Paixão cruel - Três semanas em atenas. Janette Kenny

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Paixão cruel - Três semanas em atenas - Janette Kenny


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filha de mãe solteira, de «pai desconhecido», tal como dizia na sua certidão de nascimento e fora educada num internato britânico.

      – Bellamy deu-te o teu primeiro emprego no hotel de luxo Cygne em Londres. Então, já eras a amante de Peter?

      – Não! – protestou ela, com as faces acesas. – Edouard ofereceu-me uma bolsa para continuar com a minha formação, mas eu consegui o emprego através das minhas notas. Não fazia ideia de que o seu filho tinha vivido antes no apartamento que me deram.

      André não acreditava em nenhuma palavra.

      – Como conseguiu ficar com quarenta e nove por cento do Château Mystique?

      – Falaremos disso mais tarde – declarou ela, sem querer dar mais explicações.

      Virando-se, quis ir para a porta, mas os seus passos eram incertos e os seus movimentos cambaleantes. André segurou-a, alarmado com a sua palidez e a sua fraqueza.

      – Devias ter comido mais – disse ele.

      – Não teria conseguido engolir a comida.

      – Estás doente? – perguntou ele, preocupado. – Devo chamar um médico?

      – Não, a única coisa que tenho é sede e cansaço. O médico disse-me que no meu estado devia tentar beber mais e… – interrompeu-se de repente, ao aperceber-se de que falara mais do que devia.

      André fixou os seus olhos semicerrados nela.

      – Que estado?

      Kira engoliu em seco, mas não desviou o olhar.

      – Estou grávida de três meses.

      Grávida! André passou os dedos pelo cabelo. Se soubesse, se tivesse a mínima suspeita, nunca a teria obrigado a deixar o Château.

      – Claro, estás grávida de Peter.

      – Não, de Peter não – disse ela, escapando da sua mão. – Tu és o pai.

      Era mentira. Tinha de ser. Contudo, na sua mente, apareceu a imagem clara da única vez na sua vida que se esquecera de usar protecção. Desejara-a tanto que nem sequer lhe passara pela cabeça até ser demasiado tarde.

      Agora, pagaria as consequências. Se fosse verdade.

      – Quando tencionavas contar-me, ma chérie?

      – Ainda não tinha decidido – declarou ela, recriminando-se por não ter sabido guardar o segredo.

      Mas ela fora uma filha não desejada, abandonada pela sua mãe e vista pelo seu pai como uma obrigação e não ia permitir que o seu filho passasse pela mesma situação.

      – Há provas que demonstrarão se o filho que esperas é do teu amante ou…

      – Não porei o meu filho em perigo para satisfazer a tua curiosidade – interrompeu-a ela, levando uma mão protectora à barriga.

      – Mon Dieu! Achas que quero pôr a vida de um bebé em perigo?

      – Não sei – respondeu ela, sem se deixar intimidar. – Não fizeste nada para ganhar a minha confiança.

      – Está bem – admitiu André, passando uma mão pelo queixo e amaldiçoando o leve tremor que lhe agitava o braço.

      De certeza que o bebé era de Bellamy, mas também podia ser dele.

      – Para mim, o mais importante é a saúde do meu filho – disse ela e ele assentiu em silêncio. – Deixa-me voltar para o Château. Tenho de ver o meu médico regularmente…

      – Farei com que venha um obstetra de Martinica ver-te semanalmente…

      – Semanalmente? Não pensarás deixar-me aqui raptada?

      – Não raptada, mas sim, ficarás na ilha durante a gravidez.

      «Até se provar a paternidade», pensou Kira, com irritação. Petit Saint Marc seria a sua prisão durante os próximos seis meses, a menos que ela fosse capaz de derrubar o muro de ódio que André erguera. Até ela conseguir ganhar a sua confiança.

      – Não era a minha intenção deixar que descobrisses assim – disse, finalmente.

      – Perdoa-me por não acreditar em ti – disse ele, com uma gargalhada amarga, e puxou-a pelo braço. – Vamos, acompanhar-te-ei ao teu quarto.

      André não tencionava perdê-la de vista até ter total certeza de que estava grávida e de que o filho era dele.

      Kira acordou quando já amanhecera e espreguiçou-se lentamente na cama. Há muito tempo que não se sentia tão descansada e suspirou com satisfação. O rangido de uma poltrona de vime fê-la ficar tensa. Não estava sozinha. Tapou-se com o lençol até ao queixo e olhou para a poltrona.

      – Bom dia! – cumprimentou André, levantando-se e aproximando-se da cama. Lá, deixou uma caixinha na mesa-de-cabeceira. – Acho que estes testes são de confiança.

      – Queres que faça um teste de gravidez? – perguntou ela, com incredulidade.

      – Sim. E aqui sugere que se faça logo de manhã.

      Coisa que ela sabia perfeitamente, visto que já o fizera ao princípio da sua gravidez, para ser confirmado mais tarde pelo seu médico. Mas se André queria outro teste, fá-lo-ia.

      Dez minutos mais tarde, André tinha a confirmação inequívoca da gravidez.

      – Continuarás a ser minha convidada até teres o bebé.

      – Quererás dizer tua prisioneira.

      – Se quiseres chamar-lhe assim – disse ele, dirigindo-se para a porta.

      Kira não queria montar uma cena e deixar-se levar pela histeria, portanto, respirou fundo e manteve a calma.

      – Está bem, posso trabalhar com o meu portátil daqui sem nenhum problema.

      – O teu único trabalho até dares à luz é cuidares de ti e do bebé – disse ele, abrindo a porta.

      – Ainda faltam seis meses de gravidez! – protestou ela. – Se não tiver nada para fazer, ficarei louca.

      André esboçou um sorriso lento, carregado de insinuação.

      – Eu farei com que não te aborreças, ma chérie – garantiu e desapareceu.

      Kira levou os punhos às têmporas, com vontade de gritar. Se ficasse ali, acabaria por ser sua amante, mas, quando André descobrisse que era uma Bellamy, tratá-la-ia com o mesmo ódio que sentia por Edouard e Peter. E o seu filho também. Tinha de entrar em contacto com o seu advogado e descobrir quem urdira o plano para que André achasse que era cúmplice de Peter.

      Depois de tomar o pequeno-almoço, saiu para dar um passeio pelos arredores da casa. Petit Saint Marc era uma bonita prisão, um bosque tropical exuberante de diferentes tonalidades de verde e rodeado de uma franja de areias brancas. O mar turquesa prolongava-se interminavelmente para o horizonte, salpicado de vez em quando pela passagem de algum barco. Kira caminhou pela areia até à água e chegou até um recife isolado.

      Viu um guarda a patrulhar a praia e, mais perto dela, um jovem caribenho estava sobre um montículo a observar o horizonte. Kira seguiu o seu olhar e, não longe da margem, avistou um caiaque que deslizava sobre a água com aparente facilidade. Certamente, era o que o jovem esperava. Ao longe, viu também o inconfundível verde das árvores. Seria outra ilha? É claro. Provavelmente, o caiaque vinha de lá.

      Quando o caiaque chegou à margem, o rapaz de pele morena saltou para a água e, com a ajuda do outro jovem, puxou a embarcação até à areia. Depois, os dois rapazes viraram-se e desapareceram no bosque.

      Certa de que na outra ilha haveria um telefone para telefonar ao seu advogado, Kira ignorou o pânico que sentia das embarcações pequenas e aproximou-se do caiaque. Com determinação, empurrou-o até à água, dizendo para


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