A Ordem. Daniel Silva

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A Ordem - Daniel Silva


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Ocidental nas fases iniciais do surto, ainda antes de o vírus ser identificado. Em poucas semanas, metade da população italiana vai estar infetada, talvez mais. O que é que acontece nesse momento, Cesare?

      — Diga-me o Gabriel.

      — Todo o país terá de ficar em quarentena para evitar que continue a propagar-se. Os hospitais vão ficar tão saturados que vão ser forçados a rejeitar toda a gente, exceto os mais novos e saudáveis. Vão morrer centenas de pessoas todos os dias, talvez milhares. O exército terá de recorrer à cremação em massa para evitar mais contágios. Vai ser…

      — Um holocausto.

      Gabriel assentiu lentamente com a cabeça.

      — E como é que imagina que um iletrado incompetente como o Saviano vai reagir nessas circunstâncias? Vai ouvir os médicos especialistas ou vai achar que ele é que sabe? Vai dizer a verdade à população ou vai prometer que há uma vacina e um tratamento logo ao virar da esquina?

      — Vai culpar os chineses e os imigrantes e sair disso mais forte do que nunca. — Ferrari olhou seriamente para Gabriel. — Sabe alguma coisa que não me está a contar?

      — Qualquer pessoa com dois dedos de testa sabe que já há muito que devíamos ter tido algo à escala da gripe de 1918. Eu disse ao primeiro-ministro que, de todas as ameaças que Israel enfrenta, uma pandemia é, de longe, a pior.

      — Ainda bem que a minha única responsabilidade é encontrar quadros roubados. — O general observava a televisão, enquanto a câmara se movia através de um mar de paramentos vermelhos. — O próximo pontífice está ali sentado.

      — Dizem que vai ser o cardeal Navarro.

      — É esse o rumor.

      — Tem alguma informação?

      O general Ferrari respondeu como se estivesse a dirigir-se a uma sala cheia de jornalistas:

      — Os carabinieri não fazem qualquer esforço para monitorizar o processo de sucessão papal. Nem as outras agências italianas de segurança e serviços secretos.

      — Poupe-me.

      O general riu-se silenciosamente.

      — E o Gabriel?

      — A identidade do próximo papa não diz respeito ao Estado de Israel.

      — Agora já diz.

      — Está a falar de quê?

      — Vou deixar que ele explique. — O general Ferrari apontou com a cabeça na direção da televisão, onde a câmara encontrara o arcebispo Luigi Donati, secretário pessoal de Sua Santidade, o papa Paulo VII. — Quer saber se o Gabriel teria uns minutos para falar com ele.

      — Porque é que ele simplesmente não me telefonou?

      — Não é algo que queira discutir ao telefone.

      — Ele disse-lhe de que se tratava?

      O general abanou a cabeça.

      — Só que era um assunto da máxima importância. Tinha esperança de que o Gabriel pudesse almoçar com ele amanhã.

      — Onde?

      — Em Roma.

      Gabriel não respondeu.

      — Fica a uma hora de avião. Vai estar de regresso a Veneza a tempo do jantar.

      — Vou mesmo?

      — A avaliar pelo tom de voz do arcebispo, tenho as minhas dúvidas. Ele vai estar à sua espera, à uma hora, no Piperno. Ele disse que o Gabriel conhece o sítio.

      — Tenho uma vaga recordação.

      — Ele gostava que fosse sozinho. E não se preocupe com a sua esposa e os seus filhos. Vou cuidar muito bem deles durante a sua ausência.

      — Ausência? — Não era a palavra que Gabriel escolheria para descrever uma viagem de um dia até à Cidade Eterna.

      O general estava novamente a fitar a televisão.

      — Olhe para aqueles príncipes da Igreja, todos vestidos de vermelho.

      — A cor simboliza o sangue de Cristo.

      O olho bom de Ferrari pestanejou de surpresa.

      — Como é que sabe isso?

      — Passei a maior parte da minha vida a restaurar arte cristã. Provavelmente, sei mais sobre a história e os ensinamentos da Igreja do que a maioria dos católicos.

      — Incluindo eu. — O olhar do general regressou ao ecrã. — Quem é que acha que será?

      — Dizem que o Navarro já está a encomendar mobília nova para o appartamento.

      — Sim — disse o general, assentindo pensativamente com a cabeça. — É o que dizem.

      4

      MURANO, VENEZA

      — Por favor, diz-me que estás a brincar.

      — Acredita, não foi ideia minha.

      — Sabes quanto tempo e esforço dediquei a organizar esta viagem? Tive de me reunir com o primeiro-ministro, pelo amor de Deus!

      — E eu lamento isso — disse Gabriel de forma solene —, profunda e eternamente.

      Estavam sentados nas traseiras de um pequeno restaurante em Murano. Gabriel tinha esperado que terminassem as entradas, antes de contar a Chiara o seu plano de ir a Roma de manhã. Reconhecidamente, fizera-o por motivos egoístas. O restaurante, cuja especialidade era peixe, era um dos seus favoritos em Veneza.

      — É só um dia, Chiara.

      — Nem tu acreditas nisso.

      — Não, mas tinha de tentar.

      Chiara ergueu um copo de vinho na direção dos lábios. O resto do seu pinot grigio fulgia com o fogo ténue da luz da vela refletida. — Porque é que não foste convidado para o funeral?

      — Aparentemente, o cardeal Albanese não conseguiu encontrar um lugar vago para mim em toda a Praça de São Pedro.

      — Foi ele que encontrou o corpo, não foi?

      — Na capela privada — disse Gabriel.

      — Achas mesmo que foi assim que aconteceu?

      — Estás a sugerir que a Sala de Imprensa da Santa Sé pode ter divulgado um bollettino falso?

      — Tu e o Luigi colaboraram na redação de várias declarações enganosas ao longo dos anos.

      — Mas os nossos motivos foram sempre puros.

      Chiara pousou o copo de vinho na toalha de mesa branca e rodou-o lentamente.

      — Porque é que achas que ele quer encontrar-se contigo?

      — Não pode ser nada de bom.

      — O que é que o general Ferrari disse?

      — O mínimo possível.

      — Isso não parece nada dele.

      — Talvez tenha referido que tem alguma coisa a ver com a escolha do próximo Sumo Pontífice da Igreja Católica e Apostólica Romana.

      O copo de vinho parou.

      — O conclave?

      — Não entrou em pormenores.

      Gabriel deu um toque no telefone para o acender e viu as horas. Fora finalmente forçado a separar-se do seu querido BlackBerry Key2. O seu novo aparelho era um Solaris, produzido em Israel e personalizado de acordo com as suas características únicas. Maior e mais pesado do que um smartphone típico, fora fabricado para resistir ao ataque remoto dos mais sofisticados hackers do mundo, incluindo


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