Tempo de esperança. Daphne Clair

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Tempo de esperança - Daphne Clair


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contente que assim seja – disse ele, metendo as mãos nos bolsos das calças.

      A roupa de Zito estava sempre impecável, muito cara. Não com o intuito de impressionar os outros.

      Ele estava a inspeccionar as paredes que Roxane tinha pintado de verde, com baratas reproduções artísticas.

      Então, olhou, para o sofá em segunda mão. Por um segundo, a sua atenção desviou-se para o tapete antigo pelo qual Roxane tinha pago muito dinheiro. O seu único capricho.

      – Não gostas da minha casa? – perguntou, desafiante.

      – Não está mal. Pequena, mas agradável.

      – Gosto das coisas pequenas.

      Zito olhou para ela, incrédulo.

      – É tua?

      – Minha e do banco.

      – Se precisas de dinheiro, poderias ter-me pedido. Através do teu advogado, se fosse preciso. Disse-lhe…

      – Não quero o teu dinheiro. Tenho um bom trabalho e posso pagar a hipoteca.

      – Hipoteca!

      Tinha falado como se fosse uma palavra feia. Roxane sorriu.

      – É isso o que fazem as pessoas normais para comprarem uma casa, Zito.

      – Não tens necessidade de comprar uma casa. Eu posso dar-te tudo o que quiseres… dei-te tudo, se bem me lembro.

      – Não tudo – disse Roxane em voz baixa. – Não me deste o que mais desejava.

      – Amava-te! – exclamou ele, furioso.

      – Eu sei, sei que me amavas. À tua maneira.

      Zito passou uma mão pelo cabelo, irritado.

      – Dei-te o meu coração e a minha alma, tudo o que tinha. Não sei que mais poderia dar-te.

      Claro que não sabia. Maurizio Riccioni apenas faz as coisas à sua maneira. E quase sempre com sucesso. Por que é que iria imaginar que a sua mulher não sucumbiria a essa profunda segurança em si mesmo?

      – Nem tudo foi culpa tua. Eu era demasiado jovem e deveria ter dito «não» quando me pediste em casamento.

      – E disseste – recordou ele.

      Sim, era verdade. A primeira vez que a pediu em casamento, demonstrou um certo bom senso. Mas a sua oposição não durou muito. De imediato, os seus medos foram dissipados perante a vontade de Zito.

      Inclusive, convenceu os seus pais, apesar deles não aprovarem que a sua filha casasse aos 19 anos.

      Zito esperou até que cumprisse os 20 e no dia do seu aniversário casaram na catedral de Melbourne, perante várias centenas de convidados.

      Mas, o casamento era algo mais do que um vestido branco e um ramo de flores. E o seu não tinha resistido ao desafio.

      – Deveria ter-te dito que não.

      – Obrigado – murmurou ele. – Mas eu podia convencer-te de todas as formas.

      – Estás tão seguro de ti próprio…

      – Eu nunca te magoei, Roxane. Se tivesse sido um marido terrível, compreenderia que me tivesses abandonado.

      Então, aproximou-se do seu escritório e olhou para os papéis.

      – São coisas privadas – protestou Roxane. Ele pegou num envelope e voltou-se, interrogante.

      – Roxane Fabian? – Roxane encolheu os ombros.

      – É o meu apelido.

      – Mas disseste que gostavas do meu.

      – Não me importou… Não era tão importante.

      – Para mim era.

      Mas ter o seu apelido tinha sido importante para ela. Seguramente, era algo simbólico.

      – Por que é que pensavas que eras o meu dono? – Zito soltou uma gargalhada.

      – Se realmente pensavas assim, eras demasiado jovem.

      Ou demasiado tonta, parecia insinuar.

      – Então, não pensavas isso.

      A reacção do homem foi notável, mas ela conhecia-o tão bem que viu como dava, sem dar, um passo atrás.

      Não queria magoá-lo. Sabia que ficaria furioso, mas não o abandonou para se vingar ou castigá-lo, apenas por sobrevivência.

      Na sua longa e possivelmente incoerente carta de despedida, tinha-lhe dito que não o odiava e que não devia culpar-se a si mesmo pelo que não podia evitar. Tinha tentado não o magoar.

      Talvez a dor fosse mais profunda do que ela esperava. Tinha tido doze meses para a esquecer, mas não parecia tê-la esquecido.

      – Lamento. Pensava que compreendias.

      – Há outro homem? – perguntou ele abruptamente.

      – Por favor! – exclamou Roxane. Não entendia que o tinha deixado porque queria estar sozinha. – Outro homem depois de viver contigo durante três anos? Como te atreves a sugerir que te fui infiel?

      Zito ficou em silêncio durante uns segundos.

      – Durante meses, torturei-me com essa ideia.

      Roxane nunca tinha pensado nisso. Essa era mais uma prova de que não a conhecia, que nunca tinha tentado compreendê-la ou entender os seus desejos.

      – Pois enganas-te.

      Ele encolheu os ombros, como se não tivesse importância. Mas tinha. Tinha o seu orgulho ferido e essa era, seguramente, a razão pela qual não a tinha procurado através de um detective.

      – Quebraste outras promessas do casamento – disse então. – Por que não essa?

      – É diferente.

      – Porquê?

      Roxane não podia responder a essa pergunta.

      – Porque sim – disse, suspirando.

      – E agora?

      – Agora, a minha vida privada é a minha vida privada.

      Nesse momento, começou a tocar o telefone e Roxane levantou-se para ir para o corredor.

      – Diga-me?

      Zito ficou a olhar para ela desde o salão, enquanto ela tentava concentrar-se na chamada.

      – Diz-me, Leon… No sábado? Sim, bem, tenho que ver a agenda.

      Roxane abriu a mala que tinha deixado sobre a mesa do telefone.

      – No sábado da semana que vem? Que género de festa? Se há muitos convidados…

      Leon garantiu que não. Uma festa de boas vindas, pelos vistos, para o filho de um cliente que voltava da Europa com a sua noiva.

      – É apenas uma reunião familiar. Uma centena de convidados.

      – Uma reunião familiar? – sorriu ela. – Para que os familiares vejam a pobre noiva?

      – É uma proeminente família de Auckland e os contactos vêm mesmo a calhar. Espero que possas organizá-la.

      – Claro que sim – prometeu Roxane.

      – Sei que posso confiar em ti.

      Quando voltou ao salão, tinha um sorriso nos lábios. Zito estava a olhar pela janela, com um ar muito sério.

      – O teu noivo?

      Roxane não tinha noivo, mas a pergunta fez com que vacilasse um pouco.

      – Não, uma chamada de trabalho.

      – Trabalho? – repetiu Zito, incrédulo. – A estas horas?

      –


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