Escândalo na realeza. Caitlin Crews

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Escândalo na realeza - Caitlin Crews


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mas casara-se com uma San Giacomo e os San Giacomo tinham sido da realeza veneziana. Um dos seus antepassados fora príncipe e isso significava que a flor e a nata da Europa tinha de apresentar as suas condolências, mesmo que não tivessem feito caso a Eddie.

      Pia não queria participar nisso e não só por causa do medo de causar um choque quando aparecesse no seu… estado. Não queria porque continuava sem conseguir acreditar que os pais tinham falecido quando não tivera tempo de descobrir se se retificariam, quando já não chegaria a saber se, daquela vez, os dececionara demasiado ou se se suavizariam como costumavam fazer.

      Parecia-lhe prematuro chorá-los e parecia-lhe muito injusto que quisessem que o fizesse em público, como se participasse num espetáculo para que os outros o vissem e o julgassem.

      – Sabes quem é o responsável pelo teu… estado ou preferes não dizer o seu nome? – perguntou Matteo, com uma frieza gélida.

      Era possível que estivesse mais vulnerável do que achava, porque isso a afetou muito.

      – Acho que eu sou a responsável pelo meu estado. Não me… atacaram, se te referes a isso. Não me fizeram nada em que não tenha participado com entusiasmo. Não sou uma rapariga em apuros, Matteo.

      Uma parte dela poderia ter gostado de estar grávida se não surpreendesse todas as pessoas que conhecia. Sempre quisera ter uma família, não a que tinha, mas uma família real, a família que imaginava que todos os outros tinham.

      Matteo observava-a com atenção e ela quase conseguia ver a maquinaria a trabalhar na sua cabeça.

      – Foi naquela viagem que fizeste a Nova Iorque, não foi?

      – Se te referes à viagem que fiz para celebrar o facto de ter saído daquela escola, então, sim.

      Lutara muito por aquilo e fora Matteo que dera um passo à frente para dizer abertamente aos pais que ela também merecia, como todos, uma oportunidade de viver a sua vida de mulher adulta. As faces coraram ainda mais quando imaginou o que ele estaria a pensar dela nesse momento.

      – Passámos uma semana fantástica em Nova Iorque. E voltei com um pouco de… peso extra.

      – Não entendo. Tu…?

      Ouviam-se passos do outro lado da porta e as nuvens começavam a acumular-se nas colinas. Olhou fixamente para o irmão e as faces arderam-lhe tanto que lhe doeram.

      – Não entendes? A sério? Nas revistas, vi muitas fotografias tuas com mulheres diferentes, mas continuas solteiro. Como é possível?

      – Pia…

      – Se vais agir como se fôssemos vitorianos, Matteo, devia poder perguntar-te pela tua… honra. Não é?

      – Lamento muito, mas não tenho o costume de ter relações íntimas com mulheres que não conheço.

      – Muito bem. Então, suponho que seja uma rameira – replicou ela, endireitando-se.

      – Duvido muito – resmungou Matteo.

      No entanto, a palavra ficou a ecoar-lhe na cabeça porque as portas da biblioteca se abriram. Os empregados que Matteo conseguira afastar entraram e a secretária dele sussurrou-lhe alguma coisa ao ouvido. Chegara o momento de fazerem a sua tarefa triste.

      Sabia que o pai pensara exatamente isso dela, mesmo que fosse apenas por um instante. Olhara para ela por uma vez na sua vida, porque Eddie Combe costumava concentrar a sua atenção em si próprio, e apenas três dias antes de ter o ataque de coração dissera-lhe na cara que era uma ordinária.

      Não parava de se repetir que não havia causa e efeito, que o ataque de coração não tinha nada a ver com o seu estado e que, se tivesse tido mais tempo, a teria procurado ao fim de algum tempo e lhe teria oferecido algo parecido com um ramo de oliveira.

      No entanto, enquanto acompanhava Matteo no banco traseiro do seu carro e Lauren, a secretária, não parava de lhe passar chamadas, teve de aceitar que não podia sabê-lo com certeza, que era impossível. A última coisa que sabia era que o pai a considerava uma ordinária e que lho dissera alguns dias antes de morrer.

