Paixão cruel - Três semanas em atenas. Janette Kenny

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Paixão cruel - Três semanas em atenas - Janette Kenny


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      A paisagem que se abria à frente dela deixou-a boquiaberta. Uma selva tropical exuberante cobria as ladeiras e a cratera do vulcão extinto que dominava a ilha de Petit Saint Marc. As palmeiras desciam até à água e deixavam-se balançar pela brisa suave das Caraíbas, na qual se sentia o cheiro a sal e a fragrância embriagadora das flores exóticas que povoavam a ilha.

      – É linda – comentou ela, ao sentir a presença de André junto dela.

      – Oui – disse ele. – Vamos, faz-se tarde.

      Sem lhe pedir permissão, André pegou nela ao colo e, sem fazer caso dos seus protestos, tirou-a do iate e levou-a até um dos carrinhos de golfe que havia no barco, onde a depositou com supremo cuidado.

      Depois, tirou o casaco, arregaçou-se as mangas da camisa e sentou-se ao volante.

      Pôs o veículo a trabalhar e Kira observou o complexo turístico luxuoso com admiração. Deliciosos bangalós de telhados vermelhos adivinhavam-se meio escondidos entre a vegetação exuberante. Ao longe, viu uma pequena praia de areias brancas, onde um casal passeava de mão dada, tão nu como no dia em que chegara ao mundo.

      – Tens uma praia nudista?

      – Temos quatro praias naturais, todas são privadas e reservadas de antemão pelos nossos clientes – André esboçou um sorriso. – Na praia pública a parte de cima do biquíni é opcional. Aqui somos muito europeus.

      – Sou demasiado britânica para o apreciar.

      – Aprenderás a desfrutar disso.

      Claro que não. Ela não era como a sua mãe.

      Kira fechou os olhos para afastar as lembranças terríveis do passado da sua mente. Não, ela não era como a sua mãe. Inconscientemente, levou uma mão à barriga e acariciou-a. Aquele bebé era o seu futuro.

      O veículo seguiu o seu percurso, passando vários bangalós, e subiu pela ladeira que conduzia até uma mansão imponente no topo de uma colina. Kira cerrou os punhos e tentou dominar o terror que se apoderou dela. Não pensaria levá-la para sua casa! Mas quando o veículo continuou a avançar e chegou até uma zona na parte posterior da mansão, teve a certeza de que essa era a intenção de André.

      – Preferiria alojar-me num bangaló – disse ela.

      – Os bangalós são para os clientes – disse ele, saindo do carro e pondo a chave no bolso.

      – Está bem, pagarei como um cliente – disse ela. – Não viverei contigo.

      – Não tens outra opção, ma chérie.

      Kira saiu do veículo e encontrou-o ao seu lado, com um braço apoiado no toldo do carrinho e outro num dos postes.

      – Não serei tua amante – disse ela, desafiante.

      – Não te convidei.

      Era verdade. André não mencionara nada a respeito disso e ela devia sentir-se aliviada, não decepcionada. O que raios se passava?

      – Foi uma viagem muito comprida. Anda, ajudar-te-ei a entrar – e, sem lhe dar tempo para se afastar, André pegou nela ao colo.

      Kira quis rebelar-se, mas os seus protestos não serviram de nada. André subiu os dois degraus do alpendre com facilidade. Nesse momento, a governanta abriu a porta e sorriu.

      – Bom dia, senhor Gauthier!

      – Bom dia, Otillie! – cumprimentou ele, com toda a naturalidade, como se fosse o seu costume entrar na sua casa com uma mulher ao colo.

      Mas a mulher parou à frente dele e começou a soltar uma enxurrada de palavras em francês que Kira foi incapaz de compreender. Finalmente, a mulher levantou os braços e afastou-se, murmurando em voz baixa.

      – Passou-se alguma coisa? – perguntou Kira.

      – Otillie está zangada por não a ter avisado de que trazia uma convidada.

      – Devias ter-me deixado arrendar um bangaló.

      – Devia ter-te expulsado da ilha da primeira vez que vieste com planos de vingança – corrigiu ele, sem a soltar.

      – Porque não o fizeste? – perguntou ela, recusando-se a morder o anzol outra vez e a começar a mesma discussão sobre os seus motivos para ir à ilha.

      – Porque me intrigaste.

      Foi um sentimento mútuo. Kira nunca conhecera um homem como André. E nunca sentira uma ligação tão forte e poderosa. Para ela, fora muito mais do que sexo, embora suspeitasse que era aí que acabavam as semelhanças.

      André subiu as escadas e entrou por um corredor amplo na penumbra. Kira percebeu onde estavam. No corredor do seu quarto, o mesmo quarto onde tinham feito amor e do qual ela fugira a correr, embargada pela raiva e pela vergonha. André passou junto da porta e só parou algumas portas mais à frente, numa porta de madeira que empurrou levemente com o ombro.

      No meio do quarto havia uma enorme cama com dossel e mosquiteira que dançava suavemente sob a brisa marinha que entrava pela janela entreaberta.

      André dirigiu-se directamente para a cama e pousou-a nela com cuidado, embora a expressão do seu rosto evidenciasse a cólera que sentia por dentro.

      – Sou um homem muito zeloso da minha intimidade – disse ele depois, ao pé da cama. – Sempre mantive o meu trabalho e a minha vida íntima em privado, porém, numa só noite, tornaste a minha vida pública, para minha tristeza.

      – Eu não tive nada a ver com os paparazzi! – protestou ela, mais uma vez.

      André passou uma mão pelo cabelo.

      – Não esperava que admitisses a tua participação.

      – E tu? – perguntou ela. – Tu tens tanta culpa como eu na ruptura do teu noivado.

      André deu uma gargalhada fria e dura.

      – Tu humilhaste a minha ex-noiva com o teu comportamento.

      – Não o fiz sozinha – declarou ela, com irritação. – E não era eu que tinha um compromisso com ela.

      – Não me recordes – disse ele, cerrando os punhos e fixando o olhar nela.

      Mas Kira sempre lamentaria ser «a outra mulher», a «amante» que a imprensa cor-de-rosa decidira encontrar a todo o custo. Era um papel que jurara nunca aceitar.

      – Mas quero dizer-te que lamento profundamente o mal causado à tua noiva.

      – Não me digas? – perguntou ele, brincalhão.

      – É verdade – garantiu ela. – Se soubesse que estavas noivo, nunca teria permitido que me tocasses e muito menos que me levasses para a tua cama.

      – Ou seja, agora sou o mau da fita, por não to ter dito.

      – Porque não me disseste? – perguntou ela.

      Um silêncio tenso reinou entre ambos. André estava tão furioso que parecia capaz de a matar com as suas próprias mãos. Kira também estava furiosa consigo própria por ter seguido o conselho do seu advogado e ter ido à ilha para uma reunião com André que ele garantia com todas as suas forças que nunca marcara.

      Embora não tivessem demorado a acabar entre os lençóis, sem dúvida, André devia reconhecer que ele era tão responsável como ela, se não mais. Porque ele estava noivo de outra mulher.

      – Percebes o mal que me fizeste? – continuou ele. – Quando a nossa relação se tornou pública, a minha noiva ficou tão furiosa que retirou a oferta com que íamos unir as nossas duas empresas. Custou-me uma fortuna.

      Kira empalideceu, convencida de que estava a exagerar.

      – Falas como se o noivado fosse apenas uma fusão empresarial.

      – E era – confirmou ele. – E agora já não é nada. Por isso tens de sofrer as


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