Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes

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Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes


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Para não se desfazer da empresa, correndo o risco de perder um negócio familiar sólido, papai optou por recorrer aos bancos e conseguir o valor que a empresa valia à época, e entregou esses valores a nós dois. Como nós somos sócios, temos direitos a valores de lucros mensais. Papai fez tudo que prometeu à mamãe e tudo que está no documento assinado por ele mesmo. Como você era menor de idade à época, papai administrou seu dinheiro. Agora que atingiu a maioridade, ele está entregando tudo que é seu por direito. Eu também recebi a minha parte da herança e recebo, todos os meses, os lucros. A única diferença entre mim e você é que eu recebo também salário por ser o diretor da empresa. Entende?

      — E por que com a morte de papai a herança dele ficará só para você? — inqueri.

      — Maninho, esse é o desejo dele. Acho que nós sabemos o porquê.

      Senti outra pontada no coração.

      — Então, estou recebendo dezenas de bilhões de dólares? É isso? E está tudo certo?

      — Está sim. Conferi tudo antes de eles virem aqui falar com você. Eu só não sabia que papai iria aparecer de surpresa aqui no domingo para tratar disso. Pode voltar para a sala e assinar a papelada. Depois, com calma, você e eu podemos ver como aplicar seu dinheiro, certo? — e me deu um beijo no rosto, encorajando-me.

      — Tudo bem. Vamos lá — respondi.

      Quando retornei, o advogado e papai estavam sentados à mesa de jantar.

      — Alguma dúvida, Gaius?

      — Não, Senhor Walker. Onde assino?

      — Aqui, por favor — respondeu ele, apontando o dedo para quais folhas deveria assinar.

      Quando terminei de assinar as várias folhas de vários documentos, levantei meus olhos e encontrei os de papai. Estávamos próximos, separados apenas pela mesa de mármore envelhecido do apartamento de Marcus. Ele tinha o olhar duro, e encarou-me grosseiramente até encostar a bengala na cadeira e começar a assinar as mesmas folhas que assinei. Levantou-se e foi onde Marcus e Núbia estavam, beijou-os, fez um afago na cabeça de Arthur, e caminhou à porta sem dizer nenhuma palavra. O advogado apertou minha mão e me entregou seu cartão, para o caso de eu ter alguma dúvida. Quando vi papai saindo, levantei-me, fui para perto do meu irmão e disse:

      — Papai. Hoje é meu aniversário. O Senhor não vai me dar um beijo? — perguntei, tremendo a voz.

      — Tudo que está na minha casa que for seu, chegará em breve aqui. Mande buscar seu carro também. Vamos, Alexander — respondeu ele, de costas, sem me olhar.

      E saíram, batendo a porta. Não aguentei e solucei. Corri ao meu quarto e me joguei na cama, chorando.

      Meus olhos sonolentos perceberam que o crepúsculo anunciava que a noite chegava. Daqui a pouco tenho que levantar para me arrumar, mas agora não. Pensei, e voltei a dormir. Um agradável odor amadeirado chegou às minhas narinas e, logo, senti uma mão suave tentando retirar os cabelos que cobriam minha testa. Virei-me e abri os olhos. Era Aidan. Estava agachado ao lado da minha cama. Meus olhos abertos encontraram seu sorriso. Ele acarinhava meu rosto, quando eu disse:

      — Oi!

      — Oi, menino! Desculpe se o acordei. Só queria beijar você antes de ir embora.

      — Você estava aqui? — perguntei, segurando sua mão e pressionando-a contra meu peito.

      — Estava. Vim conversar com Marcus e Núbia, e entregar seu presente. Eles disseram que você dormiu a tarde inteira. Não quis acordá-lo. Só vim deixar isso, mas não aguentei e fiquei aqui observando você dormir.

      Ele me entregou um embrulho coberto por um saco grosso marfim, enlaçado por um cetim verde esmeralda.

      — Espero que goste — disse, timidamente.

      Era um livro: Helena de Tróia.

      E continuou:

      — Este livro conta a história de uma mulher que causou uma guerra entre dois povos por causa de sua beleza e do seu amor.

