Reivindicada pelos Alfas. Grace Goodwin
Читать онлайн книгу.um do outro. Todos vocês devem ter a mesma oportunidade de gerar a criança.
Olhamos uns para os outros, mas não dissemos nada. No entanto, eu soube exatamente o que eles pensavam. Eu não conseguia ouvir exatamente as suas palavras, mas sabia que era o mesmo. — Eu não compartilho, regente. Eu tomarei uma noiva, já que insiste, mas não vou partilhá-la.
— Então, a guerra se instalará. — Ao ouvir as palavras do regente, Lev mudou a postura e a carranca de Tor ficou ainda mais profunda. — Vocês três são os últimos descendentes reais. Todo o planeta reconhece seus direitos ao trono de Viken. Devem tomar uma noiva juntos. Devem ultrapassar suas diferenças e liderar o povo a uma nova era de paz. Devemos parar de lutar uns contra os outros e focar-nos nos grupos de batalha interestelar. Nós já não temos a liberdade de lutar entre nós como se fôssemos crianças. O inimigo externo aproxima-se, e os nossos guerreiros não se voluntariam. Ao invés disso, ficam em casa e atacam os territórios uns dos outros como se fossem crianças mimadas.
O regente respirou fundo, o seu discurso inflamado era algo que eu já tinha ouvido várias vezes. Pelo olhar estampado no rosto dos meus irmãos, as palavras do regente também não eram novidade para nenhum deles. — Vocês três são idênticos em tudo. Seus sêmens são idênticos, e, portanto, qualquer criança proveniente do acasalamento representará os três, os três setores.
— Portanto, não temos de fazer isso juntos. — disse eu. — Qualquer um deles pode tomar a mulher. — Inclinei a minha cabeça na direção dos meus irmãos.
Desde que a mulher não acabasse por ficar comigo. Eu não precisava de uma. Os Vikens estimavam as suas fêmeas e seus filhos, mas visto que eu não tinha que me preocupar quanto a agradar uma mulher ou domar uma, a vida era muito mais simples. Quando eu queria uma mulher na minha cama, eu a tomava. Quando eu terminava, ela voltava para a sua vida e eu, para a minha. Eu certamente não precisava procriar com uma fêmea por motivo nenhum. Crianças simbolizavam devoção e família, que eram coisas que eu não queria. Em todo caso, os nossos pais tiveram uma união apaixonada, e ainda assim, veja onde isso deu. Mortos. Eu não precisava trazer uma mulher para Viken e vê-la morrer por razões políticas.
— Eu não quero uma parceira. — disse Tor. — Ele pode ficar com ela.— Ele apontou para Lev.
— Eu? Eu não quero uma parceira.
O regente estava tão calmo, tão focado em consertar o planeta antes de morrer. Ele era velho e frágil. Ao contrário de nós três, ele tinha testemunhado um Viken em paz. — Já está feito. Ela foi emparelhada com os três. Como Vikens, sabem da responsabilidade.
Responsabilidade. Essa palavra tinha me sido empurrada goela abaixo desde muito novo. Havia a responsabilidade de liderar o planeta, mas não de procriar com uma mulher em conjunto com os meus irmãos afastados.
— Nós não pedimos por isso. — disse eu, falando também pelos meus irmãos. Quando eles assentiram, aquela, talvez, a primeira coisa com a qual tínhamos concordado.
— E vocês vão aceitar e nomear a criança do outro irmão como sucessor?
— Não. — a sobrancelha de Lev arqueou-se novamente.
— Nunca. — As mãos de Tor fecharam-se em punhos.
Eu não respondi porque a minha resposta era a mesma. Não. Nunca. Eu nunca abandonaria o meu povo para dar lugar aos descendentes de outro macho. Eles eram o meu povo. O meu filho herdaria o manto sagrado da liderança.
— Então, agora vocês entendem. Todos vocês devem ser parceiros dela. — O regente ergueu a mão para silenciar-me enquanto eu abria a minha para discutir. — Vocês não pediram para nascer como os três governadores do planeta. Não pediram para ser separados quando bebês. Deveriam ficar juntos, como um só. Vocês nasceram para governar, mas suas vidas foram e serão cheias de sacrifícios. Pelo bem do planeta, pelas futuras gerações, esta briga tem de acabar. Os nossos guerreiros devem se erguer ao serviço da Aliança Interestelar. Devemos proteger o nosso planeta da Colmeia, e não lutar entre nós. Se nós não atingirmos novamente a nossa quota de guerreiros, seremos retirados da proteção da Aliança. Eu recebi informações de que temos dezoito meses para cumprir a nossa quota, para contribuir novamente com o programa de noivas e com as fileiras de guerreiros ou Viken será abandonado. Veremos Viken unificado e forte novamente. Protegido. Orgulhoso. Antes de eu morrer, devemos restabelecer a posição de Viken como uma força poderosa na luta contra a Colmeia.
