Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez Lezaun

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Uma bala com o meu nome - Susana Rodríguez Lezaun


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extremidades, por isso Noah teve de me empurrar na direção correta. Levantou a mão para se despedir do guarda, que lhe devolveu o cumprimento como se fossem dois velhos amigos.

      — O que se passou?

      — Está tudo resolvido. Expliquei-lhe que um incidente como este pode arruinar a tua vida e a tua carreira se chegar às mãos erradas, já para não falar do que aconteceria se fosse visto pelo teu chefe ou pelos teus colegas. Um vídeo assim podia tornar-se viral nas redes sociais numa questão de minutos. Falei-lhe da tua reputação, do teu profissionalismo e de como fomos estúpidos e acedeu a apagar esses quinze minutos do registo digital de imagens. É um homem bom e honrado. Garantiu-me que ninguém perceberá, porque todas as salas estavam vazias durante esse tempo, o colega ainda não regressou da ronda e o corte temporário será impercetível.

      — E acedeu assim, sem mais nem menos?

      — Bom, sem mais nem menos, não. Dei-lhe trezentos dólares, tudo o que tinha na carteira nesse momento. Não queria aceitar, mas insisti que era o mínimo que podia fazer, dado o grande favor que está a fazer-nos. Gosto do Scott.

      — Quem é o Scott?

      — O vigilante, claro.

      Nesse momento, não sabia se devia rir-me ou chorar. Abracei-o com força e optei pela segunda alternativa. As minhas lágrimas estavam a sujar-lhe a camisa, mas não parou de me abraçar. Chorei de raiva por ser tão estúpida (mais uma vez), de medo e de alívio. Criticara tantas vezes com amargura aqueles que arriscam o presente e o futuro para ter sexo e eu acabara de fazer o mesmo! Estava espantada. Castiguei-me mentalmente, insultei-me e prometi-me não voltar a ser tão idiota.

      Conduzi em silêncio até ao seu apartamento e rejeitei a oferta de subir um pouco.

      — Preciso de me acalmar e de pensar um pouco — expliquei, sem desligar o motor.

      Não ia deixar-me convencer, estava demasiado afetada.

      — Como queiras — acedeu —, mas não esqueças que não tens nada a lamentar. As imagens já não existem e, mesmo que o Scott comente com alguém que uma restauradora teve prazer na oficina, não tem nada para o provar. Se contar e não houver imagens, ficará mal por as ter apagado. Não dirá nada, podes ficar tranquila.

      Lutava para me convencer de que tinha razão, de que não ia acontecer nada e de que tudo não passaria de uma história, um pouco aterradora agora, mas divertida assim que adquirisse a perspetiva do tempo. Enquanto esse momento chegava, não conseguia evitar tremer dos pés à cabeça.

      Beijou-me e saiu do carro. Nem sequer olhei para trás. Voltei para a estrada e acelerei até me afastar.

      3

      O telemóvel acordou-me do sono profundo e agradável em que me perdera depois de me render à evidência de que não conseguiria dormir sem ajuda química. Tinha a boca pastosa e a cabeça toldada. Custou-me tanto a encontrar o telemóvel que a chamada se desligou, embora voltasse a tocar imediatamente. Quem quer que fosse, não tencionava render-se, portanto, acendi a luz do candeeiro de noite e verifiquei as horas no despertador enquanto deslizava o ícone verde do telemóvel. Eram onze e meia da noite. A essas horas, só se anunciam desgraças.

      — Zoe! — gritou um homem do outro lado da linha. — Estás acordada?

      — Agora, sim — balbuciei. — Quem é?

      Não conseguia fixar o olhar no nome no ecrã do telemóvel.

      — Sou o Gideon Petersen. Zoe, aconteceu…

      — Quem? — insisti.

      — O Gideon! O teu chefe! O diretor do museu! Meu Deus, Zoe, estás bêbada?

      — Não, Gideon, só estava a dormir profundamente. Lamento muito. Estou a ouvir. O que se passa?

      — Tens de vir ao museu agora mesmo. Houve um roubo.

