.

      ― Já lhe disse para não se levantar! ― Afirmou o autoritário enquanto me apontava a arma na direção dos olhos.

      ― Está bem! Está bem! Eu fico aqui, mas garanto-vos que é tudo o que sei.

      ― Para que é que ele quer esses perfis? Quem são estas pessoas? Quais são os seus objetivos? Contactos?…

      ― Não sei, já vos disse tudo o que sabia. ― Insisti, olhando para a arma que estava a escassos centímetros da minha cara.

      ― Espero bem que sim. Faremos o seguinte, queremos que você siga com o plano e entreviste estas pessoas, que faça o seu trabalho, e quando for entregar os perfis, nós interviremos ― disse o encasacado autoritário, que com um gesto de mão, fazia os outros saírem do quarto.

      ― Quando e onde será a entrega? ― Perguntou o nervoso, enquanto os homens das metralhadoras saíam do quarto, andando de costas para a porta.

      ― A entrega? Qual entrega? ― Perguntei vendo que o autoritário ainda não tinha baixado a sua arma.

      ― Dos perfis! Quando e onde é que tem que entregá-los? ― Perguntou o autoritário, aproximando ainda mais a sua arma.

      ― Não sei, não me disseram. ― Respondi, tratando de ser o mais convincente possível.

      ― Está a querer dizer que alguém vem até aqui, encomenda-lhe um serviço e que você não sabe se essa pessoa lhe pagará por esse serviço, nem onde e quando terá que entregar o resultado do serviço? ― Perguntou o segundo encasacado num tom sarcástico.

      ― É isso mesmo! ― Confirmei numa voz entrecortada.

      ― É inacreditável, está a fazer-nos perder tempo. Mas você acha que somos idiotas ou quê? ― Voltou a questionar o homem ansioso, andando de um lado para o outro no quarto.

      ― Já disse tudo o que sei, que mais querem de mim?

      ― Para começar, a verdade! ― Afirmou com voz autoritária o homem que tinha a arma apontada para mim.

      ― Já lhe disse várias vezes. Veio cá, disse qual era o trabalho, entregou-me a pasta e nem sequer a abri até se ter ido embora. E dentro estavam esses três ficheiros dessas três pessoas e esses três bilhetes de avião.

      ― Que esperto, até parece um pombo-correio ― afirmou o da voz autoritária, baixando a arma.

      ― Um quê? ―Perguntei confuso.

      ― Um pombo-correio, alguém que vai aos lugares sem saber o seu destino, assim se for apanhado não poderá dar informações de nada ― informou o homem ansioso num tom exaltado.

      ― E isso é bom? ― Perguntei sem saber se aquilo seria uma saída para aquela situação.

      ― Não pense que se livra com isso, você é tão culpado quanto os outros, apenas está menos informado ― afirmou o homem autoritário, baixando a arma.

      ― Então? ― Questionei vendo que a situação tinha amenizado.

      ― Então você vai cumprir o seu serviço, mas nós estaremos lá, não vamos perdê-lo de vista. O único problema é que está fora da nossa jurisdição e não tenho nenhuma autoridade nesses países, por isso vamos arranjar-lhe um parceiro.

      ― Um parceiro? ― Voltei a perguntar sem saber o porquê daquilo.

      ― Será o seu cão de guarda e nos manterá informados das suas ações. Se se portar bem e cooperar connosco, pode ser que lhe reduzam a pena.

      ― Outra vez essa história da condenação! ― Protestei face àquela ameaça.

      ― Não pensou que se iria livrar, pois não? ― Perguntou o ansioso, guardando a arma.

      ― Amanhã receberá uma visita, a partir daí, terá que fazer tudo o que lhe disser, entendido?

      ― Sim, claro, entendi. ― Afirmei, vendo que o ansioso estava a recolher os bilhetes que tinha atirado.

      ― Para o caso de querer brincar connosco, levaremos os papéis com os bilhetes, o seu cartão de cidadão e o seu passaporte. Que já agora, onde é que está?

      ― Em cima da mesa de cabeceira ― afirmei, estendendo as mãos, unidas por uma tira de plástico como se fossem algemas.

      Depois de me confiscarem o passaporte e cortarem as amarras, disseram:

      ― Isto é como uma missão clandestina, em que você não deve fazer nenhum disparate, nem nada que faça com que suspeitem da nossa presença. Colabore e tudo acabará bem.

      Dito isto, saíram do quarto, andando de costas para a porta, tal como tinham feito os tipos das metralhadoras.

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