A Colmeia era uma raça de seres artificiais que matavam indiscriminadamente na sua busca por recursos e novos seres biológicos para assimilar ao seu conjunto. Eles tomavam a forma de toda a vida livre e implantavam nelas a sua tecnologia, neuroprocessadores e mecanismos de controle que roubavam a mente e a alma de uma criatura viva. Todos os planetas membros da Aliança Interestelar contribuíam com recursos, naves e guerreiros para a batalha constante com a Colmeia e o seu mal indiscriminado.
A Colmeia tinha de ser detida. E o regente estava certo. Durante muitos anos, os Viken não enviaram a sua quota total de guerreiros ou de noivas. Não tinha me ocorrido a hipótese de sermos abandonados. A ameaça ao planeta era real e inaceitável. Dois ciclos solares eram muito pouco tempo para procriar com uma fêmea e ver uma criança nascer. O que significava que estávamos verdadeiramente sem tempo e sem opções. Eu odiava-o por isto, por nos dizer a verdade. Mas eu sabia o que tinha de ser feito, não importando o quanto eu não quisesse pensar sobre aquilo.
— Até o momento, vocês ficaram de fora do âmbito das políticas e governo interestelar. Agora, vocês devem erguer-se e tomar o manto e aceitar as responsabilidades que lhes pertencem desde que nasceram. Todo Viken deve ser protegido. Devemos nos unir. Viken deve ser forte. Essa é a verdade e o sonho pelo qual seus pais sacrificaram as vidas.
Lev rosnou. — Eles morreram não por causa da paz, mas por causa da guerra. As facções rebeldes caçaram e os assassinaram numa luta por poder. A guerra civil Viken terminou porque você nos separou, não porque nos uniu.
— Vocês eram bebês e ainda não podiam reinar. — acrescentou o regente. — Agora, vocês voltaram para Viken Unida, para o setor central do nosso planeta para trazer paz, não como uma medida a curto prazo, como foi a separação, mas para sempre. Vocês três devem pôr de lado suas diferenças e tornarem-se uma frente verdadeiramente unida. Juntos, vocês serão poderosos. Três irmãos. Uma criança. Um futuro.
— Caralho. — murmurou Tor. Eu sentia o mesmo. Não havia como fugir do plano do regente. Não havia como fugir do fato de que tínhamos de proteger o nosso povo tanto da Colmeia, quanto das facções rebeldes do nosso mundo. Os rebeldes queriam voltar aos costumes tribais, a ter centenas de setores diferentes, cada um com o seu governante, com o seu próprio plano. Eles queriam voltar ao modo de vida de Viken de há centenas de anos, ao modo como vivíamos antes de nos tornarmos membros da comunidade interestelar, antes de Viken ter se tornado um planeta entre muitos outros.
Os líderes das facções rebeldes queriam guerra e conflitos, cada um deles queria governar o seu pequeno reino com controle absoluto e mão de ferro. Eles queriam acreditar que eram onipotentes. Deuses.
Essas eram ideias antiquadas que restaram de uma cultura de milhares de anos atrás. Essas ideias não tinham lugar no novo mundo, num mundo onde a Colmeia destruiria toda população do nosso planeta em questão de semanas se os nossos costumes tolos os deixassem desprotegidos. Nós precisávamos dos nossos guerreiros lá fora, no espaço, nas naves de combate, não discutindo sobre plantações de jardim e mulheres.
— Você poderia ter nos falado sobre as exigências da Aliança, sobre a queda das quotas de guerreiros. — disse eu. — Poderia ter nos falado sobre o teu plano, sobre a nossa noiva.
Os meus irmãos cruzaram seus braços sobre o peito e concordaram.
O velho arqueou uma das suas sobrancelhas grisalhas. — E vocês teriam concordado? Teriam se submetido ao processo de emparelhamento? — O regente inclinou a cabeça, a expressão no seu rosto era de alívio. Nós estávamos fartos de discutir. Ele tinha vencido o seu argumento.