A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret Way

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A meio da noite - Segura nos seus braços - Margaret Way


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assustada. Como já não eram um casal, receava que a mãe e as irmãs de Nick se mostrassem distantes com ela. Tal como tinham feito os seus próprios pais. Afinal de contas, só fizera parte da família por defeito. Fora mais fácil fugir de algo profundo do que arriscar-se a comprovar que os seus medos tinham uma base real.

      Ele dispersou as ervilhas com a ponta da faca.

      – Já conheces a mamã…

      Conhecia a mãe de Nick melhor do que a sua própria. O que não era difícil, já que a última vez que vira os seus pais fora há três anos. Mas isso não era fora do comum, pois era assim desde que a tinham enviado para um colégio interno para que a sua mãe pudesse viajar pelo mundo com o seu pai enquanto este andava de um lugar exótico para o outro por motivos profissionais.

      Maggie Hughes era o tipo de mulher que fantasiara ter como mãe nos seus anos de adolescente. Tinha a casa cheia de filhas e netos que se queixavam sempre de que os controlava demasiado, embora isso nunca impedisse que fossem visitá-la. Tinha um coração grande e certificara-se sempre de que Adele se sentisse parte da família, sempre querida. Talvez fosse demasiado indulgente com o único filho que tinha, mas ninguém era perfeito.

      – Manda-lhe beijinhos quando falares com ela, está bem?

      Nick tossiu.

      – Bom, estava a pensar que talvez pudesses fazê-lo tu mesma… pessoalmente.

      – E quando seria isso, exactamente? Já te esqueceste, agora que tens uma vida tão agitada em Hollywood, que o ano passado foi viver com a tia Beverley? A Escócia fica muito longe para ir beber uma chávena de chá.

      – Vai fazer uma grande festa de aniversário. Charlotte está a organizar tudo e, é claro, as minhas outras irmãs também se envolveram.

      Adele pôde imaginá-lo. Nick tinha três irmãs mais velhas. E juntas formavam uma força a ter em conta. O único defeito que tinham era a fraqueza que sentiam pelo seu irmão mais novo.

      – E o que tem essa festa a ver comigo?

      Nick olhou para ela.

      – A mamã quer que vás. De facto, insiste em que o faças.

      – Porquê? – Maggie sempre fora uma mulher sensata. – Certamente sabe que juntar-nos na festa fará com que se produza uma situação incómoda. Porque haveria de querer arriscar-se a estragar a sua grande noite?

      – Eh… bom, é essa a questão. Na verdade, não lhe falei dos nossos…

      Adele sentiu que a tensão a invadia um pouco mais.

      – Nossos?

      – Dos… nossos… problemas.

      O prato sobre a mesa dançou à frente dos seus olhos. A sensação de que Nick voltara a fazê-lo, de que voltara a fugir de uma situação difícil, deixando que outra pessoa lidasse com as consequências, acomodou-se junto ao seu ouvido, sussurrando-lhe coisas desagradáveis.

      Disse para si que não podia ser tão idiota. Olhou para ele. O seu sorriso confirmou-lhe tudo, já que recorria sempre a ele quando sabia que alguma coisa ia despertar a sua irritação.

      Custou-lhe muito não levantar o prato e atirá-lo, com molho e tudo, à sua cabeça. De facto, devia receber uma medalha por ter conseguido levantar-se e sair do restaurante sem sofrer uma combustão espontânea.

      Era tão típico de Nick! Perguntou-se porque deixara que abrisse a boca, quando sabia que dela não poderia sair nada bom, mas permitira que ele a abrisse, como a idiota que era.

      Pelo canto do olho, viu o brilho de um casaco castanho e soube que Nick conseguira pagar e sair atrás dela.

      Não estava preparada para falar com ele naquele momento. Por sorte, tinham decidido ir a pé até ao pub mais próximo para almoçarem. Só demoraria dez minutos a chegar a casa.

