Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo. Joaquim Manuel de Macedo

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Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo - Joaquim Manuel de Macedo


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que eu adoro

      E qual rio que corre,

      Sem ver a flor pendente

      Que ti margem murcha e morre:

      Eu sou u pobre flor

      Que vou murchar de amor.

      VIII

      São horas de raiar

      O sol dos olhos meus,

      Mau sol! Queima a florzinha

      Que adora os olhos seus:

      Tempo é do sol raiar

      E é tempo de chorar.

      IX

      Lá vem sua piroga

      Cortando leve os mares,

      Lá vem uma esperança

      Que sempre dá pesares:

      Lá vem o meu encanto,

      Que sempre causa pranto.

      X

      Enfim abica a praia,

      Enfim salta apressado.

      Garboso como o cervo

      Que salta alto valado:

      Quando há de ele cá vir

      Só pra me ver sorrir

      ?

      XI

      Lá corre em busca de aves

      A selva que lhe é cara,

      Ligeiro como a seta

      Que do arco seu dispara:

      Quando há de ele correr

      Somente para me ver.

      XII

      Lá vem do feliz bosque

      Cansado de caçar,

      Qual beija-flor que cansa

      De mil flores a beijar:

      Quando há de ele, cansado,

      Descansar a meu lado?

      XIII

      Lá entra para a gruta,

      E cai na rude cama,

      Qual flor de belas cores,

      Que cai do pé na grama:

      Quando há de nesse leito

      Dormir junto a meu peito?

      XIV

      Lá súbito desperta,

      E na piroga embarca,

      Qual sol que, se ocultando,

      O fim do dia marca:

      Quando hei de este sol ver

      Não mais desaparecer?

      XV

      Lá voa na piroga,

      Que o rasto deixa aos mares,

      Qual sonho que se esvai

      E deixa após pesares:

      Quando há de ele cá vir

      Pra nunca mais fugir?...

      XVI

      Oh bárbaro! Tu partes

      E nem sequer me olhaste?

      Amor tão delicado

      Em outra já achaste?

      Oh bárbaro! responde,

      Amor como este, aon

      de?

      XVII

      Somente pra teus beijos

      Te guardo a boca para;

      Em que lábios tu podes

      Achar maior doçura?...

      Meus lábios, murchareis,

      Seus beijos não tereis!

      XVIII

      Meu colo alevantado

      Não vale teus abraços?...

      Que colo há mais formoso,

      Mais digno de teus braços?

      ingrato! Morrerei...

      E não te abraçarei.

      XIX

      Meus seios entonados

      Não podem ter valia?

      Desprezas as delícias

      Que neles te of’recia?

      Pois hão de os seios puros

      Murcharem prematuros?

      XX

      Não sabes que me chamam

      A bela do deserto?...

      Empurras para longe

      O bem que te está perto?...

      Só pagas com rigor

      As lágrimas de amor?...

      XXI

      Ingrato! Ingrato! foge...

      E aqui não tornes mais,

      Que, sempre que tornares,

      Terás de ouvir meus ais:

      E ouvir queixas de amor,

      E ver pranto de dor...

      XXII

      E, se amanhã vieres,

      Em pé na rocha dura

      'Starei cantando aos ares

      A mal paga ternura...

      Cantando me ouviras,

      Chorando me acharás!...

      Capítulo XI: Travessuras de d. Carolina

      Mas ela não pára: o movimento é a sua vida; esteve no jardim e em toda a parte; cantou sobre o rochedo e ei-la outra vez no jardim!

      Infatigável, apenas suas faces se coraram com o rubor da agitação. Travessa menina!... Porém ela tempera todas as travessuras com tanta viveza, graça e espírito, que menos valera se não fizera o que faz. Não há um só, entre todos, de cuja alma não se tenham esvaído as idéias desfavoráveis que à primeira vista produzira o gênio inquieto de d. Carolina. O mesmo Augusto não pôde resistir à vivacidade da menina. Encontrando Leopoldo, disseram duas palavras sobre ela.

      — Então, como a achas agora?... disse Leopoldo, apontando para a irmã de Filipe.

      — Interessante, espirituosa e capaz de levar a glória ao mais destro casuísta. Olha, Fabrício vê-se doido com ela.

      — Só isto?...

      — Acho-a bonita.

      — Nada mais?...

      — Tem voz muito agradável.

      — É tudo o que pensas?...

      — Tem a boca mais engraçada que se pode imaginar.

      — Só?...

      — Só?...

      — Que mais?

      — É tão ligeira como um juramento de mulher.

      — Dize tudo de uma vez.

      — Pois que queres mais que eu diga?

      — Que a amas!... Que dás o cavaco por ela.

      — Amá-la? Não faltava mais nada! Amo-a como amo as outras.., isto sim.

      — Pois meu amigo, todos nós estamos derrotados: o diabinho da menina nos tem posto o coração em retalhos. Se, de novo, se fizer a saúde que hoje fizemos, todos, à exceção de Felipe, pronunciarão a letra C.

      — Também Fabrício?

      — Ora! Esse está doente... perdido... doido enfim! E ela?

      —


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