O Cidadão Anulado E Outras Histórias. Foraine Amukoyo Gift

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O Cidadão Anulado E Outras Histórias - Foraine Amukoyo Gift


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      - Venha, pai. O senhor já se despediu o bastante. Devemos partir antes do nascer do sol, pois a estrada não é boa na hora do trânsito pesado.

      - Sim, algumas estradas não reconhecem as velhas rodas que sempre passaram por elas. Não lhes dão tratamento diferenciado. Vamos. Não somos mais bem-vindos aqui.

      Duas semanas mais tarde, os anciãos da aldeia fizeram um encontro e concluíram que a casa de Jessa seria o novo local de reuniões. Ele a deixara como presente. Porém, no dia da Coroação de Okpako, as retroescavadeiras apareceram.

      A voz do motorista do veículo ressoou em um alto-falante. - Todos nessa casa devem sair! Em pouco tempo, ela será demolida. Vou contar até trinta e avançar.

      Ele começou a contar: - um, dois, três, quatro....

      Ao chegar a dezenove, já estava vazia. A retroescavadeira colocou a casa abaixo, obedecendo as ordens de Jaja.

      As pessoas assistiram com tristeza quando alguns homens quebraram com marretas as paredes restantes. Nenhuma estrutura permaneceu de pé. Os pedaços de cimento foram colocados no reboque e levados dali.

      - Esse é um acontecimento ruim. Como podemos fazer a cerimônia da coroação nessas ruínas? Temos de procurar outro local ou marcar nova data para a coroação. - Disse um jovem.

      - Mas, onde está Jakpo? - perguntou o líder da comunidade, com certa ansiedade.

      - Ele ainda não havia chegado. Será que já sabe da novidade? Esse incidente infeliz irá arrasá-lo. Sua cerimônia foi arruinada e não poderá acontecer hoje. - Mencionou um senhor.

      - Jakpo deve ter ouvido a notícia. Ele sabe tudo. Não foi ele que descobriu que Jessa não era cidadão de Jagua? Vamos fazer uma visita, - disse o líder.

      Não encontraram Jakpo em casa. Sabiam que ele gostava do rio e pensaram que poderia estar lá.

      Ao sair da casa a caminho do rio, encontraram o menino que tomava conta dele. Jakpo saíra ao nascer do sol.

      - Esse é um comportamento estranho. Vamos ver se ele está no riacho.

      Chegaram ao rio e viram Jakpo boiando na margem. Correram e o arrastaram para a terra. Estava morto. Viram seu par de sapatos, óculos de leitura e um livro embaixo de sua árvore favorita. Jessa e Jakpo haviam talhado algumas raízes de árvores próximas à beira d´água para fazer bancos. Seus pertences estavam empilhados sobre a raiz. O menino caiu no choro.

      - Acho que ele cometeu suicídio. Ah, o reino das trevas lançou seus olhos malignos sobre Jagua. Hoje é um dia muito infeliz na nossa história. Quem nos acordará desse pesadelo? - lamentou uma mulher.

      - Olhe aqui, chefe. - O menino limpou as lágrimas com o braço e lhe entregou um bilhete.

      - Onde você encontrou isso? - perguntou, com espanto.

      - O que diz a mensagem? - uma mulher indagou.

      O líder da comunidade leu em voz alta:

      “Eu não posso conviver comigo mesmo após trair o meu melhor amigo, Jessa. Desculpe-me, querido amigo. Meu bisavô havia me contado sobre a sua história. Eu disse aquilo ao Conselho de Coroação porque achei que merecia ser o Okpako. Pequei ao invejar a sua situação. Por favor, me perdoe. Ninguém deve chorar por mim. Eu já fiz isso. Jakpo”.

      Porque cometeu suicídio, a comunidade não fez uma cerimônia de enterro para ele. Seus filhos o carregaram para a floresta do mal e jogaram o corpo para os animais selvagens enterrá-lo em seus estômagos.

      Três

      Eu Enterrarei o meu Pai

      A Prefeitura do povoado estava repleta de pessoas estressadas. Cada um parecia estar cortando a garganta do outro com armas imaginárias.

