Castrado. Paulo Nunes

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Castrado - Paulo Nunes


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em mobiliar seu novo apartamento. Preciso que contrate um chefe de cozinha de nível internacional. Não necessito que ele trabalhe exclusivamente para mim. Certifique-se de que seja alguém que possa ensinar algumas coisas mais simples para Rosa, pois quero que ela aprenda a fazer pratos mais sofisticados. Encontre um bom relações públicas. Não é necessário que seja exclusivo. Alguém que não tenha muita notoriedade na imprensa, mas que seja ambicioso o suficiente para não ser tão honesto quando for preciso. Tanto o cozinheiro quanto o relações públicas precisam ser homens. Eles são mais corruptíveis — respondi, imprimindo um tom de seriedade em cada ordem que dei.

      — Com que prioridade precisa desses profissionais? — perguntou ela.

      — Eles, mais o bartender, começarão a trabalhar para mim quando for morar no meu novo apartamento, que você vai procurar. Não esqueça que gosto de espaço e arquitetura que mesclem o moderno com o clássico. Será preciso alguém para decorá-lo para mim, mas isso pode esperar — respondi e dei mais um gole no vinho e um trago demorado.

      — Parece que tenho algumas coisas para fazer agora, não é? — comentou, tentando se organizar com as informações que recebeu.

      — Hoje é sábado, Alyce. Vá curtir seu novo apartamento e pensar em como mobiliá-lo. Começamos na segunda às 13h, aqui. Vou avisar à recepção que você tem acesso livre às duas suítes que estão reservadas para mim. Você já esteve aqui antes da viagem, deve saber como tudo funciona. Estou hospedado nesta suíte, e Rosa, Juanita e Arthur em outra, ao lado desta. Não chegue antes das 13h e não me acorde por nenhum motivo, por favor.

      — Obrigado por me dar tempo para pensar em como fazer tudo isso, Gaius. Novo apartamento, cozinheiro internacional, relações públicas... Desse jeito, vai gastar toda a sua fortuna com seu plano — comentou ela.

      Dei um sorrisinho e respondi:

      — Não se preocupe com dinheiro. Gaste o que for preciso, pois ao terminar tudo isso, é muito provável que eu esteja cinco ou seis vezes mais rico do que sou agora, se é que não chegarei a ser trilionário.

      Alyce abriu um sorriso meio que desacreditando no que ouviu, despediu-se de mim com um beijo no rosto e caminhava para o interior da suíte, quando pedi a ela:

      — Só mais uma coisa, por favor.

      Ela parou, olhou para trás e pôs-se a ouvir atentamente.

      — Avise a Aidan que retornei à cidade e que quero jantar com ele no domingo à noite. Vou ajudar você a conseguir meu novo apartamento — e pisquei meu olho para ela, sorrindo maliciosamente, enquanto a vi franzir a testa, esforçando-se, em vão, para compreender a conexão de uma coisa com a outra.

      No dia seguinte, enquanto tomava meu café da manhã, uma mensagem de Alyce em meu celular fez-me sorrir:

      “Gaius, Aidan aceitou seu convite para jantar. Ele insistiu para saber onde você estava hospedado e para que eu informasse seu novo número de celular. Achei melhor falar com você antes. O que devo dizer a ele? Onde quer jantar? Devo reservar algum lugar?”

      Larguei o suco de laranja que bebia e escrevi para ela:

      “Verão. Lagosta. The Palm, às 21h. Faça reserva e peça uma mesa discreta. Encontro-o lá.”

