Atração De Sangue. Victory Storm

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Atração De Sangue - Victory Storm


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no refeitório, onde estava um grande burburinho.

      Durante a tarde, começaram os primeiros olhares e risadinhas.

      No autocarro de regresso a casa, estava já noiva com o Ron há um mês, segundo os rumores que circulavam nas proximidades.

      Faltou pouco para afixarem cartazes: “A história de amor entre a Pálida Vera e o Hálito Podre”.

      Estava enojada.

      Quando cheguei a casa, encontrei a tia Cecília com os cabelos amarrados numa suave trança dourada e com um enorme avental verde, determinada a preparar as conservas de tomate para o inverno.

      Descalcei nervosamente os sapatos e atirei a mochila ao chão, antes de correr para a minha tia e carregá-la com os meus problemas.

      «Aqui faz falta pão e mel» disse-me ao escutar quanto rancor havia na minha voz ao falar da Patty e do Ron.

      «Por acaso, acreditas realmente que vou às explicações com aquele cretino?» desabafei.

      Entretanto a tia preparou-me o lanche.

      «Come para te acalmares» disse-me estendendo-me uma fatia de pão e ignorando as minhas palavras.

      Devorei o pão, continuando a falar, cuspindo migalhas aqui e acolá. Todavia, por fim acalmei-me. Era o mel. Quando estava nervosa ou zangada, o sabor do mel tinha sempre um efeito relaxante em mim.

      «Obrigada» sussurrei finalmente.

      «Bem, então agora que já lanchaste e que desabafaste, aconselho-te a correr para o quarto para estudar biologia, se queres fazer-me mudar de ideias quanto às aulas com o Ron» exclamou a tia Cecília.

      « Oh, obrigada!».

      Corri a abraçá-la. Sabia que ia compreender!

      «És a minha tia preferida!» acrescentei.

      «Óbvio, sou a tua única tia».

      Desatamos a rir juntas e depois pôs-me a estudar.

      Prometi a mim mesma que melhoraria a minha média em ciências. Estudei biologia três dias seguidos e no fim, fiz uma prova oral.

      Sete.

      Aquela nota bastou para convencer a minha tia a anular o compromisso que tinha com o Ron.

      Sentia-me no sétimo céu.

      Não me interessava se o Ron tinha levado a mal, porque se tinha sentido rejeitado. Estivemos quase juntos de verdade.

      Também não agradou à Patty, porque no espaço de dois dias, a minha história de amor com o Hálito Podre começou a desvanecer, até ser completamente esquecida.

      Um dia, ao regressar da escola, cruzei a habitual cancela, que há já alguns dias tinha começado a ranger mais do que o habitual e corri para casa.

      «Devo chegar-lhe óleo» disse-me Ahmed, referindo-se à cancela, enquanto reparava um bocado da cerca, não muito longe de mim.

      «Olá Ahmed. Como estás?» perguntei-lhe.

      «Hoje está sol, por isso, está tudo bem» respondeu-me.

      Sorri-lhe solidária.

      «Termino de reparar isto e depois vou fazer algumas comissões» acrescentou.

      «Posso ir contigo?».

      Quando fazia sol, não era possível estar em casa a estudar.

      «É melhor não. Acabou de chegar o padre August e penso que quer ver-te» respondeu-me afastando-se com algumas tábuas na mão.

      O padre August, aquele velho anão atarracado com o olhar maligno.

      Tanto eu quanto a tia não podíamos vê-lo, todavia uma vez por mês vinha fazer-nos uma visita.

      A tia Cecília explicou-me que, no fundo, o padre August era um bom homem e que tinham sido muito próximos, quando eu era pequena.

      Ajudou a financiar os custos de saúde que teve quando me diagnosticaram aquela terrível anemia, por isso, seria sempre bem-vindo, apesar de me parecer um ser repugnante e desagradável.

      Com relutância, entrei em casa.

      No salão, a tia e o padre August estavam sentados no sofá a beber um café.

      «Tesouro, chegaste» cumprimentou-me a tia com o mesmo carinho de sempre, ainda que eu tenha notado imediatamente uma veia de tensão na sua voz.

      «Olá, tia. Bom dia, padre August».

      «Vera, como estás?» perguntou-me com uma voz suspeita, enquanto continuava a olhar-me da cabeça aos pés, como se procurasse alguma pista sobre um possível agravamento da minha saúde ou qualquer outra coisa.

      Dava-me sempre a impressão que eu tinha algo de errado, ainda que tentasse disfarçá-lo.

      Apesar dos muitos anos de convívio, nunca me mostrou afeição como o padre Dominick.

      «Bem, obrigada».

      «A tua tia estava-me a contar que tomas as tuas hemodoses uma vez a cada três semanas».

      «Sim, exacto».

      «Muito bem. Aconselho-te a fazer sempre aquilo que diz a tua tia e se não te sentires bem, diz-lhe imediatamente».

      «Assim o farei».

      «Bem. Continuas a frequentar as aulas de catequese do padre Dominick, certo?».

      Suspirei, já irritada com o interrogatório.

      Todas as vezes, era a mesma história.

      Detestava que a minha saúde se tornasse uma questão de estado.

      «Olha que eu só me preocupo contigo».

      «Sim, mas eu estou bem, por isso não vejo motivo para todas estas perguntas» desabafei nervosa.

      O padre franziu a testa.

      «Tanta gente cuida de ti e faz tudo para manter-te viva. Muitas pessoas importantes como os cardeais Montagnard e Siringer ocupam-se da tua saúde. Devias mostrar um pouco mais de gratidão!» murmurou com um tom ameaçador.

      Montagnard e Siringer? Novamente estes nomes.

      Não podia deixar escapar esta oportunidade.

      «Desculpe-me. Não sabia que tinha chamado a atenção de pessoas assim tão importantes, mas... quem são os cardeais Montagnard e Siringer?» Tentei perguntar com uma voz ingénua.

      A tia Cecília tinha o rosto pálido e tenso, mas por fim conseguiu abrir a boca.

      «É culpa minha. Na realidade, Vera, não te disse uma coisa. Quando a minha prima Annie, ou seja a tua mãe, me procurou, ela estava já nos últimos meses de gravidez. Contudo, eu naquele tempo estava num convento em Portugal e não sabia nada dela. Há anos que não nos falávamos. Foi o próprio cardeal Montagnard a pôr-nos em contacto e quem tomou conta de ti quando nasceste, antes do meu regresso à Irlanda. Infelizmente, quando cheguei à clínica onde estiveram internadas, a tua mãe já tinha sido enterrada. Nunca ninguém soube o nome do teu pai, apesar das pesquisas levadas a cabo pelo cardeal Siringer» explicou a tia Cecília com ânsia.

      Estava transtornada.

      «Porque nunca me disseste?» perguntei sussurrando.

      «Peço-te desculpa, mas não queria causar-te mais sofrimento, minha pequena» sussurrou-me a tia, enquanto os olhos enchiam-se de lágrimas.

      Percebi quanto aquele assunto a fazia sofrer. Abracei-a intensamente e sorri-lhe.

      «Não te preocupes».

      Entretanto o padre August terminou o seu café.

      Estava nervoso. Provavelmente, apercebeu-se que tinha falado demais, por isso, decidiu ir-se embora, sobretudo para evitar mais perguntas.

      Sem acrescentar


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