A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret Way

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A meio da noite - Segura nos seus braços - Margaret Way


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com que o fosse. Causava muita tensão ter de estar sempre a fazer malabarismos, sem nunca apreciar o luxo de não importar se uma bola caísse.

      Uma voz metálica atravessou o silêncio:

      – Dentro de quinhentos metros, saia na próxima saída.

      Adele olhou para o visor com os olhos semicerrados, porém, o sol batia-lhe directamente e não conseguiu vê-lo correctamente.

      – Isso significa que tens de mudar de faixa, Adele. Se não, não poderemos seguir pela saída.

      Era mais fácil dizer do que fazer. Metade do trânsito da estrada estava a tentar dirigir-se para a mesma saída e não havia espaço para mudar de faixa.

      – Saia na próxima saída. Saia na próxima saída.

      Quando acabou de olhar outra vez para o retrovisor e tentou diminuir a velocidade, foi demasiado tarde. Passou ao lado da saída.

      Nick levantou os braços.

      – Óptimo!

      Olhou para ele furiosa.

      – Teria sido mais fácil se me tivesses deixado depender dos meus próprios olhos e ouvidos para ler os sinais! Não estou habituada a usar esta estúpida…

      O navegador por satélite interrompeu-a com um persistente som de assobio. No seu ecrã apareceu um enorme sinal de interrogação.

      – Faça inversão de marcha assim que for possível – ordenou com uma serenidade revoltante.

      – Cala-te, aparelho mandão! – exclamou. – Estamos numa auto-estrada. Era suposto saberes que não posso virar!

      Nick deitou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.

      Não estranhou que ele achasse a situação engraçada.

      A estação de serviço foi uma visão bem-vinda. Adele saiu do carro e dirigiu-se para a casa de banho das mulheres. Então, apoiou as mãos no espelho e inclinou-se.

      Respirou fundo e observou-se. Ainda tinha o cabelo preso num rabo-de-cavalo e estava tão arranjada como sempre, contudo, ao estudar o seu reflexo, percebeu que começava a desfazer-se. Alguma coisa nos seus olhos, uma ligeira careta descendente nos lábios.

      Olhou para o espelho até que achou que ficaria vesga, depois ergueu-se, endireitou os ombros e levantou o queixo.

      Era uma rotina familiar, que aprendera na universidade, quando precisava de apresentar uma fachada corajosa ao mundo. Não pudera contar com o encanto e a perspicácia de algumas das suas colegas, porém, o que lhe faltara em confiança compensara-o com observação e trabalho árduo.

      Dedicara horas a estudar as raparigas populares, como falavam e como se mexiam. Até as suas gargalhadas e os gestos. Depois, levantara-se cedo para praticar à frente do espelho da casa de banho enquanto todos os outros roncavam. Não demorou a ter amigas e os professores pareceram reparar mais nela e, no final dos anos passados na Universidade Lumley, fora uma das suas alunas mais populares.

      Ninguém precisava de saber que a rapariga socialmente inepta ainda estava sob a superfície. Assim, escondia-a através da linguagem corporal adequada e de um certo brilho nos olhos. Era como vestir uma capa, uma pele exterior debaixo da qual ninguém se incomodava em olhar.

      Com o passar dos anos, o seu alter-ego tornara-se no centro das atenções. Agora, a verdadeira Adele só aparecia quando se encontrava no santuário da sua casa. Talvez algum dia essa menina tímida se visse abafada por essa personagem alternativa e a sua eficiência e a sua segurança se tornassem reais.

      Sorriu. Com o tempo, baptizara esse lado da sua personalidade com o nome de «Super Adele».

      Com cuidado, aplicou outra camada de rímel e pintou os lábios. Já estava. Pronta para enfrentar o mundo… pelo menos por fora.

      Pendurou a mala no ombro e saiu.

      A Super Adele parecera uma ideia tão boa ao princípio… toda a gente a adorava. E, durante algum tempo, gostara dessa atenção. Contudo, no presente, essa adoração perdera parte do seu encanto.

      «Adoram-na a ela, não a mim».

      Até Nick se apaixonara pela Super Adele.

      Quando se tinham casado, adorara que a considerasse capaz de fazer qualquer coisa, de ser qualquer coisa, porém, passados alguns anos tornara-se um pouco cansativo. Tentara descer do pedestal, mas Nick não o permitia. Agarrava-se com força à Super Adele e não a soltava.

      O impulso de encurvar os ombros foi quase entristecedor, porém, endireitou ainda mais as costas. Tinha o restaurante à sua frente e pôde ver Nick sentado a uma mesa, à sua espera.

      Como desejou poder sentar-se àquela mesa de plástico, baixar a cabeça e chorar…

      Por vezes, odiava o seu alter-ego.

      Nick deixou que Adele se afastasse e dirigiu-se para o café. Ao entrar, sentiu-se invadido por uma abundância de plástico brilhante e o cheiro a comida gordurosa. Evitou as salsichas e o resto da comida e pediu duas chávenas de café de aspecto lôbrego.

      Sentou-se perto da janela suja que abrangia um lado do local e esperou que Adele chegasse.

      O local estava praticamente deserto. Um casal de idosos concentrava-se num pequeno-almoço frito de aspecto pegajoso com uma lentidão agónica, um homem de negócios refugiava-se atrás de um jornal e uma adolescente com um avental sujo fingia que limpava as mesas.

      Adele não demorou a aparecer e sentar-se à sua frente, rígida e engomada. Odiava quando fazia aquilo. Não precisava de recorrer à fachada à sua frente.

      – Vá lá, Adele. Não é o fim do mundo. Não demoraremos muito tempo a encontrar a próxima saída e regressar à estrada certa.

      Ela assentiu e bebeu café. Como sempre, a sua fúria esgotara-se e sentia-se vazia.

      – Já alguma vez pensaste que as tuas expectativas são demasiado elevadas? Estabeleces objectivos difíceis e castigas-te quando não os alcanças. Não tens de provar nada, sabes? Foi uma volta errada. Toda a gente escolhe um caminho errado alguma vez na sua vida.

      – Não estou a tentar provar nada nem impressionar ninguém. Gosto que as coisas sejam bem-feitas e apenas exijo de mim o que espero dos outros. Seria hipócrita não o fazer.

      Ele assentiu. Para viver de acordo com os padrões de Adele, era necessário ser um perito no salto à vara.

      – Acho que, quanto mais próximas as pessoas estão de ti, mais altas pões as marcas de aprovação.

      – Não sejas tonto. Ninguém precisa de passar um exame para ser meu amigo.

      Não? Então, porque sentia que cada palavra, cada movimento que fazia, era ponderado e avaliado?

      – Acho que queres que toda a gente faça as coisas à tua maneira – ela abanou a cabeça enquanto engolia o café. – Só porque não planeio as coisas com um ano de antecedência, não significa que seja um irresponsável – continuou ele. – Sou diferente de ti, Adele, mas isso não significa que não consiga fazer as coisas ou que não me importe. Nunca falhei uma data de entrega nem deixei de cumprir um contrato. Simplesmente, temos métodos diferentes para alcançar os nossos objectivos.

      – Eu sei.

      Ele teve vontade de se rir. Era inútil. Se não conseguia esclarecer-lhe as coisas, pelo menos podia tentar aliviar o seu estado de espírito.

      – Queres um bolo de chocolate? Vi um no balcão.

      Ela assentiu, quase a sorrir. Ele levantou-se e foi comprá-lo. Se Adele não ingerisse uma dose de açúcar, nunca se animaria.

      Inclinou a cabeça e olhou para ela.

      – Pareces cansada.

      – Obrigada.

      Esticou


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