      Um jovem musculoso correu agressivamente para Ovie, que se preparou para pegar o soco, conseguindo torcer o punho do rapaz até que um senhor separasse a briga. O jovem enraivecido gemeu e sentou-se no chão com o braço pendurado.

      Ovie sorriu com sarcasmo:

      - Vejam os fracos que querem contestar a minha decisão. Eu estrangulo quem ousar me desafiar.

      Um idoso caminhou para frente. Encarou Ovie e sacudiu sua cabeça. Olhou para baixo por alguns instantes, bateu sua bengala no chão e novamente o mirou:

      - Ovie, você devia ter adivinhado que um de nossos valorosos jovens agiria rapidamente para repelir a sua ação impensada. Estou avisando: não ficará só nisso. Um exército irá defender os direitos do seu pai.

      - Quero ver vocês todos tentarem. Enterrarei o meu pai em Apele. Ele permanecerá em sua mansão e ninguém poderá me impedir.

      Para validar as suas palavras, Ovie bateu no peito, com tamanha força que seu tórax estremeceu.

      - Veremos. Vamos preparar os rituais de sepultamento do nosso parente. Observe como a luz ajudará o redil a encontrar a saída do deserto -, disse o velho homem religioso.

      Pegou um giz branco no bolso do peito de sua camisa e desenhou um círculo no chão. Olhou para o teto e entoou um canto inaudível enquanto um empregado trazia um galo branco com aparência meio fraca. Desamarrou as pernas do animal e cantou salmos em volta do caixão. O galo dançou no círculo e, em seguida, escapou para fora do recinto.

      Os aldeões deixaram a Prefeitura. Ovie continuava decidido a enterrar o pai na cidade. Era costume de filhos e filhas enterrar os seus nas aldeias, como era Godere. No entanto, o rapaz, criado na cidade, argumentava que nem todas as crianças haviam nascido na aldeia, então não era obrigatório seguir as normas locais.

      Ovie se voltou para o tio, Mamus: - Por favor, me diga como os nossos ilustres convidados se acomodarão na aldeia. Não há hotéis. Não há sequer um albergue para lhes dar o mínimo conforto. Aqueles ridículos insetos invisíveis quase me picaram até a morte quando vim marcar a data do enterro do meu pai. Darei a ele uma cerimônia de luxo, em grande estilo. Tio, o que o senhor acha?

      - Ovie, você quer a minha opinião honesta?

      Ovie desviou o olhar.

      - Pensei bastante e você já sabe a minha posição sobre o assunto. Se você tivesse sido uma pessoa responsável, teria construído um prédio na aldeia que acomodaria seus amigos da alta sociedade. Sabe por que os jovens estão fazendo isso?

      - Pode falar. Não que vá fazer algum sentido, mas..., - disse Ovie.

      Mamus balançou a cabeça. - Vou falar para você: muitos filhos e filhas de Godere tendem a construir mansões na cidade e nem um alicerce sequer em Godere. Os nossos jovens, ao contrário, se dedicam a esse costume com paixão, a fim de mostrar às pessoas os benefícios de construir na aldeia não apenas as suas moradias, mas também as indústrias, que permitirão a transformação do lugar em município. Seu pai queria ser enterrado em casa e, assim, devemos satisfazer o seu desejo. Era a sua vontade. Acho que conforto para convidados não é o único motivo para esse show que você está fazendo. Você fala como se fosse um rei e age como um guarda palaciano comum. Ou você também pode adiar o funeral do seu pai até construir um grande hotel ou uma pousada!

      Ovie olhou para o tio com desprezo e saiu furioso da Prefeitura.

      ******

      No dia do enterro, os jovens de Godere alugaram uma caminhonete para ir a Apele. Ovie havia levado a polícia para proteger o corpo no necrotério. Os jovens, enraivecidos, enfeitiçaram os policiais e recolheram as suas armas. Eles ficaram completamente paralisados, enquanto os rapazes entravam no necrotério e carregavam o caixão.

      O ataúde foi colocado no carro e só então os policiais


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