      Essas palavras tiveram o mesmo efeito em mim do que um duche de água gelada. Abri os olhos, levantei-me com um salto e o meu cérebro e o meu corpo entraram em ação imediatamente.

      — Um roubo? O que levaram?

      — Parece que entraram na exposição das joias. Mas isso não é o pior.

      Se isso não era o pior, não imaginava o que podia vir a seguir.

      — Deram um tiro a um dos guardas. Morreu.

      — Meu Deus, meu Deus, meu Deus…

      Não era capaz de pensar em nada. Nunca em toda a história do museu acontecera algo parecido. É claro que tinham acontecido pequenos atentados contra alguma obra em concreto e, uma vez, tinham frustrado uma tentativa de roubo mesmo antes de os ladrões acederem ao edifício. Os golpes do martelo enorme com que tentavam abrir um buraco na parede tinham-nos denunciado. Mas nunca se consumara o assalto e muito menos morrera alguém a tentar impedi-lo.

      — Quem é o morto? — perguntei, quando recuperei minimamente a compostura.

      — Não tenho a certeza — reconheceu Gideon —, quem quer que fosse que estava a trabalhar. Não sei o seu nome.

      Um silêncio espesso espalhou-se através da linha. Durante uns segundos, partilhámos medos e preocupações. No fim, Gideon quebrou o silêncio.

      — Zoe, podes vir? Aqui, há uma confusão tremenda e a polícia quererá falar com todos nós.

      — É claro. Dá-me uns minutos. Estarei aí o mais depressa possível.

      Desligámos sem nos despedir. Com o telemóvel ainda na mão, de pé junto da cama, assaltou-me novamente o receio de que alguém descobrisse o deslize que cometera nessa mesma tarde na oficina da restauração. Tremendo, liguei a Noah e expliquei o que acontecera. Parecia sinceramente espantado, mas, sem dúvida, a falta de proximidade afetiva com o museu fazia-o pensar com mais clareza.

      — Não acho que precises de dizer a alguém que estiveste lá esta tarde. Lembra-te de que o Scott apagou as imagens. Espero que ele não seja a vítima — murmurou, antes de prosseguir com as suas reflexões. — É só a minha opinião. É claro que tu podes fazer o que achares conveniente, mas penso que, se falares da tua visita, só vais conseguir meter-te em problemas.

      — Tens razão — reconheci, enquanto procurava roupa limpa no armário. — Por enquanto, vou ao museu e, se não for estritamente necessário, não mencionarei o meu passeio pela oficina.

      — Queres que vá buscar-te e que te leve? Estás demasiado nervosa para conduzir.

      — Obrigada, estou bem. Não te preocupes. Ligo-te quando voltar para casa.

      — Estarei à espera.

      Vesti-me a toda a velocidade e corri até ao carro. Pelo caminho, fantasiei com todo o tipo de situações possíveis, cada uma mais sangrenta e terrível do que a outra. Não sabia o que ia encontrar e a minha imaginação voou livremente durante os quinze minutos seguintes.

      O cordão policial impediu-me de aceder ao interior do estacionamento do museu, apesar de me ter identificado perante o agente impertérrito que vigiava a entrada, portanto, tive de estacionar na rua de trás e ir a pé até à porta, onde voltei a identificar-me.

      O estacionamento e o pequeno passeio que leva até ao edifício central brilhavam como uma feira de uma vila. Luzes azuis, brancas e vermelhas lançavam os seus brilhos estroboscópicos contra as paredes e para o céu. Um grupo nutrido de pessoas apinhava-se num dos cantos da zona ajardinada, muito perto das sebes que delimitam o passeio da zona asfaltada. Distingui vários agentes uniformizados, duas ou três pessoas à paisana e outras tantas cobertas pelo fato-macaco branco característico que tantas vezes vira nos capítulos da CSI.

      Assim que me deixaram passar, corri para o vestíbulo do museu à procura de Gideon. Encontrei-o sentado numa das cadeiras estofadas que costumam estar junto da parede, mas que, nesse momento, tinham posto muito perto do posto


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