      A mãe chamara-lhe gorda, algo que não era novo, embora fosse, para Alexandrina, o pior que podia chamar a uma mulher. Além disso, também não voltara a ser carinhosa antes da sua morte.

      Em qualquer caso, Matteo e ela eram órfãos naquele momento e ela continuava a recear que fosse por causa dela.

      No entanto, passou a mão pela barriga porque, fosse culpa dela ou não, isso não afetaria a geração seguinte. Não o permitiria.

      O enterro foi simples e comovente. Eddie parecia muito mais próximo do que quando estava vivo e interrogou-se se chegaria a entendê-lo melhor à medida que o tempo fosse passando, se as suas lembranças acabariam por o transformar numa figura mais paternal ou se sempre seria a mesma presença vulcânica, a pessoa que a considerara uma ordinária pouco antes de morrer.

      A subida pelas posses dos Combe foi lúgubre e Pia alegrou-se por ser um dia plúmbeo. As nuvens eram ameaçadoras, mas não choveu e aguentaram um vento frio e desagradável enquanto o caixão era enterrado no cemitério familiar.

      O sacerdote murmurou algumas orações, um sacerdote que Eddie odiara durante toda a vida e que, para o torturar mesmo depois de morto, escolhera no testamento.

      Pia não desviou o olhar do caixão até deixar de o ver e conseguiu conter as lágrimas porque havia muitas câmaras e Alexandrina dissera-lhe imensas vezes que devia evitar os olhos avermelhados e a cara inchada.

      Então, voltou a perceber que Alexandrina não estava lá, que Eddie também não estava lá e que nada voltaria a ser como antes.

      Sentiu a mão de Matteo nas costas e afastaram-se para que se formasse a fila de quem queria dar-lhes os pêsames. Era em momentos como aquele que agradecia os anos que passara naquela escola para meninas. Era capaz de apertar a mão e olhar para os olhos de qualquer membro da realeza europeia e não se alterar.

      – Apresento as condolências em nome do meu pai, sua majestade, o rei Damascus, do reino de Atilia…

      Percebeu alguma coisa naquela voz que foi como uma bofetada. Tinha a mão estendida e esse homem aceitou-a enquanto ela o observava atentamente. Reconheceu a labareda e o arrepio que lhe desceu da nuca até à base da coluna vertebral.

      Fixou os olhos nos dele e, efetivamente, eram verdes e estavam tão atónitos como os dela.

      O pânico apoderou-se de Pia. Como era possível que estivesse a acontecer aquilo? Da última vez que vira aquele homem, estivera a dormir na suíte de um hotel de Manhattan. Pegara nas suas coisas, sentira-se poderosa e trémula ao mesmo tempo com a sua ousadia e com tudo o que ele lhe ensinara e fora-se embora em bicos dos pés.

      Não esperara voltar a vê-lo.

      – Tu… – murmurou ele, com incredulidade. – Nova Iorque…

      Sentiu calor por dentro quando viu que ele esboçava um sorriso, como se ela fosse uma boa lembrança, como ele fora para ela… pelo menos, ao princípio. Antes de ir ao médico para lhe falar das náuseas e da gripe.

      No entanto, não pôde deleitar-se com as boas lembranças porque Matteo estava a olhar com o sobrolho franzido para o homem que continuava a apertar-lhe a mão.

      – Nova Iorque? – perguntou Matteo, num tom cortante. – Disse que conheceu a minha irmã em Nova Iorque?

      – Matteo, para.

      No entanto, aquele homem continuava a sorrir levemente e não sabia o perigo que corria.

      – Conheci a sua irmã em Manhattan há uns meses – confirmou, num tom amável e sorrindo para Pia. – Vai lá muitas vezes?

      – A menina Combe, a minha irmã, só lá foi uma vez – resmungou Matteo. – Além disso, sabe uma coisa? Voltou com uma lembrança.

      – Como…?

      O


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