Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III. Luis de Camoes

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Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III - Luis de Camoes


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neste corpo vosso.

– oOo —MOTE

      Ojos, herido me habeis,

      Acabad ya de matarme;

      Mas muerto volved á mirarme,

      Porque me resusciteis.

Voltas

      Pues me distes tal herida,

      Con gana de darme muerte,

      El morir me es dulce suerte,

      Pues con morir me dais vida.

      Ojos, qué os deteneis?

      Acabad ya de matarme;

      Mas muerto volved á mirarme,

      Porque me resusciteis.

      La llaga cierto ya es mia,

      Aunque, ojos, vós no querrais;

      Mas si la muerte me dais,

      El morir me es alegría.

      Y así digo que acabeis,

      O ojos, ya de matarme;

      Mas muerto volved á mirarme,

      Porque me resusciteis.

– oOo —A DONA FRANCISCA DE ARAGÃO, QUE LHE MANDOU GLOSAR ESTE VERSO:

      Mas porém a que cuidados?

      Tanto maiores tormentos

      Forão sempre os que soffri,

      Daquillo que cabe em mi,

      Que não sei que pensamentos

      São os para que nasci.

      Quando vejo este meu peito

      A perigos arriscados

      Inclinado, bem suspeito

      Que a cuidados sou sujeito,

      Mas porém a que cuidados?

Ao mesmo

      Que vindes em mi buscar,

      Cuidados, que sou captivo?

      Eu não tenho que vos dar:

      Se vindes a me matar,

      Ja ha muito que não vivo:

      Se vindes, porque me dais

      Tormentos desesperados,

      Eu, que sempre soffri mais,

      Não digo que não venhais;

      Mas porém a que cuidados?

Ao mesmo

      Se as penas que Amor me deu,

      Vem por tão suaves meios,

      Não ha que temer receios;

      Que val hum cuidado meu

      Por mil descansos alheios.

      Ter n'huns olhos tão formosos

      Os sentidos enlevados,

      Bem sei qu'em baixos estados

      São cuidados perigosos;

      Mas porém a que cuidados?..

Carta com a glosa acima

      Deixei-me enterrar no esquecimento de v. m. crendo me sería assi mais seguro: mas agora que he servida de me tornar a resuscitar, por me mostrar seus poderes, lembro-lhe que huma vida trabalhosa he menos de agradecer, que huma morte descansada. Mas se esta vida, que agora de novo me dá, for para ma tornar a tomar, servindo-se della, não me fica mais que desejar, que poder acertar com este mote de v. m., ao qual dei tres entendimentos, segundo as palavras delle pudérão soffrer: se forem bons, he mote de v. m.: se maos, são as glosas minhas.

– oOo —MOTE ALHEIO

      Campos bem-aventurados,

      Tornae-vos agora tristes;

      Que os dias, em que me vistes,

      Alegres ja são passados.

Glosa

      Campos cheios de prazer,

      Vós qu'estais reverdecendo,

      Ja m'alegrei com vos ver;

      Agora venho a temer

      Qu'entristeçais em me vendo.

      E pois a vista alegrais

      Dos olhos desesperados,

      Não quero que me vejais,

      Para que sempre sejais,

      Campos, bem-aventurados.

      Porém se por accidente

      Vos pezar de meu tormento,

      Sabereis que Amor consente

      Que tudo me descontente,

      Senão descontentamento.

      Por isso vós, arvoredos,

      Que ja nos meus olhos vistes

      Mais alegria, que medos,

      Se mos quereis fazer ledos,

      Tornae-vos agora tristes.

      Ja me vistes ledo ser,

      Mas despois que o falso Amor

      Tão triste me fez viver,

      Ledos folgo de vos ver,

      Porque me dobreis a dor.

      E se este gôsto sobejo

      De minha dor me sentistes,

      Julgae quanto mais desejo

      As horas que vos não vejo,

      Que os dias em que me vistes.

      O tempo, qu'he desigual,

      De seccos, verdes vos tem;

      Porqu'em vosso natural

      Se muda o mal para o bem,

      Mas o meu para mor mal.

      Se perguntais, verdes prados,

      Pelos tempos differentes

      Que de Amor me forão dados,

      Tristes, aqui são presentes,

      Alegres, ja são passados.

– oOo —MOTE ALHEIO

      Trabalhos descansarião

      Se para vós trabalhasse;

      Tempos tristes passarião,

      Se algum'hora vos lembrasse.

Glosa

      Nunca o prazer se conhece,

      Senão despois da tormenta:

      Tão pouco o bem permanece,

      Que se o descanso florece,

      Logo o trabalho arrebenta.

      Sempre os bens se lograrião,

      Mas os males tudo atalhão;

      Porém ja que assi porfião,

      Onde descansos trabalhão,

      Trabalhos descansarião.

      Qualquer trabalho me fôra

      Por vós grão contentamento:

      Nada sentira, Senhora,

      Se víra disto algum'hora

      Em vós hum conhecimento.

      Por mal que o mal me tratasse,

      Tudo por bem tomaria;

      Postoque o corpo cansasse,

      A alma descansaria,

      Se para vós trabalhasse.

      Quem vossas cruezas ja

      Soffreo, a tudo se poz;

      Costumado ficará;

      E


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