      Ouviu o som seco das suas botas sobre a calçada. Disse para si que, se mantivesse aquele ritmo, com oito passos ele acabaria por a alcançar. Teria de andar mais depressa.

      Nick seguiu-a. Quis correr, porém, uma voz interior sussurrou-lhe que seria melhor deixar que a sua mulher se acalmasse um pouco. Acelerou.

      Como ela andava depressa quando se irritava daquela maneira! Demorou mais de um minuto até se situar a uma distância que lhe permitisse falar com ela.

      – Adele!

      Nem sequer virou a cabeça. Simplesmente, levantou uma mão na sua direcção.

      – Vá lá, Adele. Por favor?

      Nesse momento, viu-se obrigada a parar à frente de um cruzamento e ele alcançou-a.

      – Não! – avisou-o Adele quando ele ia abrir a boca. – Não o faças.

      Fechou-a.

      – Desta vez superaste-te, Nick. Não posso acreditar que apareças passados nove meses, sem qualquer tipo de contacto, para me convidares para uma festa de aniversário – riu-se e abanou a cabeça. – É um nível novo de insensibilidade, mesmo para ti.

      Um momento!

      Quantas vezes tentara telefonar e desculpar-se nos dias seguintes à sua partida? Quantas vezes ela lhe desligara o telefone na cara antes que pudesse emitir uma sílaba? Se não tinham comunicado em nove meses, era mais culpa de Adele do que dele. Pelo menos, ele tentara fazê-lo.

      No final, fizera o que evidentemente ela queria, deixando-a em paz. E agora culpava-o disso?

      – Bom, talvez tu tenhas todas as respostas, Adele, mas eu não.

      Ela recuou e olhou para ele.

      – O que estás a insinuar?

      – Que eu não tenho a certeza do que se passa connosco. O que é? Estamos separados ou realmente foi um longo período de arrefecimento depois de uma discussão? Se eu não consegui decifrá-lo, como vou poder defini-lo a outra pessoa? Tu não aceitavas falar comigo. Não faço ideia do que se passa na tua cabecinha ordenada.

      Adele abanou a cabeça e atravessou a rua. Ele teve de esperar que vários carros virassem pela esquina para voltar a alcançá-la. Afastou a sua intenção de esperar até que ela quisesse conversar sobre eles. Esperara nove meses e ia obter as suas respostas nesse mesmo instante.

      – Então, o que contaste às pessoas, Adele? Qual foi a tua posição no assunto?

      E então calou-se. Sabia exactamente o que teria contado às suas amigas. Mona aproveitar-se-ia do detalhe mais pequeno e teria a certeza de que ele era um vilão, enquanto Adele saía impoluta e a cheirar a rosas. Aquela mulher às vezes era tão teimosa…

      Caminhou junto a ela em silêncio. Devia ter ouvido o seu instinto. Adele não estava de humor para oferecer explicações razoáveis e qualquer coisa que dissesse só serviria para piorar as coisas enquanto continuasse naquele estado.

      Enquanto esperava que abrisse a porta de casa, as faíscas que saíam dela eram quase tangíveis.

      – Vou lá para cima – disse, deixando a porta aberta.

      Ele entrou e fechou-a. Apesar das doze horas que dormira, começava a sentir-se cansado outra vez. Foi para a sala e ligou a televisão. Talvez pudesse dormir um pouco.

      Adele acabaria por se acalmar. Era o que acontecia sempre. Tinha uma fúria explosiva, mas que geralmente também se consumia depressa. Depois de ligar a televisão, deixou-se cair na sua poltrona favorita. Dentro de quinze minutos, iria preparar-lhe uma chávena de chá como oferenda de paz para que pudessem conversar sem que declarasse a Terceira Guerra Mundial.

      Um pouco mais tarde, precisamente quando pensava em levantar-se para pôr a chaleira ao lume, ouviu-a descer as escadas. De facto, ouviu uma série de ruídos, depois «tump, tump, tump», como se houvesse duas pessoas a descer cada degrau.

      Chegou ao hall mesmo a tempo de a ver lutar com


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