      — E por que acha que vou gostar de lê-lo? — perguntei, curioso.

      — Porque essa história é parecida com a sua. Talvez, ainda não tenha percebido, mas sua beleza e tudo que você é está causando uma guerra dentro de mim há muito tempo. Um dia vou explicar melhor. Feliz aniversário, menino! — e me beijou os cabelos.

      Ele ainda me olhava, quando se levantou, e depois deu as costas para mim.

      — Aidan! — chamei-o, com a voz baixa.

      Ele virou-se, e eu continuei:

      — Nós vamos ao Barbetta daqui a pouco. Deveria ir conosco.

      Os olhos dele se apertaram e um sorriso largo mostrava os dentes, quando me disse que iria tomar um drink com Marcus e me esperaria na sala. Seu rosto estava resplandecente, quando saiu e fechou a porta do meu quarto. Animei-me. Preciso me arrumar. Pensei.

      Já passava das 20h20 quando cheguei na sala. Encontrei Núbia dando recomendações à babá, que cuidaria de Arthur durante o jantar. Vi Marcus e Aidan conversando no sofá, enquanto bebiam uísque. Apareci e atraí os olhares para mim. Eu vestia uma calça Louis Vuitton preta, aveludada, e uma camisa Gucci manga longa branca. Tinha nos pés um exclusivo Aubercy com diamantes na parte frontal, e um terno Versace 100% lã tailor, amarelo brilhante, com apenas um botão que cobria meus ombros e tórax. No rosto, apenas um pouco de pó e uma pincelada de um delineador preto nos olhos. O perfume deixei por conta da Chanel. Adoro jasmim, meu Deus! Fui vestido para matar mesmo, afinal, além de eu estar fazendo aniversário, era o novo bilionário dos Estados Unidos. E precisava comemorar isso.

      — Boa noite! — exclamei, pondo as duas mãos na cintura e abrindo um sorriso, esperando que eles admirassem minha beleza.

      Marcus e Aidan levantaram-se e foram ao meu encontro.

      — Está lindo, maninho — disse meu irmão, beijando meu rosto.

      — Não tenho nem o que dizer diante de tanta beleza — comentou Aidan, beijando-me o outro lado do rosto, com os olhos faiscando de felicidade.

      — Gaius, você está lindo! Vestiu-se para matar! — comentou Núbia, empolgadamente.

      Chegando ao Barbetta, o maître recepcionou-nos e nos encaminhou à mesa. Era um domingo à noite, e o restaurante italiano estava abarrotado de pessoas. Estávamos nós, Marcus e Núbia de um lado da mesa, Aidan e eu do outro, quando o garçom anotou as bebidas.

      — Aidan, acompanha-me no uísque? — perguntou meu irmão.

      — Claro — respondeu ele.

      — Então, vamos querer uma garrafa de Dalmore 50 anos — falou ao garçom.

      E continuou, dirigindo-se à Núbia:

      — Meu amor, você está dirigindo, mas quer beber alguma coisa?

      — Quero um refrigerante Chinotto.

      — E você, maninho? — perguntou a mim.

      — Um Cosmopolitan, por favor — respondi, olhando para o garçom.

      Instantes depois, estávamos conversando amenidades, enquanto decidíamos o que pediríamos para jantar. Era visível a felicidade de Aidan em estar conosco. Ele bebia o uísque empolgadamente, enquanto falava de viagens com Marcus. Aproveitei para ter uma conversa menos formal com Núbia. Dizia-me ela que achava que Aidan e eu formávamos um lindo casal e, também, que o via como um homem muito bonito e atraente, principalmente por ele ser muito alto. E é! Pensei. Ela me dava conselhos para eu aproveitar que ele era apaixonado por mim e casar logo. Eu a escutava, animadamente, quando a interrompi falando que algumas coisas ainda estavam confusas dentro de mim, e que precisava de tempo para discernir bem. Aproximei-me mais dela e comentei baixinho que tinha ficado com um homem e que havia gostado


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