      Cheguei ao restaurante para o encontro com Aidan vinte e cinco minutos depois do combinado. Caminhando com o maître para minha mesa, avistei-o, visivelmente nervoso, com um copo de uísque na mão, olhando para os lados, como se me procurasse. De repente, os olhos cor de âmbar dele encontraram os meus. Naquele momento, quase senti em meu corpo os batimentos cardíacos descompassados que ele deve ter tido ao me ver. O tempo pareceu não passar para ele, pois continuava belo e sexy, aquele corpo atlético. Ele vestia uma camisa social branca com os dois primeiros botões abertos, deixando, à mostra, seu peitoral depilado e rígido. O blazer cinza riscado em estilo clássico de um único botão e as mangas repuxadas até a altura do final do antebraço conferiam, a ele, um aspecto despojado, mas sem deixar de ser formal. Por que ele está usando esse blazer? Esse modelo é para o outono e inverno, e não para o verão. Pensei. Seu cabelo estava disciplinarmente ordenado de forma clássica, da esquerda para a direita. E seu rosto liso demonstrava que a barba havia sido feita naquele mesmo dia. Sorri discretamente para ele e continuei caminhando, enquanto o vi levantar para me receber. Ele vestia sapatos e calça pretos. Por um instante, tentei descobrir que sapatos eram aqueles que brilhavam tanto, mas não me contive e fitei meus olhos em seu par de coxas grossas, devidamente marcadas pela calça slim, que valorizava os contornos do seu membro. Uau! Como ele está gostoso! Pensei. Contemplando a beleza de Aidan, lembrei que fazia algumas semanas que eu não transava, e quase esqueci qual a finalidade daquele jantar, embora eu soubesse que seria difícil resistir, pois ele estava terrivelmente sexy naquela noite. Ao chegar à mesa, depois de me beijar o rosto e desejar-me boa-noite, Aidan esperou que eu me sentasse e, somente depois, retornou à sua cadeira. De lá, olhava-me já marejando os olhos, enquanto o maître perguntava se conhecíamos o restaurante.

      — Conheço, sim. Vim aqui diversas vezes com meu irmão — respondi, educadamente, e pedi para que enviasse alguém que me trouxesse a carta de vinhos, quase sugerindo que precisava de privacidade.

      A sós com Aidan, pude contemplar seu rosto emocionado. Estávamos em silêncio, olhando-nos e acostumando-nos, novamente, com a presença um do outro, depois de seis meses sem nos vermos ou falarmos. Algumas vezes, desviei meus olhos dos dele e busquei apreciar com a ponta dos dedos aquele tecido nobre sobre aquela mesa redonda, posicionada em um local tão intimista, mesmo com o restaurante abarrotado de pessoas. De soslaio, percebi-o me olhando, enquanto bebia seu uísque de forma tão provocante. Nisso, quebrei o silêncio e falei:

      — Obrigado por aceitar meu convite, Aidan.

      Ele sorriu, como se não acreditasse que estava jantando comigo. E respondeu:

      — Confesso que fiquei surpreso, quando Alyce me ligou. Surpreso e feliz — e deu mais um gole no uísque.

      — Fiquei com vontade de apreciar uma lagosta e pensei que seria uma oportunidade para reencontrar você. Disse que voltaria, não foi? — comentei e perguntei de forma natural, mas sentindo algo inflar dentro de mim, quando falei no fruto do mar.

      Controle-se, Gaius! Controle-se, Gaius! Repetia várias vezes para mim mesmo, tentando não me desviar do objetivo.

      — Que bom que se lembrou de mim. Onde esteve durante esse tempo todo? Já faz mais de seis meses que nos vimos, não? — perguntou, curioso.

      Antes que conseguisse responder, o garçom se aproximou, desejou-nos boa-noite e nos entregou a carta de vinhos.

      — Aidan, confio no seu bom gosto. Pede um vinho para mim?

      — Claro que peço — respondeu, sem conseguir disfarçar o entusiasmo.

      — Com licença. Vou ao banheiro — e saí da mesa.

      Lá, tranquei-me dentro de um box, pressionei minhas mãos contra minha boca para não gritar e comecei a chorar, tamanha a dor, saudade e o ódio que carregava em meu peito. Instantes depois, tentei controlar minha respiração, a fim de me acalmar, e percebi que uma sensação de alívio ganhava espaço em mim. Caminhei até as pias e, diante do espelho, encarando meus olhos levemente avermelhados, lavei as mãos demoradamente. Depois, com um lenço de papel, tentei harmonizar a maquiagem manchada pelas lágrimas. Que inferno! Esse lápis da Dior não deveria ser à prova d’água? Uma última olhadela no espelho para conferir como estava. Nisso, um homem saiu do box, aproximou-se para lavar as mãos e pôs-se a me encarar pelo espelho. Ele olhava como se me conhecesse. Desviei o olhar e saí do banheiro, retornando à mesa.

      — Está tudo bem? — perguntou Aidan, enquanto eu sentava.

      — Sim. Pediu o vinho? — respondi.

      — Veja se gosta deste — e virou o rótulo da garrafa para que eu visse o que pediu.

      Nisso, o garçom se aproximou e serviu água em


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