Tempo de esperança. Daphne Clair

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Tempo de esperança - Daphne Clair


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Roxane encontrou nele um inegável desejo.

      Um desejo que a tinha consumido, deixando apenas as brasas de um casamento desfeito.

      Umas brasas que, teve que admitir, o facto de se mudar para outro país e construir uma vida sem ele não tinha conseguido apagar totalmente. O som da sua voz, o roçar dos seus lábios na mão, era suficiente para despertar esse desejo novamente.

      – Tens uma boa garrafa de vinho no salão – disse Zito, colocando a pasta numa caçarola.

      Roxane alegrou-se absurdamente do seu bom gosto. Ele próprio tinha-lhe ensinado a reconhecer um bom vinho.

      – Vou buscá-lo.

      – Não, fica – disse Zito, saindo da cozinha.

      Mas Roxane levantou-se de todas as formas. Precisava fazer algo para borrar aquelas recordações amargas. Zito voltou com a garrafa de vinho e ela tinha posto a mesa.

      E estava a olhar para ele como que dizendo: «Por que é que estou a fazer isto? Se tivesse princípios, tinha-lhe dito que se fosse embora e que nunca mais voltasse ».

      Ele serviu o vinho em dois copos que Roxane tinha tirado do armário.

      – Senta-te, por favor.

      Roxane obedeceu.

      Habitual, pensou para si própria, observando-o a cortar cebola. Durante os três anos que durou o seu casamento acostumou-se a que ele lhe dissesse o que tinha que fazer.

      Zito pegou num tomate e cortou-o com facilidade. «Há que haver sempre boas facas». Outra coisa que ele lhe tinha ensinado.

      Inconscientemente, continuava sob o feitiço de Zito Riccioni.

      Mas aquilo devia acabar, pensou. Depois de jantar pedia-lhe que se fosse embora.

      Zito deitou um pouco de vinho no que estava a cozinhar, intensificando o aroma que começava a fazer com que ela salivasse. Era um grande cozinheiro, disso não havia dúvidas.

      Pouco depois colocava diante dela um prato de pasta com finas ervas, a sua receita favorita.

      E, como tinha feito tantas outras vezes, pegou no seu talher para envolver com astúcia a massa e ofereceu-lhe. Automaticamente Roxane abriu os lábios.

      Ninguém podia fazer pasta com finas ervas como Zito Riccioni. Involuntariamente fechou os olhos para saborear a massa…

      Quando os abriu, ele estava a olhar para ela com um sorriso nos lábios. Um sorriso que era um desafio.

      – Estão riquíssimo, como sempre.

      Nunca fazia duas vezes a mesma salsa, mudava sempre os ingredientes e a quantidade de acordo com o momento ou o que houvesse disponível no mercado. Mas cada variação era uma obra de arte e aquela noite não era excepção.

      – Fico contente. Estaria melhor se fosse eu próprio a fazer a massa, mas…

      – É massa fresca.

      Depois de provar a massa de Zito, Roxane não podia comprá-la no supermercado.

      Mas o que nunca aprendeu foi enrolar a pasta no talher sem que caísse.

      – Não te rias. Já sabes que sou pouco habilidosa – murmurou ao ver o brilho burlesco nos olhos azuis dele.

      – Olha, é assim… – disse ele, pegando na sua mão. Tinha tentado ensinar-lhe dezenas de vezes, mas era impossível. Zito dizia que, pelos seus genes, tinha nascido com um talher de prata na boca.

      – Falta-me prática. Além disso, não costumo comer pasta.

      – Por isso estás mais magra.

      – Não estou magra.

      – Estás. Mas tão bonita como sempre.

      – Obrigado.

      – Mas perdeste peso.

      – Faço mais exercício. Vou para o trabalho a pé. Tu continuas a jogar squash?

      – Sim.

      Zito tinha sido campeão do Estado e tinha a casa cheia de troféus. Mas quando cumpriu 25 anos o trabalho absorveu-o por completo. O seu avô tinha-se retirado e o seu pai estava ansioso por ensinar ao herdeiro tudo o que devia saber sobre a empresa familiar.

      – Como está a tua família? – perguntou Roxane.

      – Importas-te?

      Ali estava novamente, aquela raiva que raramente deixava antever.

      – Sim, importo-me. Já sabes que gosto muito dos teus pais e das tuas irmãs. E o teu avô é um anjo.

      – Mas o seu neto não.

      – Zito, já te disse…

      – Não me disseste nada! – exclamou ele, batendo na mesa com o punho. – Perdoa-me, não queria assustar-te – disse então ao ver que Roxane tinha ficado pálida. – Isto pode esperar.

      Não costumavam discutir à mesa. Zito dizia que era imprescindível desfrutar dos alimentos e que, quase sempre, depois de uma boa refeição discutir não fazia sentido.

      E quase sempre tinha razão. Quando não se esqueciam da discussão pela comida, esqueciam-na porque iam para a cama. E faziam amor, nada mais importava. Na realidade, nunca tinham tido uma verdadeira discussão.

      – Come – disse. Roxane ia protestar, mas decidiu terminar a sua pasta. – Alimentas-te bem?

      – Alimento-me perfeitamente. Saladas, peixe, verduras…

      – Costumas sair muito?

      – De vez em quando.

      Não costumava organizar jantares porque a sua casa era muito pequena e na mesa do salão apenas podiam comer quatro pessoas, mas saía com as suas amigas ao cinema ou a beber um copo.

      – Fala-me do teu trabalho.

      – Comecei a trabalhar com Leon quando cheguei a Auckland. No princípio apenas me encarregava de servir comida nas festas, mas de imediato pediu-me que trabalhasse no escritório.

      Leon tinha ficado impressionado pela sua iniciativa e a sua capacidade de trabalho. Além disso, o seu diploma em Economia permitia-lhe levar a administração da empresa.

      – Apercebi-me que alguns clientes queriam algo mais que comida. Queriam que alguém organizasse os convites, publicidade… alguém que se encarregasse de todos os pormenores de uma forma original.

      – Tu apercebeste-te? – perguntou Zito.

      «Não é incredulidade, apenas interesse», pensou Roxane. Não devia ser tão perspicaz.

      – Sim. Por isso disse a Leon e ele decidiu que tentássemos. Desde então, além de nos encarregarmos da comida nas festas, fazemos de tudo. Gosto do meu trabalho e tenho um bom salário.

      – Parabéns.

      – É uma empresa pequena comparada com o império Riccioni.

      – Delora não é um império, é um negócio familiar – replicou ele.

      – Um negócio familiar que vale milhões.

      Talvez centenas de milhões. Roxane nunca tinha visto as contas do seu marido.

      – Isso não é nenhum crime. Trabalhamos muito.

      – Já sei.

      Mas apenas os homens. As mulheres da família Riccioni não trabalhavam, como Zito lhe tinha deixado bem claro.

      Devia ficar em casa para controlar os empregados, presidir às festas e aparecer nos eventos sociais para mostrar as jóias e os vestidos que lhe comprava o seu marido.

      Roxane queixou-se uma vez, dizendo que se sentia inútil como uma escultura de gelo no centro de uma mesa. A resposta de Zito foi: «Tu és muito mais bonita e menos fria».

      Com


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